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Protesto juvenil do Chega marca homenagem a Lula no 25 de abril

O “surpreendente” protesto prometido pelo líder da legenda, André Ventura, faria corar de vergonha qualquer estudante secundarista

Discurso de Lula no Parlamento português foi marcado por intensos aplausos gerais e protestos da extrema-direita. Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP
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*de Lisboa, Portugal

O Chega conseguiu a façanha de transformar o imponente plenário do Parlamento português em uma assembleia estudantil.

O pueril protesto dos deputados do partido de extrema-direita contra a homenagem ao presidente Lula – durante um evento paralelo às comemorações do 25 de Abril – começou com o que pretendia ser uma entrada apoteótica.

O Chega queria chegar chegando, mas não deu certo. Os 12 parlamentares ocuparam seus lugares, em fila indiana, segundo antes de o brasileiro tomar assento na tribuna, mas o desfile mereceu pouca atenção da plateia. Calaram-se ao longo do discurso do presidente da casa, Augusto Santos Silva. Nem as citações ao sofrimento ucraniano quebraram o gelo dos decididos extremistas.

O comportamento mudou quando Lula foi chamado ao microfone. O “surpreendente” protesto prometido pelo líder da legenda, André Ventura, faria corar de vergonha qualquer estudante secundarista. Em um balé comandado por Ventura, o séquito de 11 deputados levantou cartazes com as bandeiras da Ucrânia e duas frases de efeito: “Chega de Corrupção” e “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”.

A cada aplauso ao petista, os “rebeldes” respondiam com tapas na mesa. Em dois ou três momentos, o presidente brasileiro teve de esperar o fim da performance para retomar o discurso. A bronca de Santos Silva, que pediu respeito ao convidado e ao Parlamento, entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

A malcriação juvenil acabou, no fim das contas, por produzir o efeito inverso. Cansados das intervenções do Chega, parlamentares do PSD, de centro-direita, até então em uma postura de calculado distanciamento, uniram-se aos colegas de esquerda nos apupos entusiasmados a Lula no encerramento da homenagem. Enquanto os convidados deixavam a sessão, integrantes do Partido Socialista entoaram a canção “Grândola, Vila Morena”, símbolo daRevolução dos Cravos de 25 de abril de 1974.

Lula no imponente plenário do Parlamento português.
Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

Terceira força política do país, o Chega vislumbrou na homenagem a Lula na data que marca o fim da ditadura salazarista uma oportunidade para se autopromover e alavancar uma reunião de líderes extremistas em Lisboa prevista para maio. Ventura pretende reunir na capital portuguesa Jair Bolsonaro, a francesa Marine Le Pen, o italiano Matteo Salvini e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entre outros. Na noite da segunda-feira 24, em entrevista à CNN local, o líder do Chega foi tomado por um delírio de grandeza. A sessão do dia seguinte dedicada ao brasileiro, afirmou, não passava de “provocação” a seu partido.

O discurso de Lula no 25 de abril, o primeiro de um chefe de Estado estrangeiro na data festiva, provocou certa celeuma na comunidade política portuguesa por causa da inabilidade de Santos Silva, que anunciou o convite ao petista antes de submeter a ideia aos pares na Assembleia da República. Representantes da Iniciativa Liberal, equivalente trasmontano do Partido Novo, boicotou o evento. Durante boa parte da sessão, deputados do PSD permaneceram em silêncio, salvo nas menções à guerra da Ucrânia, fonte de divergência diplomática entre Brasil e Portugal, e em reação ao flash mob organizado pela bancada do Chega.

Na saída do Parlamento, Lula agradeceu a “extraordinária” recepção em Portugal. A jovem deputada Rita Matias, do Chega, com um cravo negro nas mãos, em rápida conversa com jornalistas brasileiros, justificou assim a encenação no plenário: “Foi uma decisão natural dos integrantes do partido, desconfortável com a vassalagem do Parlamento ao presidente brasileiro”. Matias repetiu os argumentos de bolsonaristas e lavajatistas. Não há certeza, afirmou, da inocência de Lula, beneficiado pela interferência política no Poder Judiciário. Sobre a visita de Bolsonaro em maio, que nunca pisou no país ao longo de quatro anos de mandato, a deputada disse: “É uma figura acarinhada pelos portugueses”.

Do lado de fora, apoiadores de Lula e adeptos do Chega foram mantidos em ruas diferentes. Os petistas ficaram atrás da Assembleia da República, os detratores, em uma viela lateral à entrada do prédio. A quantidade de manifestantes dos dois lados se equivalia em número e estridência. Não há números oficiais, mas é possível calcular que cada parte reuniu cerca de mil ativistas. Um fiasco, em especial para Ventura, que havia prometido semanas a fio organizar o maior protesto “desde sempre” contra um chefe de Estado em visita a Portugal.

Sem notar as manifestações de rua, Lula deixou a Assembleia da República e seguiu direto ao aeroporto. No início da tarde, o presidente brasileiro embarcou rumo à Espanha, onde cumpre agenda ainda hoje e amanhã, antes de retornar ao Brasil e encarar os seus próprios extremistas.

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