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May enfrenta voto de desconfiança

Se perder, primeira-ministra britânica deverá abdicar da liderança do Partido Conservador, no poder, e da chefia do governo

Um Natal difícil para May (Daniel Leal-Oliva/AFP)
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A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, terá que enfrentar nesta quarta-feira 12 uma moção de desconfiança, impulsionada por seus próprios correligionários do Partido Conservador, em meio às incertezas sobre o processo de saída britânica da União Europeia.

Para se manter à frente dos conservadores, May precisa a seu favor de 158 de 315 votos conservadores no Parlamento. Caso sobreviva à votação, não poderá ser realizado no período de um ano outro processo similar interno, de acordo com as regras do partido.

Em caso de derrota, a chefe de governo deverá abdicar da liderança partidária e, consequentemente, do cargo de premiê do Reino Unido.

Graham Brady, presidente da Comissão 1922, que gere o processo de eleições internas do Partido Conservador, comunicou que a votação será realizada ainda no fim desta quarta-feira. “Os votos serão contados imediatamente após a votação e o resultado será anunciado quando possível esta noite”, acrescentou.

“Vou lutar contra essa votação com todas as minhas forças”, disse May num breve discurso em Downing Street, a residência dos chefes de governo britânicos.
E acrescentou que estava “firmemente decidida a terminar o trabalho” de aplicação do Brexit.  “Devemos concluir o voto do referendo [sobre a saída da União Europeia] e aproveitaremos as oportunidades que temos pela frente”, afirmou.

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Na sua declaração, a primeira-ministra disse que eleger agora um novo líder conservador é um “risco” para o futuro do país e sublinhou que um outro chefe não terá tempo suficiente para reabrir as negociações com a União Europeia sobre o Brexit. Ela inclusive cancelou sua viagem à Irlanda para ficar em Londres e obter apoios para a votação.

Para May, uma nova liderança teria que adiar a retirada do país da UE ou revogar a notificação em que é baseada, o Artigo 50° do Tratado de Lisboa, que permite a retração de um país-membro do bloco e que o Reino Unido invocou em março de 2017, dando início ao processo para a saída britânica do bloco comunitário europeu. Na opinião de May, o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, seria o beneficiário da chegada de uma nova cabeça à frente dos conservadores, que estão no poder.

O oposicionista Corbyn tem enfrentado pressão de sua agremiação e, especialmente, de outros grupos de oposição, como o Partido Verde e o Partido Nacional Escocês, para convocar no Parlamento britânico uma moção de desconfiança contra o governo de May, na qual todos os parlamentares poderiam votar. Até agora, ele tem resistido.

A ação interna do Partido Conservador ocorre enquanto May enfrenta um descontentamento generalizado no Parlamento britânico.

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O descontentamento decorre do acordo negociado por ela sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, marcada para 29 de março.

Na terça-feira, May adiou uma votação parlamentar sobre o acordo do Brexit depois que ficou claro que seria extremamente improvável que este seria aprovado pelos legisladores.

O ex-ministro para Meio Ambiente do Reino Unido, Owen Paterson, um dos parlamentares conservadores que apresentaram uma carta de desconfiança para acionar a moção, descreveu o acordo do Brexit como “tão ruim que não pode ser considerado outra coisa senão traição de promessas claramente manifestadas”.

Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse que uma batalha pela liderança é “a última coisa que o país precisa” e que May é “a melhor pessoa para garantir que realmente deixaremos a UE em 29 de março”.

O ministro do Interior, Sajid Javid, compartilhou da mesma opinião de Hunt e afirmou que uma votação pela liderança partidária seria “vista como autoindulgente e errada” e que May tem seu “apoio total”.

O antecessor de May, David Cameron, que convocou o referendo sobre a saída britânica da União Europeia em junho de 2016, instou os parlamentares conservadores a votarem pela manutenção da primeira-ministra no cargo. Segundo levantamento da agência de notícias Reuters, ao menos 100 parlamentares citaram publicamente apoio a May.

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