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Por que o Catar é peça central para a libertação de reféns do Hamas
Antes mesmo do anúncio da libertação de duas cidadãs americanas, Doha se apresenta como um interlocutor privilegiado
Um grupo de potências regionais do Oriente Médio pode influenciar o Hamas a libertar os reféns mantidos em Gaza desde 7 de outubro, mas o Catar é um ator indispensável na negociação.
O grupo palestino executou há duas semanas uma ofensiva sem precedentes contra o território israelense, deixando mais de 1.400 mortos. Também levou aproximadamente 200 pessoas ao enclave como reféns.
Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisa sobre o Mundo Árabe e o Mediterrâneo, com sede em Genebra, disse à agência AFP que “não haverá negociação coletiva” e que “cada Estado terá de negociar individualmente a libertação dos seus próprios reféns”, por meio dos interlocutores habituais: Catar, Egito e Turquia.
Antes mesmo do anúncio da libertação de duas cidadãs americanas, que, segundo o Hamas, deveu-se à mediação do Catar, Doha se apresenta como um interlocutor privilegiado.
“O mediador mais complacente é o Catar, um pequeno Estado sem uma agenda regional, que não se preocupa com o uso político da mediação”, disse Abidi.
Segundo ele, o emirado “conhece bem o Hamas e lhe oferece, ao mesmo tempo, um apoio financeiro leal”. O especialista se refere ao financiamento por Doha dos salários dos funcionários da Faixa de Gaza. Além disso, o comando político do Hamas é sediado em Doha há mais de dez anos – a capital do Catar também abriga a maior base americana na região.
Nesta sexta-feira 20, após a libertação das duas mulheres, o Hamas afirmou que “trabalha com todos os mediadores envolvidos para aplicar a decisão do movimento de encerrar o caso dos [reféns] civis, se as condições de segurança apropriadas permitirem”.
“Especializaram-se na libertação de reféns”, resumiu à AFP Etienne Dignat, do Centro de Pesquisas Internacionais, com sede em Paris. Um exemplo recente é a mediação da libertação de americanos que estavam presos no Irã.
Não à toa, Jean-Yves le Drian, enviado especial da França para o Líbano, viajou ao Catar nesta semana, segundo fontes diplomáticas. O funcionário se reuniu com o ministro das Relações Exteriores para conversar sobre Israel e o Líbano, informou a agência de notícias do Catar QNA.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, também viajou a Doha, e a Alemanha pediu ajuda ao Catar para garantir a proteção dos seus reféns.
O emirado convidou os talebans a abrir um escritório em Doha, com a autorização dos Estados Unidos, para negociar a retirada das forças de Washington do Afeganistão em 2021, antes de o grupo islamita retomar o poder.
Contudo, outros pesos pesados da região buscam interferir nos diálogos. A Turquia manifestou o interesse e disse ter recebido pedidos de vários países, informou nesta semana em Beirute o chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan.
O Egito também tem um perfil conciliador, já que tem sido o medidador entre Israel e Hamas. Mas, uma vez que a questão será abordada Estado por Estado, o Hamas tem “uma carta de negociação muito poderosa”, tanto para libertar presos palestinos quanto para salvar o movimento, que Israel deseja destruir.
(Com informações da AFP)
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