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Milhares de civis retirados de áreas inundadas após destruição de represa na Ucrânia

A Ucrânia afirmou que o ataque contra a represa foi uma tentativa de Moscou para frear a ofensiva de Kiev. A Rússia, por sua vez, acusou a Ucrânia de ‘sabotagem deliberada’

Foto: ALEKSEY FILIPPOV / AFP
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Equipes ucranianas e unidades russas resgataram nesta quarta-feira (7) milhares de civis das áreas inundadas após a destruição da represa de Kakhovka, em uma área controlada pela Rússia no sul da Ucrânia, que teme uma catástrofe humanitária e ecológica.

Moscou e Kiev trocam acusações sobre o ataque de terça-feira contra a represa estratégica, que abastece a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e está localizada na direção das tropas ucranianas que almejam reconquistar os territórios ocupados.

A cidade de Kherson, sob controle ucraniano desde novembro, a 70 km da represa, estava com as ruas inundadas nesta quarta-feira. Natalia Korj, 68 anos, afirmou que precisou nadar para sair de casa.

“Todas os cômodos estão debaixo d’água. Minha geladeira está flutuando. Estamos acostumados com tiros (de artilharia), mas uma catástrofe natural é um verdadeiro pesadelo. Eu não esperava isso”, declarou à AFP, descalça e com as mãos paralisadas pelo frio, depois de ser resgatada pelos serviços de emergência.

Água na altura da cintura

Nas ruas do centro de Kherson, a água chegava na altura da cintura dos moradores. Perto do rio Dnieper, o nível atingiu cinco metros.

“O perigo vem de lá ou daqui”, declarou Svetlana Abramovitch, 56 anos, apontando para o front de batalha, onde canhões russos estão posicionados, e depois para a água em seus pés.

“Mais de 1.450 pessoas foram retiradas das áreas inundadas sob controle ucraniano até o momento”, afirmou Oleksandr Khorunzhyi, porta-voz dos serviços de emergência. Do lado russo, as autoridades mencionaram a retirada de 1.274 moradores.

Muitos civis – um número indeterminado até o momento – deixaram a região por conta própria.

Serguii, um policial de 38 anos, declarou à AFP em Kherson que sua equipe salvou 30 pessoas, incluindo uma criança. “Vamos trabalhar até retirar todo mundo”, disse.

Ucrânia afirmou que o ataque contra a represa, tomada pela Rússia nos primeiros dias da guerra – em fevereiro do ano passado -, foi uma tentativa de Moscou de frear a esperada ofensiva de Kiev, que segundo o governo não será afetada.

A Rússia acusou a Ucrânia de “sabotagem deliberada”.

Para o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, a Rússia provocou “uma das piores catástrofes ao meio ambiente das últimas décadas”.

Os aliados ocidentais da Ucrânia também criticaram o ataque, que coloca em risco a vida de civis, em uma região já devastada pela guerra.

O governo dos Estados Unidos afirmou que a explosão pode ter provocado várias mortes. O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o ataque é “outra consequência devastadora da invasão russa à Ucrânia”.

A China, aliada crucial da Rússia, expressou preocupação com “impacto humano, econômico e para o meio ambiente” da explosão.

Oleksander Prokudin, comandante militar da região de Kherson, afirmou que a “água ainda subirá um metro nas próximas 20 horas”.

As autoridades ucranianas anunciaram que mais de 17.000 pessoas precisam ser retiradas de várias localidades inundadas.

“Bomba ambiental”

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de detonar uma “bomba ambiental de destruição em massa”. Mais de 150 toneladas de óleo de motor foram derramadas no rio e milhares de hectares de terra arável serão inundados, de acordo com Kiev.

“Perdas de peixes já foram registradas perdas na região”, alertou o ministério ucraniano da Agricultura, que também citou uma futura haverá escassez de água para irrigação com o esvaziamento do reservatório de Kakhovka.

“O mundo tem que reagir”, afirmou Zelensky.

A destruição parcial da represa, construída na década de 1950, provoca o temor de consequências para a central nuclear de Zaporizhzhia, que fica a 150 km de distância, porque a usina hidrelétrica de Kakhovka garante água de resfriamento para o local.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) destacou, no entanto, que “não há perigo imediato” e acrescentou que os especialistas estão monitorando a situação.

Assim como a represa, a central nuclear fica em uma área ocupada pelas forças russas.

A cheia do rio Dnieper, que tem a margem direita sob controle das forças ucranianas e a margem esquerda sob domínio de Moscou, submergirá as linhas de defesa russas.

Mas afetará, em particular, as forças ucranianas e a sua eventual operação militar na região, como parte de uma contraofensiva para recuperar territórios no sul e leste do país.

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