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França realiza terceiro dia de greve contra a reforma da Previdência, após início tenso de debates na Assembleia

Mais de 200 protestos estão previstos em todo o país, com a expectativa de mobilização de até 1,1 milhão de pessoas

Foto: Charly TRIBALLEAU / AFP
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Escolas fechadas, transportes parcialmente paralisados e protestos em todo o país: as centrais sindicais de trabalhadores da França organizam nesta terça-feira (7) o terceiro dia de mobilização nacional contra a reforma da Previdência. O debate parlamentar sobre o texto começou ontem, sob forte tensão na Assembleia Nacional.

Oito dos maiores sindicatos franceses e cinco organizações estudantis seguem determinados a pressionar o governo com a mobilização. Nos dois dias de greve anteriores, em 18 e 31 de janeiro, mais de um milhão de pessoas saíram às ruas.

No setor dos transportes, desta vez a paralisação tem um pouco menos de impacto, mas a circulação de trens e metrôs segue “fortemente perturbada”. Segundo os sindicatos, um terço dos empregados do setor ferroviário deve aderir à mobilização nesta terça-feira. Já a Direção Geral da Aviação Civil (DGAC) recomendou às companhias aéreas o cancelamento de 20% dos voos no aeroporto de Orly, na região parisiense, devido à greve dos controladores aéreos.

Como consequência das perturbações nos transportes, um tráfego intenso era registrado nesta manhã nos arredores de Paris. Cerca de 325 quilômetros de engarrafamento eram contabilizados nas vias em torno da capital às 7h (3h em Brasília).

Mais de 200 protestos estão previstos em todo o país, com a expectativa de mobilização de até 1,1 milhão de pessoas, segundo uma fonte do Ministério do Interior. Em Paris, a manifestação convocada pelas centrais sindicais tem início previsto às 14h (10h em Brasília) na Praça da Ópera, no centro da capital francesa, até a Praça da Bastilha. Cerca de 11 mil policiais foram mobilizados pela França, dos quais 4 mil apenas em Paris.

Mais de um milhão de pessoas nas ruas

Os sindicatos acreditam que será difícil superar a mobilização do último 31 de janeiro, quando cerca de 1,3 milhão de pessoas saíram às ruas do país, de acordo com a polícia. Com a alta do custo de vida e a inflação, muitos trabalhadores relutam em ter um ou mais dias de trabalho descontados do salário mensal para fazer greve, como prevê a legislação. Por isso, um novo protesto está previsto para o próximo sábado (11).

Foto: Alain JOCARD / AFP

Nas refinarias francesas, palco de semanas de greve no ano passado, mais da metade dos funcionários deve aderir ao movimento. No entanto, o grupo TotalEnergies informou nesta manhã que não haverá falta de combustíveis nos postos da companhia.

No setor da educação, com o início das férias escolares de inverno, há menos grevistas entre os professores. Os estudantes seguem apoiando a mobilização. É o caso da Universidade de Rennes, em que os alunos votaram pelo bloqueio do campus. Como aconteceu durante as duas primeiras greves, professores do ensino fundamental também foram convocados a participar, mas até o momento nenhum índice de participação foi divulgado.

“Se não formos ouvidos, acredito que o clima vai se degradar”, afirma Philippe Martinez, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT). Para ele, a França enfrentará “um problema democrático” se os deputados aprovarem “um projeto contrário ao que o povo deseja”.

Clima tenso entre deputados

A Assembleia Nacional francesa deu início ao debate sobre o projeto de lei da reforma da Previdência em um clima tenso. Por 292 votos contra e 243 a favor, os deputados rechaçaram uma moção do partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical), que defende a retirada do texto que endurece as condições para se ter direito à aposentadoria integral.

“É a reforma ou a quebra” do sistema, alegou o ministro das Contas Públicas, Gabriel Attal, defendendo o aumento progressivo da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, em 2030, e o aumento do tempo de contribuição de de 42 para 43 anos, em 2027, para acesso à pensão integral. Já para a deputada Mathilde Panot (LFI), a reforma “agrava o caos” na sociedade,

A tensão predominou desde os primeiros momentos da sessão. A presidente da Assembleia, Yaël Braun-Pivet, foi obrigada a suspender os trabalhos durante alguns minutos devido aos protestos da oposição, enquanto o ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, tentava falar. Para o ex-socialista, tratado como “vendido” pelos partidos de esquerda, a reforma é igualitária, progressista e justa.

O clima entre os deputados ilustra a tensão social que vive a França. Dois terços dos cidadãos se opõem ao aumento da idade de aposentadoria proposto por Macron. Sem maioria absoluta, o presidente precisa do apoio da oposição de direita, o partido Os Republicanos, no Parlamento.

Determinado a levar a reforma adiante, apesar da rejeição popular, o governo utiliza um procedimento parlamentar que limita o tempo de debates na Assembleia e no Senado. Se até 26 de março as duas Câmaras do Parlamento não tiverem conseguido se pronunciar, o governo Macron poderá aplicar sua reforma por meio de uma portaria.

(Com informações da AFP)

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