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UE e Celac tentam retomar diálogo interrompido

A ilusão inicial geral era de que a cúpula também serviria de cenário para um anúncio do lento acordo comercial entre a UE e o Mercosul, mas essa esperança foi coberta por uma densa nuvem de incertezas.

Lula está no comando do Mercosul e Pedro Sanchez, da Espanha, lidera a União Europeia. Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Os países da União Europeia (UE) e os da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) celebram na próxima segunda e terça-feira uma reunião de cúpula de dois dias em Bruxelas na tentativa de retomar um diálogo interrompido.

A última cúpula deste tipo aconteceu em 2015, e agora as duas partes correm contra o relógio para recuperar uma difícil interação.

Depois desta cúpula, a UE mergulhou em problemas internos como a gestão da grave onda migratória de 2015-2016, o Brexit, a pandemia de coronavírus e finalmente a guerra na Ucrânia, que gerou também um forte crise energética.

Neste cenário, as relações europeias com a região do outro lado do Atlântico ficaram em compasso de espera, e agora as capitais tentam recuperar o tempo perdido.

“Durante todos estes anos, na região da América Latina e Caribe tentou manter os canais de diálogo, mas os europeus simplesmente estavam ocupados demais”, disse um diplomata latino-americano que pediu anonimato.

Essa reaproximação, no entanto, não está livre de dificuldades.

A UE espera dar a essa relação uma estrutura permanente, mas a Celac não possui o nível de institucionalização da UE, e por isso a ideia ainda exigirá muitas horas de negociações.

O texto das conclusões da cúpula tem sido objeto de discórdias desde o início das negociações. A principal é a sugestão dos europeus de mencionar a guerra da Ucrânia no documento, uma delicada questão na qual os dois blocos não têm posições totalmente alinhadas.

Uma fonte sul-americana disse à AFP que os países da Celac entendem a “sensibilidade” do tema, mas apontou que a contraparte europeia também deveria compreender que os países latino-americanos e caribenhos têm também posições diferentes.

Tensões

A própria organização da cúpula foi objeto de tensões. O chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, denunciou em um vídeo a “falta de transparência e a conduta manipuladora” da UE. “Resta pouco tempo, mas ainda não é tarde demais para evitar um fracasso”, advertiu.

Já a chancelaria da Venezuela apoiou as queixas de Rodríguez e afirmou que “a decisão da UE de impor seu próprio formato” à cúpula “ameaça levar ao fracasso os esforços realizados para sua organização”.

Os dirigentes presentes deverão discutir temas como a reforma na composição do sistema financeiro internacional, o combate às mudanças climáticas, a segurança dos cidadãos e as transições energética e digital.

No entanto, o especialista Christopher Sabatini, do laboratório de ideias Chatham House, disse que ficará “surpreso se houver algo de substancial além, talvez, de algumas declarações sobre meio ambiente (…) ou de aumentar fundos para iniciativas de desenvolvimento”.

Em sua visão, o problema central é que “a Celac não é realmente uma organização. Falta um órgão institucional, não tem padrões e marco normativo para adesão e não tem posições comuns sobre nada substancial”.

Esta cúpula era um desejo que foi promovido, dentro da UE, principalmente pela Espanha, com o apoio de Portugal.

A Espanha assumiu em 1º de julho a presidência semestral rotativa do Conselho da UE, e há pelo menos um ano aspira que esta cúpula se torne um dos legados de seu mandato no bloco europeu.

Um diplomata espanhol disse que será “uma cúpula política, não uma cúpula de negociações”.

Mercosul

A ilusão inicial geral era de que a cúpula também serviria de cenário para um anúncio do lento acordo comercial entre a UE e o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), mas essa esperança foi coberta por uma densa nuvem de incertezas.

Esse acordo entre os dois blocos foi anunciado em 2019, mas seguiu em ponto morto devido à falta de ratificação, e, com a chegada do político de extrema-direita Jair Bolsonaro ao poder no Brasil, os europeus passaram a exigir do Mercosul compromissos com a proteção ambiental. Este capítulo segue sendo objeto de duras negociações.

Ainda assim, a UE espera anunciar o início do processo de ratificação dos acordos atualizados da UE com Chile e México.

Um alto diplomata da UE na América do Sul disse que um dos objetivos da cúpula é definir uma “diretriz política”.

Simultaneamente à reunião de presidentes, será realizada em Bruxelas a Cúpula dos Povos, organizada por quase cem entidades da sociedade civil, partidos políticos e organizações não governamentais dos dois lados dos Atlântico.

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