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Piñera se desculpa por crise e anuncia pacote de medidas sociais no Chile

Entre as principais medidas, Piñera anunciou uma renda mínima garantida, com o Estado complementando em 15% os salários mais baixos

Presidente chileno Sebastián Piñera. Foto: HO / CHILEAN PRESIDENCY / AFP
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O presidente do Chile, Sebastián Piñera, pediu desculpas na noite desta terça-feira 22 por sua falta de visão para antecipar a crise que atinge seu governo há cinco dias, e anunciou uma série de medidas sociais.

“Reconheço essa falta de visão e peço desculpas aos meus compatriotas”, disse o presidente em uma mensagem ao país no Palácio Presidencial de La Moneda, num momento em que os maiores protestos sociais em décadas não estão diminuindo de intensidade em todo o país.

“Diante das necessidades legítimas e das demandas sociais dos cidadãos, recebemos com humildade e clareza a mensagem que os chilenos nos deram”, disse o chefe de Estado em um pronunciamento que deu uma virada radical no tom de confronto com os manifestantes dos últimos dias e que havia elevado o clima de tensão nas ruas do país.

Entre as principais medidas, Piñera anunciou uma renda mínima garantida, com o Estado complementando em 15% os salários mais baixos, para elevá-los a 350 mil pesos (486 dólares) “para todos os trabalhadores com jornada completa (…)” quando o valor recebido for inferior.

Piñera também anunciou a criação de um mecanismo de estabilização dos preços da energia elétrica, que anulará a recente alta de 9,2% nas contas de luz, “retornando ao valor das tarifas elétricas ao nível do primeiro semestre deste ano”.

O presidente propôs ainda um seguro para a compra de medicamentos, em um país onde os gastos com saúde das famílias se situam entre os mais altos dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

O Exército anunciou o toque de recolher pelo quarto dia em Santiago, em meio a protestos que já deixaram 15 mortos, quatro deles por balas disparadas pelas forças de segurança. As outras vítimas morreram em meio a incêndios e saques, de acordo com a Promotoria. A lista inclui um cidadão peruano e um equatoriano.

Santiago e a maioria das 16 regiões do Chile estão em estado de emergência e 20.000 militares e policiais trabalham para conter os violentos protestos.

Não são 30 pesos, são 30 anos

As manifestações começaram devido ao aumento do preço da tarifa do metrô em Santiago, mas derivaram em um movimento maior que põe sobre a mesa outras demandas sociais.

“O que acontece não é porque subiram o metrô em 30 pesos. Vem acontecendo há 30 anos. Temos a questão das AFP (Administradoras de Fundos de Pensões), das filas nas clínicas, listas de espera em hospitais, o custo dos remédios, os baixos salários”, disse à AFP Orlando, de 55 anos.

A Central Única de Trabalhadores (CUT), o sindicato mais poderoso do Chile, e outras 18 organizações sociais convocaram greves e mobilizações para quarta e quinta-feira.

Com um transporte público limitado, o comércio e os bancos funcionando com lentidão e os protestos colapsando as ruas, os chilenos saíram para trabalhar ou estudar nesta terça suportando novamente longas filas e esperas.

O metrô de Santiago, que recebe cerca de três milhões de pessoas por dia, funcionou com apenas uma de suas sete linhas e apoiado por 4.300 ônibus públicos e táxis.

As aulas escolares permaneciam suspensas em cerca de 50 comunas da capital chilena, enquanto uma dezena de universidades não abriram. Hospitais e policlínicas funcionaram normalmente.

A companhia aérea chileno-brasileira LATAM, a maior da América Latina, colocou dezenas de catres no aeroporto de Santiago desde o início dos protestos para seus passageiros afetados pelo cancelamento e reprogramação de centenas de voos.

Os mercados, enquanto isso, retornaram à calma, após protagonizarem uma queda na segunda-feira. A Bolsa fechou com alta de 0,80% após cair 4,61%, enquanto o peso fechou em 724,3 unidades por dólar, contra 727 no dia anterior.

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