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Massa supera Milei e é o mais votado na Argentina; eleição vai ao 2º turno

O ministro da Economia surpreendeu e demonstrou força na primeira rodada. Peronismo e ultradireita se enfrentarão em 19 de novembro

O candidato à Presidência da Argentina Sergio Massa após votar, em 22 de outubro. Foto: Emiliano Lasalvia/AFP
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A eleição para a Presidência da Argentina terá um segundo turno, a ser disputado em 19 de novembro pelo ministro da Economia e candidato do peronismo, Sergio Massa, e o ultradireista Javier Milei.

A maioria das pesquisas indicava a liderança de Milei, mas Massa fechou o primeiro turno, neste domingo 22, na liderança, com cerca de seis pontos de vantagem sobre o principal adversário.

Confira os números, com 97% dos votos apurados:

  • Sergio Massa (Unión por la Patria): 36%;
  • Javier Milei (La Libertad Avanza): 30%;
  • Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio): 24%;
  • Juan Schiaretti (Hacemos por Nuestro País): 7%; e
  • Myriam Bregman (Frente de Izquierda): 3%.

Assista à festa no “bunker” de Massa após a confirmação do resultado:

Vídeo: André Lucena

Conheça os candidatos:

Sergio Massa:

Como ministro da Economia desde 2022, Massa luta contra uma inflação anualizada de quase 140%, a perda do valor da moeda e o aumento da pobreza, a atingir 40% da população. Ele atribui a crise à dívida com o Fundo Monetário Internacional contraída pelo governo do neoliberal Maurico Macri em 2018, além da pandemia da Covid-19 e de uma seca histórica.

Sempre aberto ao diálogo, calmo e sorridente, Massa, um advogado de 51 anos, aposta em seus mais de 30 anos de carreira política. Baseou sua campanha em uma promessa de unidade, em contraste com a disrupção inflamada representada por Milei.

“Massa tem como seu principal trunfo ser aquele funcionário que surgiu como salva-vidas em um contexto delicado (após a renúncia do então ministro da Economia, Martín Guzmán, e a curta passagem de Silvina Batakis na pasta), momento em que começou a se destacar a sua participação na coalizão eleitoral”, disse em entrevista a CartaCapital Mercedes Koch, mestre em Estudos Internacionais pela Universidade Torcuato di Tella, de Buenos Aires.

“Ele também tem uma posição muito sólida na política externa, na qual encontra muito apoio em parceiros da região e sobretudo o apoio da Presidência de Lula, que colaborou na campanha com sua expertise técnica.”

Sergio Massa concorre como candidato do Unión por la Patria, aliança de vários setores do peronismo, incluindo o de Cristina Kirchner, a vice-presidenta do país. Ela e o presidente Alberto Fernández estiveram visivelmente ausentes da campanha presidencial.

Filho de imigrantes italianos, Massa cresceu na periferia de Buenos Aires. É casado e tem dois filhos.


Javier Milei:

Economista de ultradireita e “libertário”, Milei trabalhou no setor privado até dois anos atrás. Tornou-se conhecido na televisão e depois viralizou nas redes sociais, nas quais conquistou parte dos jovens com uma retórica contra “a casta” do “establishment” político.

Concorrendo pelo partido La Libertad Avanza, ele promete dolarizar a economia, proibir o aborto, permitir o porte de armas, reduzir drasticamente os impostos e cortar os gastos públicos. Fez campanha segurando uma motosserra para simbolizar os cortes orçamentários que planeja fazer.

São frequentes as comparações com Donald Trump e  Jair Bolsonaro (PL), embora nenhum deles tenha ido tão longe a ponto de propor “dinamitar” o Banco Central. Segundo Milei, a instituição é “um mecanismo pelo qual os políticos fraudam os argentinos”.

Tem 52 anos, é solteiro e não tem filhos.

“O campo de Milei soube aproveitar muito bem o resultado após as primárias. Enquanto o governismo se questionava e se mantia em silêncio nos primeiros dias, o foco da mídia esteve nos representantes de La Libertad Avanza”, analisa Koch.

“Milei soube se articular muito bem nas entrevistas que concedeu, de acordo com cada entrevistador. Enquanto na mídia nacional ele e Victoria Villarruel [sua vice] tentaram transmitir a imagem de que seu eventual governo não pretende avançar contra tudo, em outros meios de comunicação – internacionais, por exemplo -, Milei procurou se estabelecer como mais um ator da ultradireita.”

As primeiras palavras

Após a confirmação do resultado, na noite deste domingo, Massa discursou em Buenos Aires e afirmou que a democracia argentina “está mais forte e robusta”.

“Sei que muitos dos que votaram em nós são os que mais sofrem, e não vou decepcioná-los. Saibam que, como presidente, a partir de 10 de dezembro, não vou decepcioná-los”, reforçou o peronista.

Ele fez uma clara sinalização aos eleitores de outros candidatos, na tentativa de construir uma frente ampla para o segundo turno.

“Quero falar também aos argentinos que votaram em branco, ficaram em casa, ou escolheram Myriam Bregman ou Juan Schiaretti”, prosseguiu. “Falar também com aqueles que escolheram outra opção, com a necessidade de uma Argentina em paz, com ordem, aqueles que querem um país sem incertezas.Meu compromisso é construir mais Argentina.”

“É importante estabelecer os pilares da política de Estado: vamos convocar um governo de unidade nacional para construir uma indústria argentina forte, para aqueles que querem mais educação pública, a construção de um regime trabalhista moderno sem abrir mão dos direitos conquistados.”

Milei, por sua vez, já sinalizou para a direitista Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio), terceira colocada. “Todos os que queremos mudanças temos de trabalhar juntos”, afirmou o ultradireitista direto de seu “bunker“, em Buenos Aires.

Ele disse que “o kirchnerismo foi a pior coisa que já aconteceu à Argentina.”

“De não ter um partido a estar na disputa com o kirchnerismo é uma conquista histórica”, prosseguiu. Milei classificou como “impressionante” o fato do seu campo político ter se construído em dois anos. “Estamos diante das eleições mais importantes dos últimos 100 anos.”

Outra vitória

Além de surpreender na eleição presidencial, o peronismo conquistou uma grande vitória na disputa para governador da província de Buenos Aires.

Axel Kicillof (Unión por la Patria) garantiu a reeleição em primeiro turno com uma larga vantagem sobre os adversários. Com 88% da apuração realizada, ele obteve 45% dos votos, ante 27% de Néstor Grindetti (Juntos por el Cambio) e 25% de Carolina Píparo (La Libertad Avanza, partido de Javier Milei). Rubén Sobrero (Frente de Izquierda) somou 4%.

“Estamos comemorando 40 anos de democracia. Neste ano, votamos pela décima vez para presidente da Argentina e quero deixar claro que esta democracia se baseia na profunda memória de uma época genocida. Esta votação significa: Ditadura nunca mais”, discursou. Trata-se de uma referência ao ultradireitista Javier Milei, que tenta minimizar o horror da ditadura argentina.

“A resignação e a antipolítica não nos derrotaram.”

Em seu pronunciamento, o governador reeleito também exaltou a vice-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, principal referência do peronismo na Argentina.

“Vocês sabem que neste período CFK passou por um atentado contra sua vida e mesmo assim continua a liderar. Nunca nos incentivou a cair no ressentimento ou na vingança. É um exemplo contra quem recorre ao ódio e à violência”, afirmou.

Kicillof declarou, ainda, que em Buenos Aires “a grande maioria” sabe que há problemas, mas que eles serão resolvidos “com mais Estado, não menos” e “com mais solidariedade, não com egoísmo”.

“Sempre fomos um povo solidário: a província continua a acreditar em mais Estado, mais solidariedade e mais pátria.”

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