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Moradores de Buffalo homenageiam vítimas de ataque racista em supermercado

O atirador usava um colete à prova de balas e portava um fuzil de assalto; entre os 10 mortos e três feridos, 11 eram negros

Moradores de Buffalo homenageiam vítimas de ataque racista em supermercado
Moradores de Buffalo homenageiam vítimas de ataque racista em supermercado
Flores deixadas em um memorial em frente ao supermercado onde o crime ocorreu. Foto: Scott Olson/Getty Images North America/Gettu Images via AFP
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Moradores emocionados de Buffalo, no estado de Nova York, se reuniram neste domingo 15 em vigílias e serviços religiosos para homenagear as 10 pessoas assassinadas a tiros por um jovem e suposto supremacista branco em um ato descrito pelas autoridades como “terrorismo doméstico, puro e simples”.

O atirador, identificado como Payton Gendron, de 18 anos, foi preso na cena do crime, um supermercado em um bairro de maioria negra, depois que a polícia respondeu a chamados de emergência.

Para executar o ataque, Gendron dirigiu até Buffalo de sua cidade natal, Conklin, a mais de 320 quilômetros de distância, segundo a polícia.

O jovem foi denunciado no sábado por uma acusação de assassinato em primeiro grau e detido sem direito à fiança, informou o escritório do promotor distrital do condado de Erie.

O atirador usava um colete à prova de balas e portava um fuzil de assalto, conforme o departamento de polícia local, que detalhou que, entre os 10 mortos e três feridos, 11 eram negros. Além disso, Gendron usava um capacete equipado com câmera para transmitir sua ação ao vivo pela internet.

O presidente Joe Biden se pronunciou neste domingo sobre o episódio em um serviço religioso de homenagem aos policiais americanos mortos em serviço: “Todos devemos trabalhar juntos para lidar com o ódio, que continua sendo uma mancha na alma dos Estados Unidos”, afirmou.

Ontem, Biden havia repudiado o ataque ao classificá-lo de “terrorismo doméstico”, cometido em nome da “repugnante ideologia nacionalista branca”.

Execução ‘ao estilo militar’

Os moradores se reuniram na parte externa do supermercado para a vigília, enquanto a governadora de Nova York, Kathy Hochul, a procuradora-geral do estado, Letitia James, e o prefeito de Buffalo, Byron Brown, participavam de uma missa em uma igreja batista da cidade.

Com sentimentos que iam de raiva à tristeza, os oradores denunciaram essa última erupção de violência racista e a fácil disponibilidade de armas de alto calibre, algo que vem se transformando em uma cena tristemente familiar nos Estados Unidos.

Hochul, que nasceu em Buffalo, descreveu o crime como uma “execução ao estilo militar”, ao assinalar que o atirador portava um fuzil de assalto semiautomático AR-15, e denunciou que as mensagens racistas se “espalham como fogo em um rastro de pólvora”.

Em entrevista à emissora ABC, ela classificou as redes sociais como “instrumentos desse mal” e afirmou que as plataformas permitiam que os temas racistas “se propagassem como um vírus”.

O incidente trouxe à tona lembranças de alguns dos piores ataques racistas na história recente do país, entre eles o assassinato de nove fiéis em uma igreja da comunidade negra na Carolina do Sul por um jovem branco, em 2015, e o ataque de um homem branco no Texas, em 2019, que resultou na perda de 23 vidas, a maioria delas de pessoas de origem latina.

‘Crime de ódio’

O ato de ontem está sendo investigado como “crime de ódio” e um “caso de extremismo violento por motivos raciais”, declarou aos jornalistas Stephen Belongia, agente especial responsável pelo escritório de campo do FBI em Buffalo.

A mídia local vinculou o atirador a um manifesto de 180 páginas que descreve uma ideologia supremacista branca e apresenta um plano para atacar um bairro habitado principalmente por pessoas negras.

Além de mencionar o ataque na igreja da Carolina do Sul, o agressor afirmou ter se “inspirado” no homem armado que matou 51 pessoas em uma mesquita na Nova Zelândia em março de 2019.

Se for declarado culpado, Gendron pode ser condenado à pena máxima de prisão perpétua sem liberdade condicional.

Em 2020, os Estados Unidos registraram 19.350 homicídios com armas de fogo, um índice quase 35% maior que em 2019, segundo dados recentes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

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