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Obama vence o último debate antes da eleição

O presidente apresentou Mitt Romney como um candidato sem experiência e temperamento necessários para representar os EUA

Romney e Obama debatem na Universidade de Lynn, em Boca Raton. Foto: AFP
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por Eduardo Graça, de Boca Ratón (Flórida)

 

Desde o início do terceiro e último debate entre os candidatos à presidência dos EUA, focado em política externa, o presidente Barack Obama partiu para a ofensiva e apresentou Mitt Romney como alguém sem experiência, consistência ou temperamento necessários para representar os EUA nos quatro cantos do planeta. Já o ex-governador de Massachusetts concordou uma dezena de vezes com a política externa democrata, buscando mostrar-se moderado e distante da administração Bush, de infeliz lembrança. O candidato republicano buscou conduzir a narrativa da conversa, sempre que possível, para as mazelas econômicas enfrentadas pelos americanos, raiz do que qualifica ser a diminuição da influência de Washington no exterior. Em pesquisas com eleitores indecisos a rede de tevê CBS deu uma vitória clara para Barack Obama, com 53% dos eleitores considerando-o o vitorioso da noite, contra 23% para o republicano, que ficou atrás até mesmo dos que apontaram um empate na noite, 24% . Já a CNN deu Obama à frente com 48% contra 40% para Romney.

Para o azar do presidente, pesquisas mostram que apenas 5% dos americanos consideram a política externa um tema crucial para sua decisão na hora do voto no próximo dia 6. “Por isso mesmo Obama mencionou, sempre que pôde, o estado de Ohio. Com a Flórida e a Carolina do Norte se firmando nas fileiras republicanas, é importante assegurar a vitória no meio-oeste, onde tudo leva a crer que a eleição será decidida”, disse o analista John King, da CNN.

Obama lembrou mais de uma vez, em um debate que não deveria tratar de questões internas dos EUA, que Mitt Romney foi contrário à ajuda do governo na recuperação da combalida indústria automotiva do país. Não é mera coincidência o fato de Obama estar segurando a vantagem – e os votos – de Ohio por conta da vantagem na região industrial de Toledo. Há exatas duas semanas das eleições, Obama mantém uma liderança apertada em Iowa, Wisconsin e Ohio. Se ele vencer nos três estados do meio-oeste, é matematicamente impossível para Romney, ligeiramente à frente nos votos populares, impedir a reeleição do democrata. “Pode-se falar de estratégia, em detalhes, mas vocês me desculpem. Obama hoje se mostrou forte, presidencial, coerente. Não há qualquer dúvida de que ele venceu o debate. O que não posso afirmar ainda é que ele também garantiu a reeleição nesta noite tão feliz para ele. Os 90 minutos foram um verdadeiro massacre. Romney pareceu fraco e incoerente”, disse o analista James Carville, da CNN, o mago por trás da candidatura Clinton em 1992, e constante crítico da administração Obama.

No centro de mídia onde os jornalistas acompanharam o debate em um ginásio de uma universidade localizada em um dos condados mais ricos da Flórid, os republicanos pareciam claramente mais desanimados do que os democratas e buscavam oferecer a narrativa, pela primeira vez nos três encontros entre Obama e Romney, de que “a noite não teve vencedor”. Tanto em Denver quanto em Long Island, os republicanos bateram na tecla de que Romney fora o inconteste vitorioso. Na Flórida, o republicano, confuso, falando em círculos e repetindo frases estudadas, chegou a soltar alguns ‘bushimos’, ainda que sem o charme ingênuo do ex-presidente George W. Bush. Um dos melhores foi quando tratou da Síria, “o único aliado árabe do Irã e estrategicamente importante para Teerã, pois oferece uma saída para o mar a eles”. Detalhe: o Irã, como se sabe, tem uma enorme costa no Golfo Pérsico e não faz fronteira com a Síria.

Estrategistas republicanos diziam estar felizes com a estratégia de apresentar um Romney moderado, palatável para as eleitoras dos subúrbios americanos, notadamente anti-belicistas, e que, de acordo com todas as pesquisas, podem decidir a eleição em favor de Obama. Enquanto os republicanos contam com uma enorme vantagem entre os homens caucasianos, as mulheres pendem para o democrata. O presidente aproveitou a brecha para ridicularizar as propostas de política externa do adversário. Quando Romney afirmou que a marinha americana tem menos navios do que em qualquer época no século XX, desde a Primeira Guerra Mundial, Obama retrucou em uma das melhores frases da noite, depois de lembrar que a estratégia militar do século XXI é diversa da do começo do século passado: “O senhor parece querer trazer de volta a política externa dos anos 80, as sociais dos anos 50 e as econômicas dos anos 20. E falar dos navios? Governador, nós também temos menos baionetas e cavalos nas Forças Armadas hoje. Temos estas coisas chamadas submarinos nucleares e porta-aviões. A natureza do universo militar mudou”. Obama relembrou os eleitores da declaração de Romney de que a Rússia é o ‘inimigo político’ número 1 dos EUA, “mas a Guerra Fria já acabou faz tempo”.

Mas a noite também foi marcada pelo que não foi dito. Mitt Romney não aproveitou a possibilidade de questionar a Casa Branca democrata em relação aos ataques terroristas ao consulado americano em Benghazi, na Líbia e repetiu várias vezes que tomaria as mesmas decisões estratégicas que Obama, como a de forçar a queda de Hosni Mubarak, um dos mais constantes aliados do país no Oriente Médio, do governo egípcio durante a Primavera Árabe. “O senhor parece dizer que tudo funcionaria melhor se o senhor tomasse as mesmas medidas que tomamos. É como se a coisa ficasse melhor porque o senhor grita mais alto”, devolveu Obama.

 

Romney passou boa parte do debate acusando Obama de ter diminuído o peso da liderança americana no exterior e a de ter pedido desculpas pela diplomacia americana no Oriente Médio. As relações com Israel também foram criticadas e o republicano lembrou que Obama não passou por Israel em sua viagem como candidato ao Oriente Médio em 2008. Obama respondeu lembrando a recente passagem do candidato de oposição a Israel: “Quando me candidatei em 2008, minha primeira viagem foi para visitar as tropas americanas na Ásia. E quando fui a Israel, não levei, como o senhor, grandes doadores. Também não fiz nenhum evento para angariar fundos de campanha”, disse, em referência ao encontro em Jerusalém que reuniu a direita pró-Israel em um esforço de coleta de contribuições para a campanha de Romney. O presidente seguiu, sério: “Eu fui ao Museu do Holocausto, para me relembrar da natureza do mal”.

Romney fez questão de se dissociar da imagem belicista dos republicanos afirmando ser um presidente ‘da paz’ em caso de ser eleito e pautou sua performance na construção de uma imagem de moderação e ponderação. Obama, nitidamente com mais energia e preocupado em refutar a ideia de que o adversário pode ser uma alternativa palpável para a Casa Branca, seguirá batendo em Romney na Florida hoje de manhã, em um comício nas cercanias de Boca Raton. Na quarta-feira, o candidato faz uma blitz de dois dias pelos estados em que a eleição será decidida com outra parada na Flórida, desta vez em Tampa.

por Eduardo Graça, de Boca Ratón (Flórida)

 

Desde o início do terceiro e último debate entre os candidatos à presidência dos EUA, focado em política externa, o presidente Barack Obama partiu para a ofensiva e apresentou Mitt Romney como alguém sem experiência, consistência ou temperamento necessários para representar os EUA nos quatro cantos do planeta. Já o ex-governador de Massachusetts concordou uma dezena de vezes com a política externa democrata, buscando mostrar-se moderado e distante da administração Bush, de infeliz lembrança. O candidato republicano buscou conduzir a narrativa da conversa, sempre que possível, para as mazelas econômicas enfrentadas pelos americanos, raiz do que qualifica ser a diminuição da influência de Washington no exterior. Em pesquisas com eleitores indecisos a rede de tevê CBS deu uma vitória clara para Barack Obama, com 53% dos eleitores considerando-o o vitorioso da noite, contra 23% para o republicano, que ficou atrás até mesmo dos que apontaram um empate na noite, 24% . Já a CNN deu Obama à frente com 48% contra 40% para Romney.

Para o azar do presidente, pesquisas mostram que apenas 5% dos americanos consideram a política externa um tema crucial para sua decisão na hora do voto no próximo dia 6. “Por isso mesmo Obama mencionou, sempre que pôde, o estado de Ohio. Com a Flórida e a Carolina do Norte se firmando nas fileiras republicanas, é importante assegurar a vitória no meio-oeste, onde tudo leva a crer que a eleição será decidida”, disse o analista John King, da CNN.

Obama lembrou mais de uma vez, em um debate que não deveria tratar de questões internas dos EUA, que Mitt Romney foi contrário à ajuda do governo na recuperação da combalida indústria automotiva do país. Não é mera coincidência o fato de Obama estar segurando a vantagem – e os votos – de Ohio por conta da vantagem na região industrial de Toledo. Há exatas duas semanas das eleições, Obama mantém uma liderança apertada em Iowa, Wisconsin e Ohio. Se ele vencer nos três estados do meio-oeste, é matematicamente impossível para Romney, ligeiramente à frente nos votos populares, impedir a reeleição do democrata. “Pode-se falar de estratégia, em detalhes, mas vocês me desculpem. Obama hoje se mostrou forte, presidencial, coerente. Não há qualquer dúvida de que ele venceu o debate. O que não posso afirmar ainda é que ele também garantiu a reeleição nesta noite tão feliz para ele. Os 90 minutos foram um verdadeiro massacre. Romney pareceu fraco e incoerente”, disse o analista James Carville, da CNN, o mago por trás da candidatura Clinton em 1992, e constante crítico da administração Obama.

No centro de mídia onde os jornalistas acompanharam o debate em um ginásio de uma universidade localizada em um dos condados mais ricos da Flórid, os republicanos pareciam claramente mais desanimados do que os democratas e buscavam oferecer a narrativa, pela primeira vez nos três encontros entre Obama e Romney, de que “a noite não teve vencedor”. Tanto em Denver quanto em Long Island, os republicanos bateram na tecla de que Romney fora o inconteste vitorioso. Na Flórida, o republicano, confuso, falando em círculos e repetindo frases estudadas, chegou a soltar alguns ‘bushimos’, ainda que sem o charme ingênuo do ex-presidente George W. Bush. Um dos melhores foi quando tratou da Síria, “o único aliado árabe do Irã e estrategicamente importante para Teerã, pois oferece uma saída para o mar a eles”. Detalhe: o Irã, como se sabe, tem uma enorme costa no Golfo Pérsico e não faz fronteira com a Síria.

Estrategistas republicanos diziam estar felizes com a estratégia de apresentar um Romney moderado, palatável para as eleitoras dos subúrbios americanos, notadamente anti-belicistas, e que, de acordo com todas as pesquisas, podem decidir a eleição em favor de Obama. Enquanto os republicanos contam com uma enorme vantagem entre os homens caucasianos, as mulheres pendem para o democrata. O presidente aproveitou a brecha para ridicularizar as propostas de política externa do adversário. Quando Romney afirmou que a marinha americana tem menos navios do que em qualquer época no século XX, desde a Primeira Guerra Mundial, Obama retrucou em uma das melhores frases da noite, depois de lembrar que a estratégia militar do século XXI é diversa da do começo do século passado: “O senhor parece querer trazer de volta a política externa dos anos 80, as sociais dos anos 50 e as econômicas dos anos 20. E falar dos navios? Governador, nós também temos menos baionetas e cavalos nas Forças Armadas hoje. Temos estas coisas chamadas submarinos nucleares e porta-aviões. A natureza do universo militar mudou”. Obama relembrou os eleitores da declaração de Romney de que a Rússia é o ‘inimigo político’ número 1 dos EUA, “mas a Guerra Fria já acabou faz tempo”.

Mas a noite também foi marcada pelo que não foi dito. Mitt Romney não aproveitou a possibilidade de questionar a Casa Branca democrata em relação aos ataques terroristas ao consulado americano em Benghazi, na Líbia e repetiu várias vezes que tomaria as mesmas decisões estratégicas que Obama, como a de forçar a queda de Hosni Mubarak, um dos mais constantes aliados do país no Oriente Médio, do governo egípcio durante a Primavera Árabe. “O senhor parece dizer que tudo funcionaria melhor se o senhor tomasse as mesmas medidas que tomamos. É como se a coisa ficasse melhor porque o senhor grita mais alto”, devolveu Obama.

 

Romney passou boa parte do debate acusando Obama de ter diminuído o peso da liderança americana no exterior e a de ter pedido desculpas pela diplomacia americana no Oriente Médio. As relações com Israel também foram criticadas e o republicano lembrou que Obama não passou por Israel em sua viagem como candidato ao Oriente Médio em 2008. Obama respondeu lembrando a recente passagem do candidato de oposição a Israel: “Quando me candidatei em 2008, minha primeira viagem foi para visitar as tropas americanas na Ásia. E quando fui a Israel, não levei, como o senhor, grandes doadores. Também não fiz nenhum evento para angariar fundos de campanha”, disse, em referência ao encontro em Jerusalém que reuniu a direita pró-Israel em um esforço de coleta de contribuições para a campanha de Romney. O presidente seguiu, sério: “Eu fui ao Museu do Holocausto, para me relembrar da natureza do mal”.

Romney fez questão de se dissociar da imagem belicista dos republicanos afirmando ser um presidente ‘da paz’ em caso de ser eleito e pautou sua performance na construção de uma imagem de moderação e ponderação. Obama, nitidamente com mais energia e preocupado em refutar a ideia de que o adversário pode ser uma alternativa palpável para a Casa Branca, seguirá batendo em Romney na Florida hoje de manhã, em um comício nas cercanias de Boca Raton. Na quarta-feira, o candidato faz uma blitz de dois dias pelos estados em que a eleição será decidida com outra parada na Flórida, desta vez em Tampa.

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