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Gangues ampliam domínio sobre capital do Haiti, segundo ONU

Forças de segurança e quadrilhas armadas se enfrentaram em torno da sede de uma unidade especial da polícia, depois que criminosos atacaram o edifício

Foto: Clarens SIFFROY / AFP
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As facções criminosas estão aumentando seu controle sobre Porto Príncipe, a capital do Haiti, advertiu, nesta quinta-feira (21), a coordenadora especial da ONU no país caribenho, no momento em que as negociações para formar autoridades de transição parecem se aproximar do fim.

“Nos últimos dias, as gangues avançaram para novas áreas da capital”, declarou Ulrika Richardson. “Estamos vendo pessoas dos arredores de Porto Príncipe chegando com ferimentos de bala”, disse ela em um vídeo gravado no Haiti, no qual acrescentou que “muitas pessoas tiveram que fugir de seus bairros” diante do avanço dos grupos armados.

Segundo a ONU, essas facções, acusadas de abusos como assassinatos, estupros, saques e sequestros, controlavam 80% da capital em 2023.

“A situação no Haiti, e em Porto Príncipe em particular, passou de muito preocupante a extremamente alarmante”, continuou Richardson, que descreveu uma vida diária marcada por “bloqueios de estradas, sons de disparos e grande tensão nas ruas” na cidade.

Após uma manhã tranquila na capital, o centro da cidade voltou a ser palco de tiroteios à tarde, segundo vários moradores entrevistados pela AFP.

Forças de segurança e quadrilhas armadas se enfrentaram em torno da sede de uma unidade especial da polícia, depois que criminosos atacaram o edifício.

Na quarta-feira, a violência sacudiu Pétion-Ville, localidade abastada nos arredores de Porto Príncipe, onde alguns moradores ergueram barricadas para se proteger dos ataques das gangues.

Espera

O Haiti vive semanas de caos desde que os grupos armados lançaram um desafio contra o questionado primeiro-ministro Ariel Henry, com ataques contra o aeroporto, delegacias, penitenciárias e outros edifícios públicos.

Na semana passada, o premiê aceitou renunciar e ceder o lugar para um conselho presidencial de sete membros e dois observadores, cuja formação acabou adiada devido a disputas internas.

Depois de dias de conversas, na manhã de hoje cada grupo havia estabelecido a escolha de seu representante. Até mesmo o partido esquerdista Pitit Desalin, que tinha se recusado a fazer parte do conselho, acabou apresentando um candidato, segundo um correspondente da AFP.

O secretário-geral da ONU deu boas-vindas à notícia desta quinta-feira, segundo a qual “todas as partes interessadas do Haiti escolheram seus representantes”, disse o porta-voz Farhan Haq.

O questionado Henry governava desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021. Contudo, sua posição ficou insustentável nas últimas semanas, em um país que não realiza eleições desde 2016.

Cólera

À espera dos avanços políticos, a capital continua sob o jugo de facções poderosas e bem equipadas.

Nesta quinta, os membros do Conselho de Segurança da ONU se mostraram “gravemente preocupados pelo fluxo ilícito de armas e munições para o Haiti”, e reafirmaram a obrigação dos Estados-membros de respeitarem o embargo de armas vigente.

A violência permanente levou o país a uma situação humanitária crítica.

“Menos da metade dos centros de saúde de Porto Príncipe funcionam com normalidade”, declarou hoje o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que alertou sobre a escassez de medicamentos e produtos sanguíneos.

Uma “epidemia de cólera […] poderia retornar se a crise continuar”, advertiu.

A coordenadora da ONU Richardson, por sua vez, destacou as dificuldades para se obter combustível com um aeroporto internacional fechado e parte do porto bloqueado.

“O restante do país não vive a mesma violência que a capital, mas sofre as consequências: a disponibilidade de combustível é menor nesses lugares, por exemplo”, disse.

Nesta quinta-feira, muitos caminhões-tanque puderam ser carregados no principal terminal petroleiro da capital, depois de mais de três dias de inatividade, segundo um correspondente da AFP.

Também nesta quinta, os Estados Unidos retiraram mais de 90 de seus cidadãos em um voo que partiu da cidade de Cabo Haitiano, no norte do país, para Miami, na Flórida, e em viagens de helicóptero entre Porto Príncipe e a vizinha República Dominicana.

Desde domingo, Washington já repatriou dezenas de seus nacionais.

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