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Jornal português mostra o crescimento da influência das igrejas evangélicas brasileiras na política local

O voto religioso, com o apoio de pastores brasileiros como Silas Malafaia, foi importante para o sucesso da extrema-direita nas eleições legislativas em Portugal

(Foto: Paula Fróes/BA Press)
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Há décadas as igrejas evangélicas avançam para se consolidar como uma força política no Brasil, especialmente, a partir das eleições presidenciais de 2018, quando foram decisivas para a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora, a influência do grupo ultrapassa as fronteiras nacionais, com a expansão das igrejas pelo mundo, principalmente nos países lusófonos na África e em Portugal.

No país europeu, a ascensão e a influência dos evangélicos ficou clara nas últimas eleições legislativas, ocorridas no início de março. Assim como no Brasil, o segmento se aproximou da extrema-direita portuguesa, apoiando candidatos que defendiam a bandeira dos valores morais e da família.

Nessas eleições, o voto em dois partidos identificados no extremo do espectro político, o Chega e o ADN (Alternativa Democrática Nacional) mostrou a capacidade de mobilização do grupo, que se enraíza na política portuguesa há pelo menos 10 anos.

Em entrevista ao jornal português Diário de Notícias, Donizete Rodrigues, professor de Sociologia da Religião na Universidade da Beira Interior, apontou que o segmento se utiliza de uma estratégia chamada de “teologia do domínio”, aplicada com sucesso nos Estados Unidos de Donald Trump e no Brasil, com Bolsonaro.

“É uma ideologia que assenta na ideia de tomar o poder para transformar a sociedade. Isso começa com um grupo, é uma ideologia extremamente ultraconservadora, que navega facilmente nos partidos ou nos movimentos de direita, direita radical ou extrema-direita, como é o caso do Trump, Bolsonaro e agora André Ventura em Portugal, além do ADN”, argumentou Donizete ao jornal.

Para o professor, não há dúvidas de que o Chega e o ADN “claramente, têm por trás o apoio dessa elite evangélica que defende a teologia do domínio”.

Atualmente, existe uma associação, a Aliança Evangélica Portuguesa, que reúne as mais de 700 congregações espalhadas por todo o país. Essa entidade visa aproximar os pastores de diferentes denominações batistas e evangélicas em busca de um mesmo caminho.

Um evento organizado pela AEP, pouco antes das eleições legislativas, teve como principal orador o pastor brasileiro Silas Malafaia, acompanhado por diversos personagens da extrema-direita portuguesa. Os discursos feitos no encontro deixam claras as motivações políticas do grupo.

Segundo a reportagem do Diário de Notícias, um dos pastores convidados começou o evento com uma mensagem parabenizando Portugal por “ter um novo governo” e que deve estar “preparado para um novo tempo, de prosperidade, em que o mundo verá uma nação portuguesa próspera”.

A afinidade moral e ideológica levou o ADN a formalizar um acordo com quase a totalidade das igrejas evangélicas de Portugal.

O apoio e as ideias conservadoras rendeu ao grupo, classificado por um relatório da ONG norte-americana Global Project Against Hate and Extremism como “grupo de ódio e de extrema-direita”, mais de 100 mil votos em 2024, 90 mil a mais que nas eleições de 2022.

Seu líder, Paulo Nunes, chegou a pegar emprestado do Brasil o termo “bancada evangélica”, que reúne os parlamentares religiosos eleitos para o parlamento.

Alguns deles participaram ativamente da campanha do ADN, como Marco Feliciano, deputado federal em quarto mandato e um aliado de primeira hora do ex-presidente Bolsonaro.

Em vídeo enviado para apoiar o ADN, o deputado, denominando-se como “porta-voz de Jair Bolsonaro”, apela ao “voto dos cristãos católicos e evangélicos”.

Em troca, o partido declarou apoio à manifestação, organizada por Silas Malafaia, a favor de Bolsonaro em São Paulo.

Dias antes das eleições, foi a vez do ex-capitão retribuir o favor. Em um vídeo nas redes sociais, Bolsonaro mostrou apoio ao candidato a uma cadeira no parlamento, André Ventura, líder do Chega.

“É a direita, o conservadorismo, as pessoas de bem. [André Ventura] está do lado do bem”, proclamou Bolsonaro.

A orientação do voto dos fiéis foi pedida por líderes da ADN a pastores para garantir o voto evangélico nas legislativas de março. E assim como no Brasil, os argumentos de convencimento foram forjados sob fake news.

Se no Brasil tivemos a “mamadeira erótica”, em Portugal, segundo o DN, se ilude os conservadores com a falsa informação de que uma lei recente prenderia os pais que não levassem seus filhos que manifestaram desejo por “trocar de sexo” ao psicólogo e que a OMS e a ONU estariam instruindo escolas primárias de todo o mundo a dar aulas sobre atos sexuais. Naturalmente, nenhuma destas afirmações tem a mínima relação com a realidade.

Expansão evangélica

Apesar da maioria católica em Portugal, fiéis evangélicos tem crescido, principalmente depois da pandemia de Covid-19. É o que apontam dados da Igreja Evangélica em Portugal, de 2023.

No estudo, 82% dos pastores asseguram que as suas igrejas “estão a crescer” e que “grande parte das conversões nos últimos três anos incidiu entre os católicos não-praticantes e indivíduos provenientes de famílias evangélicas”.

A expansão das igrejas evangélicas também é um plano, como prova o avanço da congregação de Silas Malafaia em Portugal e no mundo.

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