Mundo

Por que o Catar é peça central para a libertação de reféns do Hamas

Antes mesmo do anúncio da libertação de duas cidadãs americanas, Doha se apresenta como um interlocutor privilegiado

Natalie Shoshana Raanan e Judith Tai Raanan, reféns americanas libertadas pelo Hamas, em 20 de outubro. Foto: Governo de Israel/AFP
Apoie Siga-nos no

Um grupo de potências regionais do Oriente Médio pode influenciar o Hamas a libertar os reféns mantidos em Gaza desde 7 de outubro, mas o Catar é um ator indispensável na negociação.

O grupo palestino executou há duas semanas uma ofensiva sem precedentes contra o território israelense, deixando mais de 1.400 mortos. Também levou aproximadamente 200 pessoas ao enclave como reféns.

Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisa sobre o Mundo Árabe e o Mediterrâneo, com sede em Genebra, disse à agência AFP que “não haverá negociação coletiva” e que “cada Estado terá de negociar individualmente a libertação dos seus próprios reféns”, por meio dos interlocutores habituais: Catar, Egito e Turquia.

Antes mesmo do anúncio da libertação de duas cidadãs americanas, que, segundo o Hamas, deveu-se à mediação do Catar, Doha se apresenta como um interlocutor privilegiado.

“O mediador mais complacente é o Catar, um pequeno Estado sem uma agenda regional, que não se preocupa com o uso político da mediação”, disse Abidi.

Segundo ele, o emirado “conhece bem o Hamas e lhe oferece, ao mesmo tempo, um apoio financeiro leal”. O especialista se refere ao financiamento por Doha dos salários dos funcionários da Faixa de Gaza. Além disso, o comando político do Hamas é sediado em Doha há mais de dez anos – a capital do Catar também abriga a maior base americana na região.

Nesta sexta-feira 20, após a libertação das duas mulheres, o Hamas afirmou que “trabalha com todos os mediadores envolvidos para aplicar a decisão do movimento de encerrar o caso dos [reféns] civis, se as condições de segurança apropriadas permitirem”.

“Especializaram-se na libertação de reféns”, resumiu à AFP Etienne Dignat, do Centro de Pesquisas Internacionais, com sede em Paris. Um exemplo recente é a mediação da libertação de americanos que estavam presos no Irã.

Não à toa, Jean-Yves le Drian, enviado especial da França para o Líbano, viajou ao Catar nesta semana, segundo fontes diplomáticas. O funcionário se reuniu com o ministro das Relações Exteriores para conversar sobre Israel e o Líbano, informou a agência de notícias do Catar QNA.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, também viajou a Doha, e a Alemanha pediu ajuda ao Catar para garantir a proteção dos seus reféns.

O emirado convidou os talebans a abrir um escritório em Doha, com a autorização dos Estados Unidos, para negociar a retirada das forças de Washington do Afeganistão em 2021, antes de o grupo islamita retomar o poder.

Contudo, outros pesos pesados da região buscam interferir nos diálogos. A Turquia manifestou o interesse e disse ter recebido pedidos de vários países, informou nesta semana em Beirute o chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan.

O Egito também tem um perfil conciliador, já que tem sido o medidador entre Israel e Hamas. Mas, uma vez que a questão será abordada Estado por Estado, o Hamas tem “uma carta de negociação muito poderosa”, tanto para libertar presos palestinos quanto para salvar o movimento, que Israel deseja destruir.

(Com informações da AFP)

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo