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FMI defende aumento de tributação sobre mais ricos para crise pós-pandemia

‘Essas recuperações desiguais pioram significativamente as perspectivas para uma convergência global dos níveis de renda’, diz economista

Economista-chefe do FMI, Gita Gopinath (Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP)
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A recessão causada pela pandemia será menos severa do que o esperado há alguns meses graças à abertura de algumas economias avançadas, indicou o Fundo Monetário Internacional na terça-feira 13. Mesmo assim, os países devem levar em conta o aumento de tributos sobre os mais ricos para que a recuperação seja mais robusta e menos desigual, alertou o órgão.

As análises estão disponíveis no último relatório de previsão econômica global (WEO), publicado na quarta-feira 14. Segundo a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, a crise “está longe de terminar”, e “essas recuperações desiguais pioram significativamente as perspectivas para uma convergência global dos níveis de renda”, acrescenta o texto publicado pelo órgão.

“Embora instituir novas medidas do lado da receita possa ser difícil, os governos devem considerar aumentar impostos progressivos sobre indivíduos mais afluentes e aqueles relativamente menos afetados pela crise (incluindo aumento de taxas para faixas de renda mais altas, propriedades de luxo, ganhos de capital, e fortunas), bem como mudanças na tributação corporativa para garantir que empresas paguem impostos proporcionais”, diz o documento.

No Brasil, tramitam, sem celeridade, ao menos três propostas de reforma tributária no Congresso Nacional. Por parte do governo, o projeto foi apresentado em partes e foca, principalmente, na simplificação tributária – ou seja, unir impostos para reduzir a complexidade do sistema, que dificulta os negócios e a atração de investimentos.

Por outro lado, nem mesmo os projetos apresentados por grupos de economistas atacaram o cerne da desigualdade tributária no Brasil, opinaram especialistas em uma reportagem de CartaCapital de agosto.

Projeções apresentam cenário dramático para América Latina

O FMI espera uma contração do PIB mundial de 4,4% neste ano, abaixo da estimativa de junho, de 5,2%. A melhora se deve principalmente pela abertura de algumas economias, ainda que a reativação tenha pouca força até o próximo ano.

A revisão em alta reflete dados econômicos melhores do que o esperado no segundo trimestre, particularmente em economias desenvolvidas da Europa, nos Estados Unidos e na China, onde o vírus surgiu.

No entanto, novos confinamentos preventivos no Velho Continente amplificam os alertas sobre a força de recuperação dessas economias, que fomentavam as expectativas de recuperação. Diante da imensa incerteza, o FMI mais uma vez revisou para baixo a expectativa de recuperação para 2021 (+5,2%, -0,2 ponto).

O PIB dos Estados Unidos, maior economia mundial, cairá 4,3%, abaixo dos 8% estimados anteriormente, enquanto a economia da zona do euro recuará 8,3%.

Gopinath indicou que um pacote de estímulo nos Estados Unidos aumentaria seu crescimento em dois pontos percentuais no próximo ano, acima do aumento de 3,1% previsto para o PIB.

Com apenas 8% da população mundial, a América Latina e o Caribe são responsáveis por quase 30% dos casos e mais de um terço das mortes pela covid-19 no mundo. A região tem mais de 10,1 milhões de infectados e 370.000 mortes.

Apesar desse cenário, o FMI melhorou sua projeção para 2020 para a região. No entanto, Gopinath alertou: “Enxergamos uma recuperação muito gradual na América Latina, vai demorar até 2023 para voltar apenas aos níveis (PIB) de 2019”. O PIB da região deverá ter uma retração de 8,1% em 2020, em vez de 9,4%, conforme esperado.

Segundo Gopinath, “muitos países tinham vulnerabilidades ao entrar nesta crise”, como uma dívida elevada e fraqueza em seu crescimento. E isso está influenciando as projeções.

Um exemplo é a Argentina – em quarentena desde 20 de março – que teve agravada a recessão que atravessa desde 2018. Com 903.717 casos e 24.186 mortes pela covid-19, a Argentina tem uma previsão de queda de 11,8% no PIB deste ano, frente os -9,9% esperados antes. E tudo isso enquanto negocia um novo acordo com a instituição.

*Com informações da AFP

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