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Previsão de Cristina sobre eleições se confirma e peronismo corre para mudar a rota

Encorajado pelo desempenho nas primárias, Javier Milei insiste nas bravatas, enquanto Sergio Massa e Patricia Bullrich redesenham estratégias

Javier Milei, Patricia Bullrich e Sergio Massa. Foto: AFP
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No segundo dia após o robusto desempenho do ultradireista Javier Milei nas eleições primárias da Argentina, os candidatos dos principais partidos do país calculam as mudanças de rota necessárias para fazer frente a um ator mais competitivo que o esperado.

O ministro da Economia, Sergio Massa, tem a dura missão de convencer o povo argentino de que, apesar de uma grave crise econômica, o peronismo tem as soluções para reverter o cenário.

Do outro lado, afinal, está Patricia Bullrich, ex-ministra de Segurança do governo de Mauricio Macri, responsável por um salto de quase trinta pontos no índice de inflação entre o início e o fim de sua gestão. Além do próprio Milei, com suas bravatas que assustam até o mercado que ele diz defender.

Uma avaliação corrente é a necessidade de ampliar a participação dos eleitores no dia da votação, em 23 de outubro. No último domingo, quase 32% dos argentinos aptos a votar não foram às urnas. E mais: houve 1,1 milhão de votos em branco e 293 mil nulos. Ou seja, há um enorme contingente de cidadãos que podem ser conquistados.

Outro detalhe relevante das últimas horas envolve a impressão de que seria melhor para Massa polarizar de vez com Milei e tentar deixar Bullrich de fora do segundo turno. Até hoje, nunca um candidato que obteve a maior votação nas primárias ficou de fora, pelo menos, do segundo turno. Além disso, é considerado improvável que dois postulantes de direita consigam passar da primeira votação.

Levando em conta apenas os candidatos (não os partidos que eles representam), Milei obteve 30% dos votos nas primárias, Massa chegou a 21% e Bullrich registrou 17%. A coalizão macrista superou por pouco a peronista com os 11% de Horacio Larreta, mas a transferência total de seus votos a Patricia Bullrich não é dada como certa.

Se muitos foram pegos de surpresa pelo desempenho de Milei nas primárias, a vice-presidenta Cristina Kirchner previu com precisão, em 18 de maio, o que ocorreu no último domingo: “Será uma eleição atípica, de terços. O que importa é, mais que o teto, o piso. Para chegar ao segundo turno”.

Sergio Massa, portanto, tentará ampliar o seu teto com os indecisos, os que não foram às urnas e uma parte dos eleitores de Larreta, visto como um personagem mais palatável que Bullrich no lado macrista.

A defesa da democracia contra a ultradireita também será um tema da campanha peronista, como ressalta desde domingo o candidato a vice-presidente na chapa de Massa, Agustín Rossi.

Ele pregou um trabalho árduo para “construir um governo de unidade nacional no qual estejam todos aqueles dispostos a defender a democracia”.

Há, porém, na avaliação de lideranças peronistas, a necessidade de promover uma autocrítica. Segundo o deputado José Luis Gioja, esse espectro político pode ter falhado na tentativa de “entender a profundidade da crise que vivemos”.

No campo macrista, Bullrich declarou após as primárias que sua disputa escancarada com Larreta prejudicou seu desempenho.

“Isso nos causou muitos danos, mas teria nos causado mais danos se o Juntos por el Cambio [partido pelo qual ela concorre] fosse uma ‘mudança sem mudança’. Portanto, hoje temos uma grande oportunidade de vencer as eleições nacionais”, disse à emissora LN+.

Questionada sobre o papel de Mauricio Macri na campanha, Bullrich se referiu ao ex-presidente como “uma pessoa de consulta permanente”. Ela admitiu, ainda, que Milei conseguiu se inserir em setores nos quais o Juntos por el Cambio sempre teve dificuldade de entrar.

Na extrema-direita, Javier Milei aproveitou o resultado de domingo para dobrar a aposta em suas bravatas, que vão da ameaça de retirada de direitos em massa à repetida defesa de uma dolarização completa da já cambaleante economia argentina.

Nesta terça, ele chegou a dizer que já recebeu um contato do Fundo Monetário Internacional e que estuda a melhor data para uma reunião com o órgão. O país ainda vive as consequências da decisão do governo Macri de, em 2018, contrair um empréstimo de 57 bilhões de dólares com o FMI, uma fatura oferecida como “legado” a Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

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