Mundo

Justiça responsabiliza Irã por atentados contra comunidade judaica na Argentina

Os atentados ocorreram em 1992 e 1994 na embaixada de Israel e na Associação Mutual Israelita Argentina

Justiça responsabiliza Irã por atentados contra comunidade judaica na Argentina
Justiça responsabiliza Irã por atentados contra comunidade judaica na Argentina
Um homem caminha sobre os escombros deixados após a explosão de uma bomba na Associação Mútua Israelita Argentina (AMIA) em Buenos Aires, 18 de julho de 1994. Foto: Ali BURAFI / AFP
Apoie Siga-nos no

A Justiça argentina determinou nesta quinta-feira (11) que os atentados à embaixada de Israel e à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1992 e 1994, respectivamente, foram ordenados pelo Irã, uma decisão considerada histórica pela comunidade judaica, informou a imprensa.

O texto, a cargo da Câmara de Cassação Penal Federal II, também apontou o movimento xiita Hezbollah como autor, declarou o Irã um “Estado terrorista” e chamou o atentado à Amia de crime contra a humanidade, segundo a imprensa.

“O Hezbollah executou uma operação que respondia a um plano político, ideológico, revolucionário e sob o mandato de um governo, de um Estado”, disse à Rádio Con Vos o juiz Carlos Mahiques, referindo-se ao Irã.

A decisão “é histórica, única na Argentina“, ressaltou ao canal LN+ o presidente da Delegação de Associações Israelitas Argentinas, Jorge Knoblovitz. Além disso, “abre a possibilidade de uma ação no Tribunal Penal Internacional, porque ficou claramente estabelecido que o Irã é um Estado terrorista.”

Decisão paralela

A decisão, tomada por três juízes, foi anunciada no âmbito de uma decisão paralela, também tomada hoje, que revisa o caso das irregularidades que ocorreram durante a investigação e que ratifica a absolvição de Carlos Telleldín, primeiro detido pelo atentado à Amia, e as condenações por irregularidades durante a investigação.

A decisão paralela, de 711 páginas, examina o contexto geopolítico de ambos os ataques e determina que a sua motivação, embora não tenha sido a única, respondeu à política externa do então presidente Carlos Menem (1989-1999).

“Teve origem, principalmente, na decisão unilateral do governo – motivada por uma mudança na política externa ocorrida entre 1991 e 1992 – de cancelar três contratos com o Irã de fornecimento de material e tecnologia nuclear”, informa o texto, ao qual a AFP teve acesso.

A Argentina sofreu dois atentados graves, ambos em Buenos Aires: em 1992, contra a sede da embaixada israelense, que causou 29 mortes, e em 1994 contra o prédio da Amia, o pior da história argentina, que deixou 85 mortos.

Uma foto de arquivo datada de 17 de março de 1992, em Buenos Aires, mostra a destruição da embaixada israelense na Argentina após um enorme ataque a bomba.
Foto: DANIEL GARCIA / AFP

Em 2006, promotores argentinos acusaram o grupo pró-Irã Hezbollah de ter realizado o atentado contra Amia e funcionários iranianos de terem ordenado o ataque, o que Teerã nega. Não houve detidos nesse caso, e os motivos do atentado ainda não haviam sido esclarecidos.

A investigação judicial aponta que os principais suspeitos do ataque eram membros do governo iraniano, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani. O caso foi tomado por denúncias de desvio de pistas, condenações por encobrimento e processos anulados.

Um julgamento sobre o atentado à Amia foi concluído em 2019, com penas leves para funcionários da Justiça e do governo do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), declarados culpados de “encobrir” o ataque. O motivo do ocultamento de provas e do desvio das investigações não foi determinado.

A comunidade judaica da Argentina é a maior da América Latina e reúne cerca de 300 mil pessoas.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo