O que são as Colinas de Golã e qual a sua importância?

A região foi ocupada por Israel em 1967 e é internacionalmente reconhecida como tal, apesar da posterior anexação

Turistas brincam em posto israelense nas colinas de Golã (Foto: AFP)

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As Colinas de Golã são uma faixa de terra pouco povoada e montanhosa no sudoeste da Síria, controlada em sua quase totalidade por Israel.

As Colinas de Golã eram território sírio até 1967, quando foram ocupadas por Israel na Guerra dos Seis Dias e posteriormente anexadas.

A anexação de 1981 não foi reconhecida internacionalmente, e resoluções do Conselho de Segurança da ONU determinaram que a soberania israelense sobre a área fosse tornada sem efeito legal.

A Síria não conseguiu recuperar o controle sobre as Colinas de Golã na Guerra do Yom Kippur, de 1973, que terminou com um armistício em 1974 e o estacionamento de uma força de observação da ONU (Undof) ao longo da linha de cessar-fogo e que monitora o cumprimento deste.

Cerca de 1.250 soldados da Índia, das Filipinas, das Irlanda, da Holanda, do Nepal e de Fiji estão estacionados nas Colinas de Golã. Eles também controlam a chamada zona tampão, região criada para separar a parte das colinas anexada por Israel do território sírio.

A Síria exige o retorno de todo ou parte do território em troca de qualquer tratado de paz futuro com Israel. Repetidas conversações de paz – indiretas e diretas – entre Israel e a Síria não levaram a um acordo.


Quem vive lá?

Há cerca de 40 mil moradores na área das Colinas de Golã. Por volta de metade são colonos judeus. Os demais são drusos e uma pequena minoria de alauitas. Os drusos são árabes que praticam um desdobramento do islamismo. Muitos deles se consideram sírios. O alauismo é um ramo do islamismo xiita. O presidente sírio, Bashar al-Assad, e figuras-chave em seu regime são alauitas.

Após a ocupação, os israelenses expulsaram a maioria dos residentes árabes, mas permitiram que os drusos continuassem no local, além de oferecer a eles a cidadania do país. Mas poucos a requereram.

Por que as Colinas de Golã são estrategicamente importantes?

As Colinas de Golã são um planalto montanhoso de 1,2 mil quilômetros quadrados com vista para o Líbano, a Síria e o Vale do Jordão.

A região fica a apenas 60 quilômetros de Damasco e permite a Israel ter uma forte posição de defesa e ataque, como também um ponto de observação para monitorar os movimentos militares do outro lado da fronteira.

O governo israelense afirma manter o controle sobre o território por motivos estratégicos militares.

Um controle sírio sobre as Colinas de Golã forneceria a Damasco posições estratégicas, com uma visão sobre o território de Israel. No passado, os sírios usaram as colinas como base militar para bombardear comunidades no Estado judeu.

A questão de segurança foi intensificada pela guerra civil na Síria: o Irã e seu aliado xiita libanês Hezbollah entrincheiraram-se às portas de Israel por meio de seu apoio ao regime Assad. Tel Aviv diz que o Irã e o Hezbollah representam uma ameaça, e as colinas de Golã proporciona uma barreira de segurança. 

Trump e Netanyahu lutam por suas sobrevivências políticas (Foto: Jack Guez/AFP)

Quais recursos naturais existem nas Colinas de Golã?

Outra questão fundamental são os recursos hídricos numa região árida. A área de captação de Golã alimenta o rio Jordão e o Mar da Galiléia, importantes fontes de água para Israel.

A terra fértil é usada para a agricultura, com áreas de cultivo de videiras e pomares. Também abriga a única estação de esqui em Israel. 

Quais são as repercussões internacionais do reconhecimento da soberania israelense?

Há mais do que uma questão de segurança e de recursos hídricos no anúncio do presidente Donald Trump de que os EUA devem reconhecer a soberania israelense sobre as Colinas de Golã.

Isso também estabeleceria um precedente de que um território pode ser incorporado em guerra, violando o direito internacional. A Rússia, por exemplo, perceberá a incoerência dessa atitude, após cinco anos de condenação do Ocidente pela anexação da Crimeia, em 2014.


As resoluções 242 e 497 do Conselho de Segurança da ONU, ambas apoiadas pelos Estados Unidos, fornecem a base legal para a situação. Elas afirmam claramente que a anexação unilateral israelense do território sírio viola o direito internacional. 

Por que o tema volta à tona agora?

A guerra civil síria enfraqueceu seriamente a autoridade do Estado sírio, dando a Israel uma oportunidade de exercer suas reivindicações sobre as Colinas de Golã. Isso também ocorre quando o governo de direita de Israel encontra um amigo em Trump, que já reconheceu Jerusalém como a capital de Israel em 2017 e transferiu a embaixada dos Estados Unidos para lá.

O anúncio de Trump pode favorecer o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu antes das apertadas eleições de 9 de abril e desviar a atenção das múltiplas investigações de corrupção que o cercam.

 

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