Cultura

Mãe de Da Vinci era escrava e foi emancipada pelo pai do artista, diz pesquisador

As descobertas de Carlo Vecce lançaram uma nova luz sobre o arquétipo do gênio universal

Um registro do 'Codex Trivulzianus' de Leonardo da Vinci retratado em Villa La Logia, em Florença, em 14 de março de 2023. Foto: MARCO BERTORELLO/AFP
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Leonardo da Vinci, o célebre autor de Mona Lisa e símbolo do Renascimento, seria apenas “meio italiano”, segundo um renomado acadêmico, já que a mãe do gênio era uma escrava procedente do Cáucaso.

Segundo trabalho do professor Carlo Vecce, especialista em Renascimento e professor da Universidade de Nápoles, a história do multifacetado artista é muito mais atormentada do que o esperado.

Nascido em 1452, Leonardo era fruto de uma relação entre um rico tabelião da República Florentina e Caterina, apresentada até agora como uma camponesa de origem humilde sobre quem pouco se sabia.

Catarina “foi uma mulher que havia sido sequestrada em seu país de origem, nas montanhas do Cáucaso, vendida várias vezes em Constantinopla e depois em Veneza, quando finalmente chegou a Florença, onde conheceu o jovem tabelião Pierre da Vinci”, explicou Vecce em uma entrevista à AFP.

“Ela deu ao filho o nome de Leonardo”, diz com satisfação ao resumir a extraordinária viagem feita para contar a odisseia da mulher, escrava circassiana e até agora desconhecida, no livro intitulado O sorriso de Catarina – a mãe de Leonardo da Vinci.

As descobertas de Vecce, que passou anos rastreando tudo relacionado a Leonardo, lançaram uma nova luz sobre o arquétipo do gênio universal, que já foi pintor, arquiteto, paleontólogo, botânico, escritor, escultor, filósofo, engenheiro, inventor, músico, poeta e urbanista.

A nova teoria certamente provocará polêmica entre os especialistas italianos do Renascimento, que estudarão a documentação com uma lupa. O professor baseia suas afirmações em uma série de documentos históricos, que ele pacientemente compilou de vários arquivos.

“O mais importante é um documento escrito pessoalmente por Pierre da Vinci, pai de Leonardo. Trata-se do ato em que proclama a emancipação de Caterina“, escritura notarial que lhe permitiu “recuperar a sua liberdade e a sua dignidade de ser humano”.

“Espírito de liberdade”

Datado de 1452, o precioso documento foi apresentado nesta terça-feira 14 durante uma conferência de imprensa na sede da editora florentina Giunti, perante diversos meios de comunicação nacionais e internacionais.

Para Vecce é o testemunho de “um homem que amava Caterina quando ela ainda era escrava, que teve um filho com ela e que a ajudou a encontrar a liberdade”.

Trata-se de uma mudança radical de perspectiva, já que Leonardo era considerado até agora fruto de um caso de amor ilegítimo entre Pierre da Vinci e a jovem camponesa da Toscana chamada Caterina di Meo Lippi.

Segundo o professor, os sofrimentos da mãe escrava e “migrante” obviamente impactaram a obra de Leonardo, que recebeu de Caterina “o espírito de liberdade”, que “inspira todo o seu trabalho científico” e seu “trabalho intelectual”.

A teoria de Vecce “é a mais convincente”, diz Paolo Galluzzi, historiador especialista na vida de Leonardo e membro da prestigiosa academia científica Lincei de Roma, entrevistado pela AFP.

Ele destaca a qualidade dos documentos fornecidos por seu colega de profissão.

“Claro que resta um mínimo de dúvidas, porque não podemos provar a relação por meio de um teste de DNA”, reconhece.

Galluzzi confessou, no entanto, que a notícia não o surpreende: aquele período histórico marcou “o início da modernidade, das trocas entre povos, culturas e civilizações que deram origem ao mundo moderno”.

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