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Governo da Argentina ajusta discurso e liga Milei a saques em supermercados

A estratégia da Casa Rosada é reforçar que os atos de violência não têm relação com o drama econômico a se abater sobre o país

Bariloche, na província argentina de Rio Negro, em 23 de agosto de 2023. Foto: Tomas Cuesta/AFP
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O governo de Alberto Fernández adotava uma postura cautelosa, mas aos poucos passou a atribuir ao ultradireitista Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina, responsabilidade por episódios de saques a supermercados e lojas nos últimos dias. O primeiro turno da eleição está marcado para 22 de outubro.

Primeiro, o ministro da Segurança, Aníbal Fernández, afirmou na terça-feira 22 que os casos envolvem “atos criminosos que não têm um elevado nível de organização”, mas que, segundo ele, “são incentivados por alguém”.

Já nesta quarta, a porta-voz da Presidência, Gabriela Cerruti, se referiu diretamente ao candidato “libertário”. De acordo com ela, “não se trata de nada espontâneo”, mas de uma “operação armada”, com eventos “organizados a partir de grupos de WhatsApp, todos ligados ao [partido] La Libertad Avanza, de Javier Milei, dizendo que há saques para gerar desestabilização, incerteza e agir contra a democracia”.

Na noite de terça, Milei publicou nas redes sociais uma mensagem em defesa do “princípio da não agressão e do direito à vida, à liberdade e à propriedade”.

Em entrevista a uma rádio nesta quarta, o chanceler Santiago Cafiero mencionou, além de Milei, a candidata macrista Patricia Bullrich, sob o argumento de que ambos tentam “construir uma narrativa” para irritar ainda mais cidadãos revoltados, com objetivos eleitorais.

Já o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, disse ter havido uma onda de “falsas denúncias e falsas imagens” sobre os roubos na província. Ele admitiu, no entanto, que 94 pessoas foram detidas.

Uma estratégia do governo federal é sustentar que os atos de violência não têm relação com o drama econômico a se abater sobre a Argentina, mas estão ligados a uma tentativa de desestabilizar o país. É uma forma de blindar o ministro da Economia e candidato governista à Presidência, Sergio Massa. Enquanto isso, aliados de Milei já acionaram a Justiça contra Gabriela Cerruti, mas o caso ainda não começou a tramitar.

A Argentina passa por uma grave crise, com inflação superior a 100% no acumulado de 12 meses e quase quatro em cada dez cidadãos na pobreza.

Além disso, segue viva na memória da sociedade o traumático episódio dos saques de dezembro de 2001, durante a pior crise econômica, social e política vivida pelo país. Em 1989, no auge da hiperinflação, também houve pilhagens generalizadas.

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