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Guaidó ataca jornalismo de TV na Venezuela e anuncia “reestruturação”

Em resposta, rede Telesur acusou Guaidó de tentativa de censura à liberdade de imprensa; tag de protesto ficou em 1º no Twitter

O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó. Foto: Frederico Parra/AFP
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Deputado opositor ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela, Juan Guaidó anunciou, no domingo 12, que iniciará um processo de “reestruturação” da emissora de TV multiestatal Telesur a partir desta segunda-feira 13. Com programação jornalística voltada para a América Latina, a rede televisiva foi criada em 2005 pelo então presidente Hugo Chávez e é financiada por países como Venezuela, Uruguai e Cuba.

Em 6 de janeiro, Guaidó se autoproclamou presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, mesmo sem ter participado da votação oficial entre os parlamentares. A Organização dos Estados Americanos (OEA) reconheceu Guaidó como presidente do parlamento e rechaçou a eleição que deu vitória ao deputado da oposição Luís Parra, vencedor com 81 votos de 167 deputados.

O político também já havia se autodeclarado presidente do país em janeiro de 2019, posição que foi reconhecida por dezenas de países opositores ao regime de Maduro, entre eles o Brasil. Porém, sem articulação, não conseguiu exercer o poder de fato e o Palácio de Miraflores permanece sob o comando de Maduro.

Em sua conta oficial no Twitter, Guaidó atacou o jornalismo da emissora e afirmou que informará, nos próximos dias, nomes para compor uma comissão de “reorganização” da TV. Segundo ele, a comissão assumirá a tarefa de coordenar, com aliados da região, o processo de “substituição efetiva do sinal atual por um novo conteúdo plural e democrático”.

 

“Desde a sua criação, Telesur tem sido utilizada para promover a desestabilização da região, respaldar grupos terroristas, atentar contra a democracia, mentir sobre a Venezuela e defender a ditadura de Maduro”, escreveu o autoproclamado presidente da Assembleia Nacional.

Após o anúncio, internautas acusaram Guaidó de tentar censurar a liberdade de imprensa e levaram a tag #VivaTelesur para o topo dos assuntos mais comentados no Twitter na Venezuela.

Em postagem na internet, a presidente da rede televisiva, Patricia Villegas Marin, rechaçou o anúncio de Guaidó e afirmou que o jornalismo da emissora seguirá com seu trabalho.

“Ameaças nas redes sociais a um meio de comunicação, curiosamente de quem se gaba de defender a liberdade de expressão. Jornalistas, instituições, Estados, tomem nota. Telesur seguirá com seu trabalho, merecendo amplo reconhecimento mundial”, protestou a jornalista.

Figuras políticas também se manifestaram. O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, publicou em sua conta na rede social que as declarações de Guaidó são “ameaças contra a voz e a imagem dos povos que lutam e resistem à investida imperial”. Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, escreveu que “os golpistas venezuelanos querem impor uma só voz no mundo, que fale somente por eles e para eles”.

Os repórteres da emissora se pronunciaram em peso e se queixaram de cerceamento à liberdade de expressão. O apresentador Luis De Jesús escreveu que Juan Guaidó está “amparado pelos Estados Unidos” e que “pretende roubar os ativos da cadeia informativa Telesur para ampliar o bloqueio à Venezuela”.

Já o correspondente André Vieira escreveu que Guaidó tenta “assediar a Telesur” e compartilhou um vídeo em que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elogia a “competência” do jornalismo da emissora.

Guaidó ataca a Telesur dias após a emissora apresentar outra versão sobre o episódio em que o opositor tentou pular a cerca da Assembleia Nacional, queixando-se de que foi barrado por militares.

A TV divulgou um vídeo para sustentar que Guaidó teve a entrada autorizada, mas recusou-se a ingressar no parlamento, pois exigia a mesma permissão para um deputado da oposição que estava impugnado.

Nesta versão, Guaidó teria se recusado a entrar, na verdade, por não obter os votos necessários para presidir o parlamento, devido a um racha entre parlamentares opositores ao chavismo. A tese foi endossada pela emissora estatal russa, Russia Today, que exibiu, no fim de semana, um vídeo com legendas em que Guaidó aparece se recusando a entrar.

“Juan Guaidó escolheu ficar de fora da Assembleia Nacional, optando por ficar com o deputado Gilberto Sojo na foto (com bigode). Guaidó se recusou a entrar com base em um ‘tudo ou nada’, abstendo-se assim da votação. Os colegas dele estavam lá dentro”, informou uma produtora da emissora em sua rede social.

Em setembro de 2019, a emissora também reproduziu fotos de Guaidó com paramilitares colombianos ligados ao narcotráfico, chamados de “Los Rastrojos”. Segundo a rede televisiva, membros do grupo são praticantes de extorsões, torturas, assassinatos e foram responsáveis por mais de 600 mortes de líderes sociais na Colômbia desde 2016. As fotos foram apresentadas na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas em 1º de outubro, pela vice-presidente do país, Delcy Rodríguez.

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