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Ucrânia retoma exportações de grãos após Rússia voltar a acordo

O país russo voltou ao acordo mediado pela ONU e pela Turquia para estabelecer um corredor marítimo seguro no Mar Negro

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Foto: Sergei Supinsky/AFP
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As exportações de grãos ucranianos foram retomadas, nesta quarta-feira 2, depois que a Rússia voltou ao acordo mediado pela ONU e pela Turquia para estabelecer um corredor marítimo seguro no Mar Negro.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ao Parlamento que as exportações de grãos seriam retomadas nesta quarta-feira até o meio dia através do corredor, depois de um telefonema entre os ministros da Defesa turco e russo.

O Ministério da Defesa russo confirmou seu retorno ao acordo após receber “garantias por escrito” da Ucrânia sobre a desmilitarização do corredor usado para o transporte de grãos.

“A Rússia considera que as garantias que recebeu até agora parecem suficientes e retoma a aplicação do acordo”, declarou o Ministério em comunicado.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, outro garantidor do acordo, “celebrou” a decisão da Rússia.

Desde que o pacto foi estabelecido, cerca de 10 milhões de toneladas de grãos ucranianos foram exportados pelo Mar Negro.

O acordo permitiu aliviar a crise alimentar global desencadeada após a invasão da Ucrânia pela Rússia no final de fevereiro.

Sob os termos do acordo, os navios que entram e saem da Ucrânia são inspecionados por uma equipe conjunta de funcionários turcos, da ONU, ucranianos e russos.

Mas Moscou anunciou no sábado a suspensão de sua participação por tempo indefinido depois de acusar a Ucrânia de um ataque “maciço” à sua frota do Mar Negro ancorada na Crimeia.

Uma série de telefonemas nos últimos dias entre autoridades russas e turcas, incluindo um na terça-feira entre Erdogan e o presidente russo Vladimir Putin, e a mediação da ONU, parecem ter convencido Moscou a reconsiderar sua posição.

No entanto, Putin advertiu que a Rússia se reserva ao direito de “retirar-se” do acordo ” em caso de violações dessas garantias”, oferecidas pela Ucrânia.

Ameaças nucleares

Em meio a tensões diplomáticas, os temores de um possível ataque nuclear à Ucrânia se intensificaram depois que o governo dos EUA se declarou “cada vez mais preocupado com a possibilidade” de isso acontecer, segundo o porta-voz da Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby.

Algumas declarações que se seguiram à informação apareceram no New York Times, segundo as quais, líderes militares russos haviam discutido recentemente a possibilidade de usar uma arma nuclear tática na Ucrânia, ou seja, uma bomba menos poderosa que uma ogiva nuclear clássica.

O porta-voz do Kremlim, Dmitri Peskov, descreveu como “irresponsável” nesta quarta-feira o comportamento da mídia ocidental que “deliberadamente exagera na questão das armas nucleares”.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse em nota que “a maior prioridade é evitar qualquer confronto militar entre potências nucleares”, algo que teria “consequências catastróficas”.

Recentemente, a Rússia acusou a Ucrânia de tentar se equipar com uma “bomba suja”, acusações que Kiev e seus aliados ocidentais rejeitaram, considerando que Moscou poderia usá-la como pretexto para uma escalada militar, diante das dificuldades enfrentadas por suas tropas no terreno.

“Nos acostumamos”

No front, o Estado-Maior ucraniano relatou combates, principalmente no leste, e bombardeios de 25 cidades no leste, centro e sul.

O governador da região leste de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, reportou a morte de quatro civis nas últimas 24 horas.

Jornalistas da AFP observaram uma destruição significativa na cidade de Bilozirka, na frente de Kherson, no sul, a capital regional onde as forças russas fortaleceram posições diante de um ataque ucraniano.

Em Bilozirka, as forças russas estão atirando do extremo sul da estrada, onde se entrincheiraram desde que fugiram da cidade em março.

“No começo, pensamos que em algum momento isso iria acabar. Mas agora parece normal. Já nos acostumamos com isso”, disse uma jovem habitante, Angelika Borysenko, 20 anos.

A Rússia respondeu ao suposto ataque à sua frota na Crimeia na segunda-feira com uma série de bombardeios maciços contra infraestruturas essenciais da Ucrânia, causando cortes de energia e água, especialmente na capital Kiev.

A operadora ucraniana Ukrenergo anunciou novas restrições de eletricidade nesta quarta, e o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, prometeu implantar mil pontos de aquecimento para que os habitantes enfrentem o inverno.

Zelensky informou que os ataques russos danificaram 40% das instalações de energia da Ucrânia, levando o país a interromper as exportações para a UE, onde os preços estão subindo.

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