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Inflação de fevereiro na Argentina fica em 13,2% e Milei libera importações de itens da cesta básica

Governo comemora ‘numeraço’, mas queda no poder de compra da população paralisa comércio na Argentina

Medidas de ajuste geram perda de poder de compra da população argentina e freia comércio. Foto: Juan Mabromata/AFP/Getty Images
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BUENOS AIRES – A inflação de fevereiro na Argentina ficou em 13,2%. A informação foi confirmada na última terça-feira 12 pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).

A subida de preços no últimos mês ficou abaixo do esperado pelo mercado e pelo próprio governo Javier Milei. Apesar disso, a taxa interanual alcançou 276,2%, que coloca a Argentina como o país de maior inflação do mundo.

Os três primeiros meses do governo Milei vêm sendo marcados por patamares elevados de inflação, apesar de estarem em queda. Em dezembro, o índice ficou em 25,5%. Já em janeiro, a subida generalizada fechou em 20,6%.

Comunicação (24,7%), transportes (21,6%) e habitação, água, luz, gás e outros combustíveis (20,2%) foram os setores com maiores altas.

Milei chamou a o índice de “numeraço”, comemorando o patamar. “É um número que, depois do desastre que tivemos que enfrentar, é produto do trabalho do ministro [da Economia] Luis ‘Toto’ Caputo, um trabalho formidável. 

População perde poder de compra e comércio recua

A provisória queda nos preços do país tem um custo: a redução do poder de compra dos argentinos. Salários e aposentadorias, por exemplo, não conseguem acompanhar o ritmo da inflação na Argentina. 

A disparada nos preços foi incrementada, principalmente, pela desvalorização do peso argentino frente ao dólar, promovida por Caputo logo na primeira semana de governo.

O prejuízo se acentua nos setores mais pobres do país, avança sobre a classe média e, pouco a pouco, paralisa o comércio. 

A Confederação Argentina de Médias Empresas (CAME), em um levantamento divulgado no início do mês, mostrou a dimensão da queda: as vendas do comércio minorista – ou seja, mercados, mercadinhos e locais de venda direta para consumidores – recuaram 27% no primeiro bimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo a organização, fevereiro “foi apontado [pelos comerciantes] como um mês para ser esquecido, com dias consecutivos em que não se registraram vendas”. Dessa forma, a queda é resultado do fato de que “as famílias tornaram visíveis todos os seus problemas econômicos” por falta de poupança.

Como resultado, a pobreza no país cresce. De acordo com uma projeção do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA), 57% da população argentina vive, atualmente, na pobreza. O fenômeno é resultado de anos de crise e inflação persistente, incrementado, segundo os pesquisadores, pela extensão das medidas de ajuste fiscal do novo governo.

Liberação para importação

O governo Milei comemorou ontem, mas deverá ter motivos para se preocupar no curto prazo. Em entrevista recente à imprensa argentina, o próprio presidente reconheceu que março deverá ser um mês “muito complicado” porque “tem uma questão de sazonalidade muito densa”. Milei aposta, porém, que abril traga uma queda na inflação.

Nas principais redes de supermercado do país, já é possível notar que a primeira quinzena do mês veio com subidas acentuadas em produtos básicos, como carne, laticínios e itens de higiene, por exemplo.

Nesse contexto de incerteza, o Ministério da Economia da Argentina decidiu, ontem, promover a abertura de importações para itens da cesta básica. A medida vale para produtos como batata, café, banana, carne de porco, itens de limpeza e medicamentos, entre vários outros.

A Argentina realiza, historicamente, controle das importações. A lógica é valorizar exportações e incentivar a entrada de dólares em um país cuja reserva na moeda norte-americana é baixa.

Na esteira da liberação de importações, o Banco Central argentino vai reduzir o prazo de pagamento de importações de alimentos, por exemplo. 

Atualmente, o pagamento pode ser parcelado em até 120 dias, mas passará a ser feito em um único pagamento em trinta dias. Haverá, também, uma suspensão de 120 dias na cobrança de dois impostos sobre itens básicos, incluindo medicamentos.

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