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Atentado faz ressurgir temor de guerra civil no Líbano

Chefe da Inteligência libanesa, hostil ao regime sírio, é morto em explosão em Beirute, reavivando o perigo da instabilidade no país

Imagem mostra a destruição provocada em Beirute pelo ataque desta sexta-feira. Foto: AFP
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Desde o início dos conflitos entre o regime de Bashar al-Assad, ditador da Síria, e seus opositores, muitos especialistas alertaram que um dos planos do governo sírio para tentar se manter no poder era desestabilizar o Líbano. Nesta sexta-feira 19, um atentado em Beirute, que matou Wissan al-Hassan, chefe da Inteligência civil libanesa, deu indicações de que este plano pode estar em curso.

O atentado que matou Wissan al-Hassan ocorreu em Ashrafieh, um bairro cristão de Beirute, um dos mais ricos da cidade. Uma bomba com cerca de 30 quilos de dinamite foi colocada dentro ou embaixo de um carro estacionado na rua Ibrahim Monzer, a 300 metros da sede da Aliança 14 de Março, uma coalizão de partidos sunitas, cristãos maronitas e seculares anti-Assad. A explosão ocorreu às 14h50 do horário local (8h50 de Brasília), momento em que muitas pessoas estavam na rua. Carros foram completamente destruídos pela força da explosão, assim com as varandas de dois prédios próximos ao local da bomba. As cenas de terror, que lembraram a terrível guerra civil que afetou o Líbano por 15 anos (1975-1990), deixaram pelo menos oito mortos e mais de 80 feridos.

Inicialmente, era difícil projetar quem eram os responsáveis pelo ataque. A confirmação da morte do chefe da Inteligência, entretanto, deixou a situação mais clara. Hassan chegou ao cargo em 2005, após o assassinato (também em um atentado) do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, o maior líder do bloco anti-Síria na época. O ataque de 2005 foi atribuído à Síria e ao Hezbollah, grupo armado e partido pró-Síria, e propiciou a formação de dois blocos na política libanesa. De um lado, a Aliança 14 de Março (anti-Síria) e, do outro, a Aliança 8 de Março (pró-Síria).

Hassan se tornou alvo dos grupos pró-Síria por três motivos. Seu departamento investigou a morte de Rafik Hariri e entregou às Nações Unidas boa parte do material que subsidia as conclusões de um tribunal especial criado para investigar o assassinato do ex-premiê, e que deve implicar agentes do Hezbollah e da Síria no ataque. No curso da investigação, um auxiliar de Hassan foi alvo de atentado e outro acabou assassinado. Em 2010, Hassan ordenou a prisão de Fayez Karam, principal conselheiro de Michel Aoun, ex-premiê e líder de um dos principais partidos da aliança 8 de Março. Karam ficou detido por 18 meses por “colaborar com Israel”.

Em 2012, Hassan atraiu a ira da Síria e de grupos pró-Síria libaneses de forma definitiva. Em agosto, a Inteligência libanesa prendeu o ex-ministro da Informação Michel Samaha, um dos articuladores da Aliança 8 de Março. Samaha foi preso, e confessou ter contrabandeado explosivos em seu carro, da Síria para o Líbano, para usá-los em atentados terroristas.

A morte de Hassan coloca os holofotes sobre o Líbano e levanta uma questão: o país conseguirá evitar a explosão de uma nova guerra civil? Há duas dimensões para esta resposta, a da sociedade e a da política. Não há, por enquanto, nenhuma prova de que Assad esteja por trás do ataque. Seu governo, inclusive, condenou o “atentado terrorista” e classificou o episódio como “injustificável”. Há porém, indicações fortes a respeito da possibilidade de o governo sírio estar envolvido.

O cisma xiita-sunita tem ficado cada vez mais forte no Líbano. O Hezbollah (xiita) está ajudando as forças de Assad na Síria, enquanto libaneses sunitas são aliados dos opositores de Assad, também em sua maioria sunitas. Imediatamente após o atentados, grupos sunitas realizaram protestos em Beirute e também em Trípoli, cidade no norte do Líbano. A violência entre os grupos sectários, entretanto, vai depender muito da postura dos líderes políticos libaneses. É nesta esfera em que a guerra civil pode tomar corpo.

Políticos anti-Síria, como Samir Geagea e Saad Hariri (filho de Rafik) se apressaram em apontar o dedo para Assad. “O regime sírio, junto com seus amigos dentro e fora do Líbano são responsáveis pelo ataque”, disse Geagea segundo o jornal The Daily Star. “Quem mais seria?”, questionou. Hariri, por sua vez, foi perguntado pela Future Television sobre o autor do ataque e respondeu, segundo a Reuters, citando o nome completo do ditador sírio “Bashar Hafez al-Assad”. Até mesmo Walid Jumblatt, integrante da Aliança 8 de Março (pró-Síria), acusou Assad.

A reação desses políticos é exatamente o que Assad (esteja ele por trás ou não dos ataques) deseja, pois é o caminho para a instabilidade no Líbano. Para evitar o acirramento dos ânimos, o campo anti-Síria precisará ponderar suas acusações. Ao mesmo tempo, o campo pró-Síria precisaria ir a público condenar os atentados e exigir a investigação dos crime. Essa seria a solução ideal para o Líbano e os libaneses, mas talvez seja pedir demais para políticos que, independentemente de religião ou posição no espectro político, fazem alianças baseados em sua relação com a Síria.

