Mundo

Presidente do Peru enfrenta nova crise com greve geral nos transportes

Pedro Castillo recebeu críticas dos aliados de esquerda por responder aos protestos com ordem de toque de recolher

O presidente do Peru, Pedro Castillo. Foto: Presidencia Perú
Apoie Siga-nos no

Motoristas de diferentes setores de transporte no Peru realizam uma greve geral com bloqueios em diferentes rodovias no país, em protesto contra o governo de Pedro Castillo, nesta terça-feira 5. Os manifestantes apontam a alta no preço dos combustíveis como motivo dos atos.

A mobilização começou entre caminhoneiros no dia 28 de março e ganhou força nesta semana, depois da convocação de todas as modalidades de transporte pela organização Unión de Gremios de Transporte Multimodal del Perú.

Novas categorias aderiram à greve nacional na segunda-feira 4, como taxistas e motoristas de transporte coletivo. Segundo o presidente da UGTRANM, Geovani Diez, mais de 140 mil veículos teriam paralisado.

O governo alega que já tomou medidas para baixar o preço dos combustíveis. Em 3 de abril, Castillo anunciou o aumento do salário mínimo a partir de 1º de maio e a redução de impostos sobre o consumo dos combustíveis.

As medidas foram estabelecidas após um acordo anunciado pelo governo com os caminhoneiros que teria sido costurado em uma mesa de diálogo realizada em 2 de abril.

Na segunda-feira 4, uma das organizações de transportadores anunciou que sairia da paralisação por conta dos acordos com o governo. As soluções apresentadas, porém, ainda não contentaram a organização chefiada por Diez.

A organização ficou ainda mais irritada com a acusação de Castillo, feita em 31 de março, de que as manifestações eram mal intencionadas e comandadas por dirigentes pagos.

A imprensa local registrou quatro mortos em violentos protestos dos transportadores entre segunda e terça-feira. Na madrugada de um dia para o outro, Castillo decretou toque de recolher nas cidades de Lima e Callao por 24 horas.

O anúncio do toque de recolher foi amplamente criticado, a começar por Diez, que qualificou a decisão como “ditatorial” em entrevista à rádio Exitosa Noticias. A ordem foi questionada judicialmente pela Defensoria Pública e pela Prefeitura de Lima.

Políticos de esquerda também repudiaram o governo.

Verónika Mendoza, deputada que não pertence ao mesmo partido de Castillo, mas é uma importante aliada do presidente no Congresso, declarou que a ordem se deu de forma “arbitrária e desproporcionada”.

A posição foi reproduzida pela bancada Juntos por el Perú, constituída por cinco parlamentares que se identificam como de esquerda e costumam apoiar Castillo em demais pautas.

“O governo não só traiu suas promessas de mudança, como agora repete o método de ‘resolução de conflitos’ da direita: ignorar aqueles que se mobilizam com mal estar legítimo pela situação econômica e política, reprimir, criminalizar e restringir direitos”, escreveu a congressista.

Membros da bancada do partido do presidente, Perú Libre, também dizem reconhecer as reivindicações como legítimas, porque o governo não teria tomado medidas oportunas para reduzir a alta do preço dos combustíveis e deveria ter proposto “soluções imediatas e eficazes”.

O entendimento é de que a alta dos preços se deu pela dependência das variações do petróleo no mercado internacional, cujos impactos teriam sido agravados com a guerra da Ucrânia.

Perulibristas também atribuem o problema ao modelo econômico “rígido” que impede o fornecimento de subsídios em momentos de crise, lógica que poderia ser alterada com uma reforma constitucional.

Sobre o decreto do toque de recolher, há a compreensão de que poderias se prevenir uma escalada de violência, como a ocorrida na capital, mas que a sua adoção exigia sustentação jurídica para não afetar o direito ao protesto.

Ao mesmo tempo, integrantes da bancada mencionam a suposta infiltração da direita nas manifestações.

As suspeitas aumentaram depois que um áudio revelado na segunda-feira mostrou declaração da congressista Martha Moyano, do partido da extrema-direita fujimorista Fuerza Popular, de que a estratégia de levar Castillo ao impeachment estaria “dando resultados”.

“A greve é legítima, mas a esses justos pedidos estão se somando os golpistas”, afirmou Silvana Robles, porta-voz do Perú Libre, procurada por CartaCapital na tarde desta terça.

Com as novas mobilizações grevistas, o presidente peruano se apresentou no Congresso no início desta noite, junto ao primeiro-ministro Aníbal Torres e a outros nove chefes de ministérios. Na ocasião, decidiu anular o efeito do toque de recolher.

Tormenta incontornável

A greve nacional é mais um fator de instabilidade para o governo de Castillo, empossado em julho de 2021 após acirrada disputa contra Keiko Fujimori, filha do ex-ditador peruano Alberto Fujimori.

Nas últimas semanas, Castillo enfrentou o segundo pedido de impeachment mobilizado pela oposição no Congresso. A moção de vacância, nome do instrumento que permite a deposição presidencial, chegou mais longe dessa vez e chegou a ser aprovada para debate no plenário.

A direita, porém, não obteve os votos que precisavam para destituir o presidente. Dos 87 votos necessários, somente 55 congressistas foram favoráveis, diante de 54 contrários e 19 abstenções.

A moção de vacância se sustentava no argumento de “incapacidade moral e permanente” de Castillo para governar, em meio a sucessivos escândalos que sugerem prática de corrupção com o seu envolvimento.

O caso mais grave diz respeito à investigação sobre a empresária Karelim López, que teria obtido favorecimento irregular em licitações para obras do governo por meio de reuniões secretas no distrito de Breña.

Apesar de não ter sido deposto, Castillo tem demonstrado dificuldades para manter a estabilidade na composição do seu governo, sobretudo por anunciar demissões consecutivas no seu corpo ministerial.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo