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Último debate na Argentina tem discussão sobre Brasil e falta de plano para estabilizar economia

Massa determinou a pauta do último debate presidencial na Argentina; segundo turno é neste domingo

Foto: Luis ROBAYO / POOL / AFP
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Os candidatos à presidência da Argentina, Sergio Massa e Javier Milei, protagonizaram, na noite deste domingo 12, o último debate presidencial para o segundo turno que acontecerá no próximo dia 19. 

No evento, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA), os candidatos opuseram suas ideias por quase duas horas. No cômputo geral do debate, Massa cumpriu a sua estratégia de tentar dominar a cena, enquanto Milei se mostrou irritado ao ter de responder às sucessivas perguntas do candidato da situação.

O debate de ontem teve um formato mais livre do que os anteriores. Em cada eixo temático, Massa e Milei puderam administrar, cada um, seis minutos de fala. Logo de início, Massa listou as principais propostas de Milei, perguntando ao ultralibertário, de fato, iria cumpri-las. 

Itens como “dolarização da economia” e “fechamento do Banco Central”, por exemplo, foram pautados por Massa, que, desde o primeiro bloco, assumiu uma espécie de lugar de entrevistador. “Por sim ou por não, Javier?”, foi a pergunta principal do início do debate, o que fez com que Milei se queixasse dos questionamentos.

O primeiro e principal eixo temático foi a economia. Milei aproveitou para criticar o atual governo sobre o patamar da pobreza na Argentina – hoje, na casa dos 40% -, referindo-se a Massa, em várias oportunidades, como “ministro”. Entretanto, a inflação – o mais simbólico problema econômico atual da Argentina – não recebeu, no debate, a atenção que vinha tendo nos outros atos de campanha de Milei.

Nenhum dos dois candidatos utilizou o bloco específico sobre economia para apresentar um plano concreto de estabilização econômica. Apesar de citado, o empréstimo que a Argentina possui com o Fundo Monetário Internacional (FMI) não foi abordado de maneira a apresentar à população do país quais seriam os meios de pagamento ou negociação da dívida.

Relação com o Brasil

Apesar de olharem para questões internas, os candidatos aproveitaram para tratar da relação da Argentina com o mundo. Inclusive, o Brasil, que acabou sendo o principal ator do bloco sobre o qual os candidatos se dedicaram às relações exteriores. Sobre o assunto, Massa questionou, objetivamente, se Milei pretendia romper relações com Brasil e China (os dois principais parceiros comerciais da Argentina).

O ultralibertário se esquivou de responder sobre um possível rompimento de relações diplomáticas, lançando mão da sua tese de que o comércio exterior deve ser protagonizado pela iniciativa privada (empresas exportadoras, por exemplo), com mínima interferência do governo.

“Você pertence a um governo em que Alberto Fernández não falava com Bolsonaro. Que problema tem em eu falar ou não com [o presidente] Lula [PT]?”, questionou Milei, sugerindo a ideia de que, caso seja eleito, dará um passo atrás na relação entre os dois países. Massa, por vez, recordou que, quando ainda era deputado, visitou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, e que a proposta de Milei é um “preconceito ideológico”.

“Acho que o que você não está querendo dizer para as pessoas é que, por preconceito ideológico, você vai deixar dois milhões de argentinos sem trabalho. A ruptura do Mercosul, das relações com o Brasil e com a China, representam dois milhões de empregos a menos e um impacto nas exportações argentinas de 28 bilhões de dólares. A política externa não pode ser regidas por caprichos, por ideologia; devem ser regidas por interesse nacional”, resumiu Massa.

O que estava em jogo no debate

Dado o alto nível de cristalização dos votos na eleição na Argentina, os dois candidatos encararam o debate de ontem sabendo que o objetivo principal era convencer os eleitores indecisos o que, faltando uma semana para a votação, ainda não sabem se vão mesmo votar.

Nesse sentido, Massa buscou se distanciar da ala mais kirchnerista da sua coalizão. Por duas vezes, lembrou a Milei que o debate de ontem não dizia respeito a “Macri ou Cristina [Kirchner]”, mas a eles dois. Também por conta do papel dos indecisos na campanha, Massa, em mais de uma oportunidade, aproveitou para ressaltar os riscos institucionais de um eventual governo Milei.

O ultralibertário, por sua vez, ressaltou as suas críticas à ‘casta’ do país, fazendo referência aos grupos de interesse que, segundo ele, levam a Argentina às sucessivas crises econômicas. Além disso, buscou, permanentemente, ligar Massa ao atual governo. “Seu governo” foi uma expressão sempre ressaltada por Milei.

Reações

A máxima política que diz que tão importante quanto o debate é a maneira como ele repercute na opinião pública também se fez presente no caso argentino. A maior parte da imprensa do país, mesmo aquela mais ligada a setores tradicionais de direita, reconheceram Massa como vencedor do debate. 

Andrei Roman, responsável pela pesquisa Atlas/Intel, publicou na rede X – antigo Twitter -, logo após o debate, que “Massa venceu o debate. E Milei perdeu. De todas as fraquezas de Massa que Milei poderia ter explorado, ele não aproveitou nenhuma”. 

“Este foi um debate tão ruim para Milei que levanta a questão de saber se a liderança tinha nas últimas pesquisas da Atlas […] se manterá até o dia da votação”, explicou Roman. De acordo com a mais recente pesquisa do instituto, Milei lidera as intenções de voto com 48,6%, contra 44,6% de Massa e 6,7% de eleitores que vão votar em branco, nulo ou não sabem. Segundo ele, porém, Milei não “gerou medo” na noite de ontem.

Na manhã desta segunda-feira 13, Milei acusou Massa de mostrá-lo como alguém “desequilibrado, que não está capacitado para governar”. Segundo o ultralibertário, Massa foi “muito agressivo e teve frases muito ofensivas” sobre ele. 

A campanha rumo à Casa Rosada segue nesta última semana, com os últimos atos em cidades da Argentina.

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