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Primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar renuncia

As próximas eleições legislativas deverão ocorrer no final de março de 2025, mas a demissão do primeiro-ministro poderá suscitar pedidos para que a data seja antecipada, especialmente depois do recente fracasso do referendo

O primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, fala durante um jantar de banquete em homenagem ao presidente dos EUA, Biden, no Castelo de Dublin, em 13 de abril de 2023. Leo Varadkar anunciou em 20 de março de 2024 que estava deixando o cargo de primeiro-ministro da Irlanda e líder do Fine Partido Gael na coligação governamental por razões pessoais e políticas. “Estou renunciando à presidência e liderança do Fine Gael e renunciarei ao cargo de Taoiseach assim que meu sucessor puder assumir esse cargo”, disse Varadkar emocionado a repórteres em Dublin. (Foto de Jim WATSON/AFP)
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O primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, anunciou nesta quarta-feira (20) sua renúncia como chefe de Governo da coalizão de centro-direita e afirmou que não acredita mais ser “a pessoa adequada para o cargo”.

O político de 45 anos, visivelmente emocionado, alegou motivos “tanto pessoais como políticos” ao anunciar a saída, em uma declaração à imprensa, um ano antes da data prevista para as próximas eleições.

“Renuncio à presidência e à direção do (partido de centro-direita) Fine Gael e renunciarei como primeiro-ministro assim que meu sucessor possa assumir o cargo”, afirmou em Dublin.

Leo Varadkar era chefe de Governo desde dezembro de 2022.

Em 2017, quando tinha 38 anos, o médico de ascendência indiana e gay se tornou o primeiro-ministro mais jovem de uma Irlanda que sempre teve a reputação de país muito conservador.

– Governo de coalizão –

Entre 2020 e 2022 ele cedeu o posto a Micheal Martin, líder do outro partido que integra a coalizão, Fianna Fáil, que atualmente é ministro das Relações Exteriores.

“Eu tive o privilégio de ocupar cargos públicos durante 20 anos, 13 deles no governo e sete como líder do meu partido, a maior parte como primeiro-ministro deste grande país”, disse Leo Varadkar.

No entanto, ele admitiu que “depois de sete anos no cargo (à frente do seu partido), já não tenho a impressão de ser a pessoa adequada para o cargo”.

“Os políticos são seres humanos e têm seus limites”, acrescentou. “Fazemos tudo até não aguentar mais e temos que virar a página”, explicou.

A saída de Varadkar acontece após o fracasso do referendo de 8 de março, proposto pelo governo, para modificar as referências às mulheres e à família na Constituição, redigida em 1937.

A primeira pergunta da consulta popular propôs a ampliação do conceito de família para estendê-lo além da base do casamento, incluindo “relações duradouras”, como casais que não são casados oficialmente e seus filhos.

Porém, 67,69% dos eleitores votaram “Não” para esta primeira pergunta.

A segunda pergunta, rejeitada por 73,9% dos eleitores, apresentava a proposta para eliminar uma referência ultrapassada ao papel das mulheres no âmbito doméstico, que afirma que elas devem cumprir com “suas obrigações” no lar.

A votação serviu para expressar o descontentamento da população deste país de cinco milhões de habitantes, após o governo ter sido acusado de ter preparado mal o terreno, embora quase toda a classe política tenha manifestado o seu apoio a estas alterações.

“Tenho orgulho de ter tornado o país mais igualitário e mais moderno”, insistiu Leo Varadkar, defendendo sua trajetória, citando os direitos das crianças, da comunidade LGBTQ+ e das mulheres.

Formados em lados opostos durante a guerra civil do início do século XX, os dois partidos de centro-direita (Fine Gael de Varadkar e Fianna Fáil de Martin) implementaram uma rotatividade à frente do governo como parte de uma coligação com os Verdes após as eleições de 2020.

– Brexit e pandemia –

As próximas eleições legislativas deverão ocorrer no final de março de 2025, mas a demissão do primeiro-ministro poderá suscitar pedidos para que a data seja antecipada, especialmente depois do recente fracasso do referendo.

Os dois partidos de centro-direita têm atualmente cerca de 20% de intenção de voto nas pesquisas, muito atrás do partido nacionalista de esquerda, Sinn Féin.

Leo Varadkar nasceu em 18 de janeiro de 1979, filho de pai imigrante indiano, médico, e mãe irlandesa, enfermeira. Em 2003 completou seus estudos em medicina.

Seu primeiro mandato como primeiro-ministro foi marcado pela saída do Reino Unido da União Europeia e pelo início da pandemia de covid-19.

Sua atuação foi considerada eficaz na aplicação do primeiro confinamento, um dos mais rigorosos da Europa. Varadkar trabalhava como médico uma vez por semana enquanto permanecia à frente do país.

Ele também destacou seu trabalho para encontrar um acordo comercial com o Reino Unido em 2019 após o Brexit, o chamado “protocolo da Irlanda do Norte”, para evitar o restabelecimento de uma fronteira na ilha.

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