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Europeus resgatam crianças e adolescentes após incêndio destruir acampamento de migrantes na Grécia
Local é considerado o mais dramático ponto de acolhimento de migrantes da Europa, com mais de 12,7 mil requerentes de asilo
Uma grande operação de salvamento acontece nesta quarta-feira 9 em um acampamento de migrantes na ilha grega de Lesbos. Diversos focos de incêndios foram identificados no fim da madrugada, no acampamento de Moria. O local é considerado o mais dramático ponto de acolhimento de migrantes da Europa, com mais de 12,7 mil requerentes de asilo. A Comissão Europeia assumiu a transferência imediata para o continente de 400 crianças e adolescentes que estavam na área devastada pelo fogo.
Um porta-voz do governo grego declarou estado de emergência na ilha. A imprensa do país afirma que o fogo foi iniciado pelos próprios migrantes, que se rebeleram contra medidas de isolamento para limitar a propagação e coronavírus no local, que recebe quatro vezes mais pessoas do que a capacidade.
Não havia registro de mortos na operação até o fim da manhã, mas sim pessoas levemente feridas, com problemas respiratórios provocados pela fumaça. Mais de 3 mil barracas, milhares de contêineres, escritórios administrativos e uma clínica foram destruídos pelas chamas.
Bombeiros afirmam que alguns grupos de refugiados impediram a entrada das unidades de resgate e que a polícia teve que atuar para permitir a continuidade da operação. O presidente do sindicato dos bombeiros de Lesbos, Yorgos Ntinos, afirmou que 99% do acampamento foi destruído.
Na semana passada, as autoridades gregas detectaram o primeiro caso de Covid-19 no acampamento de Moria e colocaram o local em quarentena. Após a testagem de 2 mil migrantes, 35 pessoas apresentaram resultado positivo para o novo coronavírus. “Apenas uma pessoa teve sintomas, as outras 34 estavam assintomáticas”, afirmou o Ministério das Migrações.
Os 35 migrantes contaminados seriam transferidos para um espaço previsto para o isolamento. No entanto, com o incêndio, todos se dispersaram, e os casos positivos se misturaram com os outros, disse uma fonte policial em Lesbos.
Outros casos de Covid-19 foram identificados em outras ilhas gregas.
O governo grego adotou medidas de restrição no acampamento, apesar das críticas de ONGs de defesa dos direitos humanos. Várias associações consideraram as medidas “discriminatórias”, uma vez que o confinamento chegou ao fim no país em maio. As organizações também denunciam há vários meses a falta de higiene e a superlotação no local. Elas defendem a transferência dos requerentes de asilo mais vulneráveis.
Os distúrbios e confrontos no acampamento de Moria são quase diários. De janeiro a agosto, cinco pessoas foram esfaqueadas em mais de 15 ataques. Em março, uma menina morreu em um contêiner queimado. Em setembro de 2019, duas pessoas faleceram em um incêndio.
Política de imigração é um dos maiores desafios do bloco
Com o incidente desta quarta-feira, a Comissão Europeia se viu obrigada a agir. “Deixar todos seguros e protegidos em Moria é uma prioridade”, disse a comissária de Assuntos Internos da União Europeia (UE), Ylva Johansson, no Twitter, acrescentando que estava em contato com as autoridades gregas.
“Já dei minha autorização para financiar o transporte imediato e a hospedagem no continente para as 400 crianças e adolescentes desacompanhados que permanecem” no local, acrescentou Johansson.
Também pelo Twitter, o vice-presidente do Executivo europeu Margaritis Schinas disse ter informado ao primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, que a Comissão Europeia está pronta para ajudar o país.
A situação dos migrantes na ilha de Lesbos destaca a urgência de se reformar a política de migração na União Europeia, que durante anos se deparou com divisões internas. A Comissão Europeia pretende apresentar sua proposta – já rejeitada em várias ocasiões – de um “novo Pacto sobre Migração e Asilo” no final do mês.
O Executivo europeu também coordenou, durante vários meses, um programa de realocação em dez países da UE de cerca de 2.000 menores desacompanhados que chegaram a acampamentos de refugiados na Grécia.
Até agora, apenas cerca de 640 pessoas (crianças, adolescentes e famílias com crianças doentes) foram transferidas e distribuídas entre sete países: Bélgica, França, Luxemburgo, Alemanha, Irlanda, Portugal, Finlândia.
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