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Lula não é visto pelos russos como um grande aliado de Putin, diz historiador em Moscou

Segundo Rodrigo Ianhez, há uma tendência no Brasil a ‘superestimar a reação que os russos têm aos fatos ligados à nossa relação bilateral’

Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Apesar de declarações sobre a guerra na Ucrânia que geraram uma forte repercussão e um repúdio público da Casa Branca, o presidente Lula não é visto na Rússia como um aliado destacado de Vladimir Putin. A avaliação é do historiador brasileiro Rodrigo Ianhez, especialista no período soviético que mora em Moscou há mais de 11 anos.

No fim de semana, duas declarações de Lula sobre a guerra geraram repercussão internacional:

– Na sexta-feira 14, em Pequim, ele afirmou que os EUA e a União Europeia “precisam parar de incentivar a guerra e começar a falar em paz”.  Só assim, emendou Lula, seria possível convencer Putin e Zelensky de que e a guerra, por enquanto, só está interessando aos dois;

– No domingo 16, em Abu Dhabi, Lula disse: “Eu penso que a construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países”.

CartaCapital, Ianhez afirmou que a declaração de Lula sobre EUA e UE foi muito destacada porque está de acordo com uma visão popular na Rússia, segundo a qual a Otan está participando da guerra ao lado da Ucrânia.

“A outra declaração [sobre o conflito ser resultado da vontade de dois países] nem tanto, até mesmo porque, para o público russo, esta não é uma guerra que começou no ano passado, mas um conflito que se estende desde 2014”.

O historiador também questionou a narrativa, difundida por alguns jornalistas e analistas no Brasil, de que haveria uma adesão do Brasil ao “lado russo” na guerra.

“O Lula não é celebrado como um grande aliado da Rússia, como às vezes colocam alguns jornalistas brasileiros emocionados”, avalia Ianhez. “A repercussão alude a um alinhamento do Lula com a Rússia, mas isso não é de maneira alguma destacado na imprensa russa.”

Segundo ele, há muita ênfase sobre as declarações recentes de Lula, “mas se menciona pouco o fato de que a posição do Brasil, várias vezes reforçada pelo chanceler e por outros ministros, é por um imediato cessar-fogo“. A resolução do conflito nesses termos, diz o historiador, “não é exatamente uma vitória extratégica da Rússia, mas algo como uma manutenção do status quo“.

De uma forma geral, acrescenta Ianhez, há uma tendência no Brasil a “superestimar a reação que os russos têm aos fatos ligados à nossa relação bilateral”, inclusive a respeito da viagem do chanceler Sergey Lavrov a Brasília.

“As declarações de Lula e a visita de Lavrov têm recebido a devida cobertura, mas é algo bastante restrito à imprensa. A maioria dos russos acaba não sabendo”, resume. “Os russos veem ainda com certo receio essas iniciativas que o Brasil propõe para uma possível mediação com a Ucrânia, mas como possibilidade de alternativa. Porém, não há um imenso entusiasmo, porque está tudo em um plano de proposta pouco concreta.”

Nesta segunda 17, a Casa Branca criticou duramente o Brasil depois de Lula afirmar que os Estados Unidos encorajam a guerra na Ucrânia. “Neste caso, o Brasil está papagueando a propaganda russa e chinesa sem observar os fatos em absoluto”, disse a jornalistas o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby.

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