Mundo

Saiba o que está em jogo no segundo turno de eleição para presidente do Equador

Daniel Noboa e Luisa González se enfrentam nas urnas neste domingo

Fotos: Galo PAGUAY e Marcos PIN / AFP
Apoie Siga-nos no

O Equador vai às urnas neste domingo (15) para definir quem continua o mandato do presidente Guillermo Lasso que, para evitar uma destituição, dissolveu o Parlamento numa manobra constitucional que implica sacrificar o próprio cargo. Assim, o próximo presidente estará no poder apenas até maio de 2025, um tempo limitado para aplicar medidas de transformação.

Embora o Equador tenha problemas econômicos acentuados como um elevado déficit fiscal, desemprego e êxodo de equatorianos para o exterior, o assunto que marcou esta campanha foi a inédita e crescente violência que inclui diversos atentados a políticos. Tanto eleitores quanto candidatos foram tomados pelo medo.

As pesquisas apontam para uma vitória apertada do empresário Daniel Noboa, de apenas 35 anos, sobre a candidata Luisa González, representante do ex-presidente Rafael Correa. Mas as sondagens não registram os últimos 10 dias de reta final, deixando dúvidas sobre o comportamento dos indecisos.

O que está em jogo nesta eleição atípica

Pela primeira vez, um presidente aplicou o recurso constitucional conhecido como “morte cruzada”, através do qual Guillermo Lasso dissolveu o Parlamento, de maioria opositora, para evitar a votação de um “impeachment” por suposta corrupção, que ele nega.

Mas a manobra do presidente Lasso de matar o Parlamento significa a própria morte política. O governo foi obrigado a convocar novas eleições tanto para os deputados quanto para presidente. Os novos mandatos durarão apenas 15 meses, de dezembro deste ano até maio de 2025.

Como explica o analista político Fernado Carrión, o próximo presidente poderá tentar a reeleição e é sempre mais fácil continuar no poder do que ser eleito pela primeira vez. Além disso, os dois candidatos, Daniel Noboa e Luisa González, eram desconhecidos até a campanha para as eleições.

Se Luisa González ganhar, isso significa a volta ao poder do chamado “correísmo”, corrente do ex-presidente Rafael Correa, hoje asilado na Bélgica. Aliás, o próprio Correa poderia voltar ao país, onde está condenado a oito anos de prisão por corrupção. Por isso, o Equador está dividido entre “prós” e “contra” Rafael Correa.

O que dizem as pesquisas de intenção de voto

As pesquisas de intenção de voto dizem que a maioria da sociedade é contrária à volta do “correísmo” ao poder. No entanto, no primeiro turno, em 20 de agosto, Luisa González, ganhou com 33,6% dos votos, dez pontos acima de Daniel Noboa, com 23,6%. O partido do ex-presidente Revolución Ciudadana, também se manteve como a primeira força no Congresso do Equador.

No segundo turno, a soma dos candidatos anti-Correa dá a Noboa uma vantagem de até 11 pontos sobre Luisa González. Mas segundo as pesquisas, essa vantagem diminuiu a apenas 5 pontos, depois do debate eleitoral do dia primeiro de outubro.

Como avaliou o analista Fernando Carrión, “Luisa González foi bem melhor no debate. Foi clara, concisa e segura. Daniel Noboa foi inseguro, dubitativo e lia as respostas.”

Apesar disso, Fernando Carrión acha que não é suficiente para uma virada. Ele acredita numa vitória apertada de Daniel Noboa.

As pesquisas só podem ser divulgadas até o dia 5 de outubro, dez dias antes das eleições. O comportamento dos indecisos é uma incógnita que pode surpreender.

Quem são os candidatos

Os dois candidatos eram deputados no Parlamento que Guillermo Lasso dissolveu, o que significa que o próximo presidente virá do alvo do ex-presidente.

Luisa González é do partido Revolución Ciudadana, expoente do chamado Socialismo do século do XXI, considerado populista para uns e progressista para outros.

Daniel Noboa, é um candidato de centro-direita, enquanto sua aliança, ADN, se define como de centro-esquerda. O jovem economista é filho do magnata Álvaro Noboa, o homem mais rico do Equador, quem tentou chegar à Presidência cinco vezes e foi derrotado por Rafael Correa em 2006. Agora o filho pode derrotar o “correísmo” na sua primeira tentativa.

Os dois prometem as mesmas coisas: segurança e emprego, respectivamente, as duas principais preocupações dos equatorianos. Mas Noboa promete linha dura.

Ciente de que a maioria da população tem medo da volta do “correísmo” ao poder, neste segundo turno, Luisa González procurou mostrar autonomia de Rafael Correa. Para isso, buscou mostrar mais o seu lado familiar, religioso e feminino. A candidata é contra o aborto, mesmo em caso de estupro.

Já Daniel Noboa defende a redução de impostos para gerar novas empresas e empregos.

Assassinato de candidato

No dia 9 de agosto, o candidato a presidente Fernando Villavicencio foi assassinado na saída de um comício. Como Villavicencio era inimigo de Rafael Correa, muitos acreditaram na teoria da conspiração que associa o “correísmo” com a violência, principalmente depois que um dos envolvidos no crime acusou o ex-presidente.

O medo de um novo atentado atravessou toda a campanha. Os candidatos evitaram exposições públicas em palanques, optando pelas redes sociais onde também estão os jovens que votam em Daniel Noboa e que Luisa González quer conquistar.

O Equador tem vivido dias de comoção não só após o assassinato de Fernando Villavicencio, mas com outros 13 atentados, só neste ano contra políticos, promotores, juízes e diretores de penitenciárias. O país não conhecia esse nível de violência, era relativamente seguro até cinco anos atrás.

O número de homicídios em 2022 praticamente duplicou com relação a 2021 e neste ano, o país deve se tornar o mais violento da América Latina, superando a Venezuela, que lidera a lista.

Com vários portos no Pacífico para escoar drogas, com forças de segurança vulneráveis à corrupção e com uma economia dolarizada, o Equador, repentinamente, tornou-se o alvo dos carteis da Colômbia e do México com extorsões, sequestros e assassinatos.

Por exemplo, na semana passada, numa provável queima de arquivo, os sete suspeitos de terem participado do assassinato do candidato Fernando Villavicencio, seis deles colombianos, foram executados nas penitenciárias onde estavam presos.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo