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Mariupol, a cidade ucraniana sob os escombros da guerra

Relatório internacional revela extensão dos ataques russos a uma das principais cidades ucranianas

Soldado vigia rua em Mariupol, na Ucrânia. Foto: ALEXANDER NEMENOV/AFP
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A cidade de Mariupol, na Ucrânia, foi e continua sendo um dos principais palcos da guerra entre o país do leste europeu e a Rússia, que completará dois anos no próximo dia 24. 

A incursão militar russa foi responsável por deixar milhares de civis mortos e feridos, somente entre março e maio daquele ano, em ataques que podem ter violado as normas humanitárias de direito internacional.

É o que mostra o relatório “Nossa Cidade Desapareceu: A destruição russa de Mariupol, Ucrânia“, divulgado em conjunto, nesta quarta-feira 8, por três organizações internacionais: a Human Rights Watch, a Truth Hounds e a SITU Research.

O relatório descreve a agonia da cidade ucraniana frente aos ataques russos. Baseado em 235 entrevistas feitas com moradores deslocados de Mariupol, bem como na análise de centenas de documentos sobre os ataques, a pesquisa mostra que os ataques iniciais russos destruíram ou danificaram, por exemplo, 93% de todos os prédios centrais da cidade.

Além disso, todos os dezenove centros hospitalares foram deteriorados, assim como 86 das 89 instalações educacionais. 

Dar números precisos sobre a quantidade de mortos não apenas em Mariupol, mas em todos os locais afetados pela guerra, é tarefa ainda difícil. Ainda assim, com base na pesquisa, as ONGs apontam que mais de 10 mil pessoas foram enterradas na cidade ucraniana, entre março de 2022 e fevereiro de 2023.

Ao comparar o aumento das sepulturas com a taxa de mortalidade habitual da cidade, os investigadores estimaram que pelo menos 8 mil pessoas teriam morrido em decorrência do conflito. Não é possível determinar, porém, quantos seriam civis. 

“A destruição de Mariupol pelas forças russas se destaca como um dos piores capítulos da invasão russa em larga escala na Ucrânia”, comentou Ida Sawyer, diretora de crises e conflitos da Human Rights Watch.

O relato sobre Mariupol

Não é por acaso que o Kremlin direcionou o seu alvo contra Mariupol. Localizada às margens do Mar de Azov, a cidade é importante no eixo entre a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e a cidade de Donbass, de perfil separatista.

Do ponto de vista estritamente econômico e financeiro, a tomada de Mariupol implicaria no fato de que a Ucrânia deixaria de ter acesso, entre outras coisas, à região portuária através da qual exporta itens como milho, aço e carvão para países da Ásia e do Oriente Médio.

O custo humanitário da empreitada russa foi e continua sendo alto. Nas primeiras oito semanas dos ataques à cidade, segundo o relatório, “centenas de milhares de habitantes da cidade enfrentaram destruição e morte”.

“Residentes se abrigam em porões, vivendo com o medo de ataques aéreos, bombardeios incessantes e confrontos entre os exércitos”, aponta o relato, que afirma que “400.000 residentes fugiram da cidade até meados de maio, mas aqueles que permaneceram ficaram meses sem serviços básicos, incluindo eletricidade, água corrente e cuidados de saúde”. 

Hoje em dia, em meio a uma guerra que não dá sinais de acabar, a Ucrânia de Volodymyr Zelensky segue buscando apoio internacional, especialmente no que diz respeito ao envio de arsenais para as frentes de batalha. Entretanto, a ineficiência da contra ofensiva ucraniana, no ano passado, não favorece os planos do país.

Atualmente, Mariupol é uma cidade quase irreconhecível. As forças de ocupação, segundo o relatório, começaram o processo de construção de novos edifícios, mas não dão condições para investigações precisas sobre o local.

“Ao não criar as condições para permitir que investigadores independentes de direitos humanos, especialistas forenses e autoridades judiciais examinem os edifícios danificados antes da demolição, a Rússia efetivamente apagou as evidências físicas em centenas de cenas de potenciais crimes pela cidade”, indica a pesquisa.

A responsabilização

Diante dos relatos apresentados e de toda a documentação analisada, as entidades cobram que as autoridades russas sejam responsabilizadas.

Para as ONGs, há indícios de que crimes de guerra foram cometidos nas ações. As entidades apontam que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, seria responsável pelo cometimento dos crimes.

Além de Putin, o relatório cita os nomes de Sergei Shoigu (ministro de Defesa da Rússia) e Valery Gerasimov (chefe do estado-maior das Forças Armadas da Rússia) e outras sete autoridades russas.

“Esses indivíduos, e potencialmente outros comandantes das 17 unidades identificadas em Mariupol, deveriam ser investigados e devidamente processados por seus possíveis papéis em graves violações cometidas durante os ataques das forças russas”, diz o relatório.

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