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Tribunal condena opositor russo Vladimir Kara-Murza a 25 anos de prisão

O tribunal anunciou que Kara-Murza é culpado de “alta traição”, divulgação de “informações falsas” sobre o exército russo e trabalho ilegal para uma organização “indesejável”

Vladimir Kara-Murza Foto: Moscow City Court press service / AFP
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Um tribunal de Moscou condenou nesta segunda-feira (17) o opositor Vladimir Kara-Murza a 25 anos de prisão por várias acusações, incluindo a de “alta traição”, em um momento de intensa repressão na Rússia durante o conflito na Ucrânia.

Kara-Murza, muito próximo do opositor Boris Nemtsov, que foi assassinado em 2015, era uma das últimas vozes críticas ao Kremlin que não estava preso ou exilado no exterior.

Após um julgamento a portas fechadas, o tribunal anunciou que Kara-Murza é culpado de “alta traição”, divulgação de “informações falsas” sobre o exército russo e trabalho ilegal para uma organização “indesejável”.

Com todas as acusações, ele foi condenado a uma pena acumulada de 25 anos de prisão em uma colônia penal de regime severo, o que implica condições de reclusão mais estritas. O Ministério Público havia solicitado esta condenação.

O opositor de 41 anos deu um breve sorriso ao ouvir a condenação dentro da cela em que estava no tribunal. Também gesticulou para pedir que seus apoiadores escrevam para ele na prisão.

A ONU e os governos da Alemanha e do Reino Unido criticaram a condenação e pediram a “libertação imediata” do opositor, que também tem nacionalidade britânica.

Uma de suas advogadas, Maria Eismon, anunciou que Kara-Murza vai apresentar recurso e denunciou “violações processuais graves” durante o julgamento, de acordo com agências de notícias russas.

Em declarações no dia 10 de abril, o opositor destacou que estava “orgulhoso” de seu compromisso político.

“Não só não me arrependo de tudo isso, como estou orgulhoso”, disse, de acordo com declarações publicadas pelo jornalista Alexei Venediktov.

“Também sei que chegará um dia em que as trevas que cobrem nosso país se dissiparão (…)  quando aqueles que instigaram e provocaram esta guerra (na Ucrânia) serão tachados de criminosos, e não aqueles que tentaram impedi-la”, acrescentou.

Prisão ou exílio

Em prisão provisória desde abril de 2022, Kara-Murza ficou à beira da morte depois de se envenenado em duas ocasiões, em 2015 e 2017, ações que ele atribui ao governo russo.

De acordo com um de seus advogados, Vadim Prokhorov, o opositor sofre de polineuropatia e patologias neuromusculares devido aos dois envenenamentos.

De acordo com a agência russa de notícias TASS, Kara-Murza, que foi declarado “agente do exterior” pelas autoridades, foi acusado de “alta traição” por ter criticado o governo em discursos públicos em países ocidentais.

O opositor pediu que Estados Unidos, Canadá e países da Europa adotassem sanções contra autoridades russas pelas graves violações dos direitos humanos que cometeram.

Kara-Murza, vencedor em 2022 do prêmio de direitos humanos Vaclav Havel, concedido pelo Conselho de Europa, também trabalhou para a organização ‘Open Russia’ do ex-oligarca no exílio e crítico do Kremlin Mikhaail Khodorkovski, declarada “indesejável” pelas autoridades russas em 2017.

A acusação de divulgação de “informações falsas” sobre o exército é baseada na lei adotada após o início da ofensiva contra a Ucrânia, que permite reprimir qualquer notícia que as autoridades considerem falsa.

Praticamente todos os opositores russos foram condenados a penas de prisão severas ou foram obrigados a abandonar o país nos últimos anos.

O mais famoso deles, o ativista anticorrupção Alexei Navalny, foi detido no início de 2021 e condenado a nove anos de prisão por fraude. Ele foi detido ao retornar à Rússia depois de ter sido envenenado, um ataque que atribuiu ao Kremlin.

O advogado de Navalny, Vadim Kobzev, expressou preocupação com a saúde do opositor de 46 anos que, segundo ele, sofre de uma “doença desconhecida” e não está recebendo atendimento médico.

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