 

Desde o início dos conflitos entre o regime de Bashar al-Assad, ditador da Síria, e seus opositores, muitos especialistas alertaram que um dos planos do governo sírio para tentar se manter no poder era desestabilizar o Líbano. Nesta sexta-feira 19, um atentado em Beirute, que matou Wissan al-Hassan, chefe da Inteligência civil libanesa, deu indicações de que este plano pode estar em curso.

O atentado que matou Wissan al-Hassan ocorreu em Ashrafieh, um bairro cristão de Beirute, um dos mais ricos da cidade. Uma bomba com cerca de 30 quilos de dinamite foi colocada dentro ou embaixo de um carro estacionado na rua Ibrahim Monzer, a 300 metros da sede da Aliança 14 de Março, uma coalizão de partidos sunitas, cristãos maronitas e seculares anti-Assad. A explosão ocorreu às 14h50 do horário local (8h50 de Brasília), momento em que muitas pessoas estavam na rua. Carros foram completamente destruídos pela força da explosão, assim com as varandas de dois prédios próximos ao local da bomba. As cenas de terror, que lembraram a terrível guerra civil que afetou o Líbano por 15 anos (1975-1990), deixaram pelo menos oito mortos e mais de 80 feridos.

Inicialmente, era difícil projetar quem eram os responsáveis pelo ataque. A confirmação da morte do chefe da Inteligência, entretanto, deixou a situação mais clara. Hassan chegou ao cargo em 2005, após o assassinato (também em um atentado) do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, o maior líder do bloco anti-Síria na época. O ataque de 2005 foi atribuído à Síria e ao Hezbollah, grupo armado e partido pró-Síria, e propiciou a formação de dois blocos na política libanesa. De um lado, a Aliança 14 de Março (anti-Síria) e, do outro, a Aliança 8 de Março (pró-Síria).

Hassan se tornou alvo dos grupos pró-Síria por três motivos. Seu departamento investigou a morte de Rafik Hariri e entregou às Nações Unidas boa parte do material que subsidia as conclusões de um tribunal especial criado para investigar o assassinato do ex-premiê, e que deve implicar agentes do Hezbollah e da Síria no ataque. No curso da investigação, um auxiliar de Hassan foi alvo de atentado e outro acabou assassinado. Em 2010, Hassan ordenou a prisão de Fayez Karam, principal conselheiro de Michel Aoun, ex-premiê e líder de um dos principais partidos da aliança 8 de Março. Karam ficou detido por 18 meses por “colaborar com Israel”.

Em 2012, Hassan atraiu a ira da Síria e de grupos pró-Síria libaneses de forma definitiva. Em agosto, a Inteligência libanesa prendeu o ex-ministro da Informação Michel Samaha, um dos articuladores da Aliança 8 de Março. Samaha foi preso, e confessou ter contrabandeado explosivos em seu carro, da Síria para o Líbano, para usá-los em atentados terroristas.

A morte de Hassan coloca os holofotes sobre o Líbano e levanta uma questão: o país conseguirá evitar a explosão de uma nova guerra civil? Há duas dimensões para esta resposta, a da sociedade e a da política. Não há, por enquanto, nenhuma prova de que Assad esteja por trás do ataque. Seu governo, inclusive, condenou o “atentado terrorista” e classificou o episódio como “injustificável”. Há porém, indicações fortes a respeito da possibilidade de o governo sírio estar envolvido.

O cisma xiita-sunita tem ficado cada vez mais forte no Líbano. O Hezbollah (xiita) está ajudando as forças de Assad na Síria, enquanto libaneses sunitas são aliados dos opositores de Assad, também em sua maioria sunitas. Imediatamente após o atentados, grupos sunitas realizaram protestos em Beirute e também em Trípoli, cidade no norte do Líbano. A violência entre os grupos sectários, entretanto, vai depender muito da postura dos líderes políticos libaneses. É nesta esfera em que a guerra civil pode tomar corpo.

Políticos anti-Síria, como Samir Geagea e Saad Hariri (filho de Rafik) se apressaram em apontar o dedo para Assad. “O regime sírio, junto com seus amigos dentro e fora do Líbano são responsáveis pelo ataque”, disse Geagea segundo o jornal The Daily Star. “Quem mais seria?”, questionou. Hariri, por sua vez, foi perguntado pela Future Television sobre o autor do ataque e respondeu, segundo a Reuters, citando o nome completo do ditador sírio “Bashar Hafez al-Assad”. Até mesmo Walid Jumblatt, integrante da Aliança 8 de Março (pró-Síria), acusou Assad.

A reação desses políticos é exatamente o que Assad (esteja ele por trás ou não dos ataques) deseja, pois é o caminho para a instabilidade no Líbano. Para evitar o acirramento dos ânimos, o campo anti-Síria precisará ponderar suas acusações. Ao mesmo tempo, o campo pró-Síria precisaria ir a público condenar os atentados e exigir a investigação dos crime. Essa seria a solução ideal para o Líbano e os libaneses, mas talvez seja pedir demais para políticos que, independentemente de religião ou posição no espectro político, fazem alianças baseados em sua relação com a Síria.

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