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Milei derrota Massa e extrema-direita chega à Presidência da Argentina

O economista chegou ao segundo turno defendendo ‘dinamitar’ o Banco Central, cortar gastos públicos, reduzir ao mínimo o papel do Estado e acabar com a ‘casta’

O candidato de ultradireita à Presidência da Argentina Javier Milei. Foto: Luis Robayo/AFP
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O ultradireitista Javier Milei derrotou o ministro da Economia, Sergio Massa, no segundo turno da eleição para a Presidência da Argentina, neste domingo 19.

Com 99% dos votos contabilizados, o placar é este:

  • Javier Milei: 56%
  • Sergio Massa: 44%

Ao contrário do que ocorre no Brasil, o resultado definitivo não é divulgado no dia da eleição. Lá, os votos passam por duas contagens: uma provisória e outra definitiva. Conhecemos neste domingo uma “primeira tendência”, que deve se confirmar ao final.

Já a contagem definitiva começa apenas 48 horas após a votação, e é ela que define legalmente o novo presidente.

Antes mesmo de a Câmara Nacional Eleitoral divulgar a primeira parcial da apuração, Sergio Massa reconheceu a derrota para Milei.

“Os resultados não são os que esperávamos. Me comuniquei com Javier Milei para felicitá-lo”, afirmou Massa direto de seu bunker em Buenos Aires pouco após as 20h.

“Foi uma campanha difícil, que em algum momento teve conotações duras que espero que a Argentina elimine para sempre”, afirmou o peronista. Ele ainda disse desejar que “a convivência democrática e o respeito por quem pensa diferente se instalem para sempre na Argentina”.

Javier Milei chegou ao segundo turno defendendo “dinamitar” o Banco Central, cortar gastos públicos, reduzir ao mínimo o papel do Estado e acabar com a “casta política”.

Além disso, nega haver diferença salarial entre homens e mulheres e rejeita o consenso de 30 mil desaparecidos durante a brutal ditadura de 1976 a 1983.

Essa tática de confronto, contudo, não sobreviveu além do primeiro turno, em 22 de outubro, no qual conquistou 30% dos votos. Massa, por sua vez, teve quase 37% e foi o mais votado.

Desde então, Milei buscou acordos. Ele tentou se apresentar de forma mais moderada para atrair os 23% de eleitores da macrista Patricia Bullrich e obter o endosso de Mauricio Macri.

Assim, o candidato de 53 anos não voltou a aparecer com uma motosserra nas mãos, reduziu suas participações públicas, não falou mais em fechar ministérios e deixou de lado algumas declarações incendiárias, embora se mantenha firme sobre a dolarização da economia.

Como “influencer”, Milei surgiu na televisão em 2015, protagonizando críticas econômicas furiosas em programas de opinião. Logo, seus comentários alimentaram as redes sociais e alcançaram jovens.

Ele trabalhou no setor privado até 2021, quando foi eleito deputado por La Libertad Avanza.

Segundo Loco, a biografia não autorizada escrita pelo jornalista Juan Luis González, Milei não aceita a morte de seu cachorro Conan e se refere a ele como um dos cinco cachorros/filhos que o acompanham.

Seus outros quatro mastins ingleses são clones de Conan nascidos de um procedimento nos Estados Unidos. O político se comunica com eles, os vivos e o morto, graças a supostas manifestações de uma “médium” especializada na “comunicação interespécies”.

Solteiro, sem filhos e com poucos amigos, levou recentemente a atriz e humorista Fátima Flórez, sua nova namorada, à televisão. Estudou Economia na Universidade de Belgrano e fez duas pós-graduações em instituições locais. Já publicou livros e foi acusado de plagiar parágrafos inteiros.

Para Ariel Goldstein, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Buenos Aires e pesquisador no Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Caribe, a democracia argentina corre riscos com a vitória de Milei e de sua vice, Victoria Villarruel, outra negacionista da ditadura no país.

“Villarruel tem um desejo de vingança muito forte por ser parte da casta militar da ditadura. A família dela é parte disso. E ela quer mudar a versão da história que a Argentina tem sobre a ditadura, a repressão, os assassinatos, a tortura”, alertou o pesquisador em entrevista a CartaCapital.

“Os consensos que estão na base da democracia argentina – tolerância, pluralismo, respeito à liberdade de expressão – estão em jogo. É um perigo grande. Acho que também existe o perigo de ela fazer oportunamente uma jogada para ficar com a Presidência. Ela dá maior peso para esse projeto autoritário, militar e religioso.”

Goldstein diz que a ascensão de um ultradireitista à Presidência resulta de uma mudança profunda no cenário político argentino, após quase duas décadas de polarização entre o kirchnerismo e uma direita “tradicional”.

“[Milei] é uma extrema-direita cuja mensagem chegou a uma parte muito importante da sociedade, que expressa mudanças estruturais, a erupçao das novas tecnologias, dos jovens de aplicativos, a desconfiança com a política tradicional”, avalia. “É uma impugnação das duas forças políticas que governaram nos últimos 20 anos. A meu ver, não é só uma questão de uma eleição, mas uma mudança mais profunda.”

(Com informações da AFP)

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