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Reconhecimento de genocídio armênio aprofunda crise entre EUA e Turquia

Presidente turco Recep Tayyip Erdogan declarou que o reconhecimento pela Câmara de Representantes dos EUA “não tem nenhum valor”

Autoridades prestam homenagem em memorial dedicado às vítimas do genocídio armênio. Local foi construído em 1967 na colina de Tsitsernakaberd, em Yerevan, Armênia - Foto: Karen Minasyan/AFP
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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou nesta quarta-feira 30 que o reconhecimento do “genocídio armênio” pela Câmara de Representantes dos Estados Unidos “não tem nenhum valor”. Insatisfeita com a decisão, a Turquia convocou o embaixador americano na capital Ancara, em sinal de protesto.

O reconhecimento do genocídio, quando entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de armênios morreram na Primeira Guerra Mundial nas mãos de tropas do Império Otomano, acontece em um momento delicado das relações entre a Turquia e os Estados Unidos.

Desde o início da ofensiva militar turca contra os curdos da Síria – que foram aliados dos americanos no país em guerra –, Washington e Ancara vivem um gelo diplomático.

Na terça-feira 29, a Câmara de Representantes americana também adotou sanções contra autoridades turcas em relação à operação na Síria. Os congressistas americanos admitiram, por ampla maioria, a ocorrência do “genocídio armênio”, durante votação que provocou aplausos no plenário. Foi a primeira vez que uma resolução sobre este tema foi submetida a uma votação em plenário em uma das Casas do Congresso americano.

Trinta países e a maioria dos historiadores reconhecem o genocídio armênio, negado pela Turquia. O Império Otomano era aliado da Alemanha e do Império austro-húngaro na Primeira Guerra Mundial.

“Endereço-me ao público americano e ao resto do mundo: esta medida não tem nenhum valor, não a reconhecemos”, declarou Erdogan durante um discurso perante os deputados do seu partido em Ancara.

Aprovação por ampla maioria

O embaixador David Satterfield foi convocado ao ministério das Relações Exteriores turco pela “decisão sem fundamentos jurídicos adotada pela Câmara de Representantes”, indicaram fontes à agência AFP. O texto não-vinculante, aprovado por 405 votos contra 11, convoca a “lembrar o genocídio armênio” e a “rejeitar as tentativas de associar o governo americano à negação do genocídio armênio”.

A Turquia prefere adotar a versão segundo a qual massacres recíprocos aconteceram na época, em um contexto de guerra civil e fome, que deixou centenas de milhares de mortos nos dois lados. O governo turco considerou a posição dos deputados americanos inapropriada, em um momento de “extrema fragilidade” no campo da segurança.

“Como um passo político sem sentido, orienta-se unicamente ao lobby armênio e aos grupos anti-Turquia”, destacou a chancelaria turca em nota oficial.

Armênia elogia decisão prometida desde Obama

Já o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, elogiou a decisão, que qualificou de “passo corajoso em direção à verdade e à justiça histórica, que também oferece consolo aos milhões de descendentes dos sobreviventes do genocídio”.

“A Armênia agradece profundamente aos membros da Câmara de Representantes por sua votação impressionante (…), que demonstra fidelidade infinita à verdade, à justiça, humanidade, solidariedade e aos valores universais dos direitos humanos”, afirmou o ministério armênio das Relações Exteriores em um comunicado.

Em abril de 2017, pouco depois de assumir a Casa Branca, o presidente Donald Trump definiu o massacre dos armênios, em 1915, como “uma das piores atrocidades de massa do século 20”, embora tenha evitado usar a palavra “genocídio”. Ancara demonstrou sua insatisfação na ocasião e criticou a “desinformação” do presidente americano.

Antes de ser eleito em 2008, seu antecessor, Barack Obama tinha se comprometido a reconhecer o genocídio, embora não o tenha feito em seus dois mandatos na presidência.

*Com informações da AFP

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