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Julgamento dos ‘Panama Papers’ começa oito anos após explosão do escândalo

Em 3 de abril de 2016 o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) informou que diversas personalidades praticaram evasão fiscal e lavaram dinheiro através de um escritório de advocacia panamenho

Julgamento dos ‘Panama Papers’ começa oito anos após explosão do escândalo
Julgamento dos ‘Panama Papers’ começa oito anos após explosão do escândalo
O extinto escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, usado por personalidades do mundo todo para lavar dinheiro. Eles estão no centro do escandaloso 'Panama Papers'. Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP
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Vinte e sete pessoas serão julgadas a partir desta segunda-feira (8) no caso conhecido como “Panama Papers”, oito anos após a explosão do escândalo que revelou como personalidades de todo o mundo teriam ocultado dinheiro com o trabalho do extinto escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca.

Entre os réus estão os fundadores do escritório, Jürgen Mossack e Ramón Fonseca Mora, além de outros advogados e ex-funcionários da empresa extinta, acusados de lavagem de dinheiro.

As audiências prosseguirão até 26 de abril em um tribunal criminal, informou o Judiciário do Panamá, que destacou em um comunicado que “a investigação é composta por 528 volumes”, com milhares de páginas.

“Audiências estão programadas para 27 réus acusados pela suposta prática do crime de lavagem de dinheiro”, acrescenta a nota.

O julgamento deveria ter acontecido em 2021, mas foi adiado por vários motivos.

As audiências começarão oito anos depois da divulgação das denúncias: em 3 de abril de 2016 o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) informou que diversas personalidades supostamente praticaram evasão fiscal e lavaram dinheiro através do escritório de advocacia panamenho.

A investigação, baseada no vazamento de 11,5 milhões de documentos procedentes da Mossack Fonseca, mostrou que chefes de Estado e de Governo, líderes políticos, personalidades das finanças, dos esporte e das artes ocultaram propriedades, empresas, bens e lucros.

Para isto, as personalidades teriam criado empresas opacas no Panamá para abrir contas bancárias em outros países e criar empresas de fachada e fundações nas quais poderiam esconder o dinheiro, procedente em alguns casos de atividades ilícitas.

Entre os citados na época estavam os ex-governantes da Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson; do Paquistão, Nawaz Sharif; da Grã-Bretanha, David Cameron; e da Argentina, Mauricio Macri. Também foram mencionados o astro argentino do futebol Lionel Messi e o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, entre outras personalidades.

Com o escândalo, o escritório da Mossack Fonseca encerrou as atividades, enquanto a imagem internacional do país, acusado de ser um paraíso fiscal, foi gravemente afetada.

Parte da atual legislação panamenha, no entanto, não existia quando o caso explodiu, o que pode dificultar as condenações na justiça.

“O cerne da questão é se um crime foi cometido ou não no Panamá com as normas da época”, declarou à AFP o jurista Carlos Barsallo, que presidiu de 2019 a 2021 o departamento panamenho da Transparência Internacional.

Barsallo recorda que, em 2021, a Corte Suprema exonerou uma funcionária da Mossack Fonseca por considerar que as suas ações na época não constituíam crime no Panamá.

Depois dos “Panama Papers” o país realizou aprovou algumas reformas jurídicas, o que permitiu a saída da “lista cinza” do Grupo de Ação Financeira (GAFI) em 2023.

Porém, o Panamá permanece na lista de territórios considerados “paraísos fiscais” pela União Europeia.

Em 2023, Mossack e Fonseca foram julgados no Panamá por suposta lavagem de dinheiro no caso “Lava Jato” no Brasil, no qual empreiteiras foram acusadas de pagar subornos a governantes e funcionários de alto escalão em países da América Latina para obter contratos entre 2005 e 2014.

O Ministério Público pediu penas de até 12 anos de prisão para ambos, mas a sentença ainda não foi divulgada.

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