Um requerimento enviado ao Palácio do Itamaraty exige explicações do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre o papel executado pelo escritor Olavo de Carvalho na formulação da política externa brasileira. O documento é assinado por deputados federais da bancada do PSOL.
Em cobrança formal, Ernesto Araújo é alvo de 12 itens de questionamentos referentes a mudanças na atuação do Ministério. Um dos pontos do documento cita o discurso do chanceler durante cerimônia de posse, em 2 de janeiro de 2019. Na ocasião, Araújo fez referência objetiva sobre a influência de Olavo de Carvalho na política brasileira, descrevendo-o como “um homem que, após o presidente Jair Bolsonaro, talvez seja o grande responsável pela imensa transformação que o Brasil está vivendo”.
“Pergunta-se: em que bases e em que sentido seria Olavo de Carvalho o grande responsável pela ‘transformação do Brasil’?”, indagam os deputados, no documento ao Itamaraty. “O Sr. Olavo de Carvalho exerce algum papel na formulação e na execução de atual política externa brasileira? Em caso afirmativo, descrever de que modo e em que termos.”
Os parlamentares escreveram ainda que os posicionamentos brasileiros aparecem como “materialização do esforço empreendido por Ernesto Araújo de atacar o que chama de ‘globalismo’, a seu ver, um plano das esquerdas mundiais para implantar o comunismo em escala global através de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU)”. O documento acusa a gestão do chanceler “parece estar a serviço do pensamento olavista, minando diariamente o prestígio do Itamaraty”.
“Neste contexto de afastamento da respeitada tradição diplomática brasileira, de ataques ao multilateralismo e de um aparelhamento ideológico extremo, acientífico e inconsequente das relações exteriores, urge que este Parlamento e a sociedade em geral tenham acesso às informações aqui solicitadas”, apontam os parlamentares.
O requerimento é enviado na mesma semana em que o Brasil e países como Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Paquistão e Bahrein vetaram um projeto da ONU que prevê educação sexual em escolas para combater a violência contra a mulher. O texto lembra que, em episódios anteriores, o Brasil somou “investidas contra a proteção dos direitos de mulheres e crianças na esfera internacional”, expressando “iniciativas vexatórias de nossa política externa”.
Além disso, para obedecer aos Estados Unidos, o governo Bolsonaro também mudou sua postura internacional e passou a defender as determinações de Donald Trump pela permanência dos embargos comerciais a Cuba e Venezuela. Os deputados questionam ainda a postura do Brasil em favor de Israel e contra a Palestina, em votação ocorrida em junho.
Procurado por CartaCapital, o Palácio do Itamaraty ainda não se manifestou.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login