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Espiões dos EUA tentaram vender segredos de submarino nuclear ao Brasil, diz NYT

O caso ocorreu entre 2020 e 2021, mas o envolvimento do Brasil só foi revelado nesta quarta-feira pelo jornal americano

Espiões dos EUA tentaram vender segredos de submarino nuclear ao Brasil, diz NYT
Espiões dos EUA tentaram vender segredos de submarino nuclear ao Brasil, diz NYT
Jonathan e Diana Toebbe se declararam culpados no mês passado no caso de espionagem. Foto: Reprodução
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Um casal de engenheiros navais dos Estados Unidos, que por anos prestou serviços à Marinha norte-americana, tentou vender os segredos da tecnologia por trás dos submarinos nucleares ao governo brasileiro. O caso ocorreu entre 2020 e 2021, mas, até então, o país alvo das negociações não havia sido revelado.

De acordo com a apuração do New York Times, Jonathan e Diana Toebbes ofereceram os segredos à agência de inteligência brasileira em troca de criptomoedas. A carta dos Toebbes foi repassada ao adido do FBI no Brasil, que passou a comandar as investigações. Ambos já se declararam culpados, mas ainda estão sendo julgados.

Após um período de conversas, reveladas durante o julgamento, o funcionário dos EUA conseguiu convencer o casal de espiões de que era integrante do governo brasileiro e estaria interessado na compra dos segredos. Jonathan e Diana foram presos após entregarem os documentos em uma emboscada. Ele pode pegar até 17 anos e meio de prisão; ela enfrenta até três.

“Embora o governo dos EUA inicialmente quisesse divulgar o nome do país para o qual a Toebbes tentou vender os segredos, as autoridades brasileiras insistiram que sua cooperação não fosse divulgada publicamente, de acordo com uma pessoa familiarizada com a investigação”, diz um trecho da reportagem.

A cooperação citada seria a ajuda para ocultar a identidade do adido do FBI na emboscada. O casal teria desconfiado do funcionário, que contou com a ajuda da embaixada brasileira em Washington para manter o disfarce. Segundo o relato, um sinal combinado entre o agente e os espiões foi instalado na janela do prédio do Brasil nos EUA para que o casal pudesse confirmar que quem negociava com eles seria mesmo um integrante do governo brasileiro. O episódio teria sido crucial na emboscada.

Ainda segundo o jornal, Jonathan e Diana teriam escolhido o Brasil após se confrontarem com um dilema moral, de não vender os segredos a países que pudessem atacar os EUA, como Rússia ou China. Na ocasião, o Brasil mantinha boas relações pela proximidade entre Jair Bolsonaro e Donald Trump.

Para além do caso, a reportagem também destaca a busca do Brasil pela tecnologia desde 1978. O texto ainda cita a aproximação recente de Bolsonaro e Vladimir Putin. A aquisição da tecnologia militar russa chegou a ser citada pelo ex-capitão antes de viajar à Rússia para se encontrar com Putin.

“O Sr. Bolsonaro tentou manter um relacionamento positivo com o presidente Vladimir Putin da Rússia, mesmo em meio às suas agressões à Ucrânia. Analistas no Brasil acreditam que Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, espera em parte manter a porta aberta para uma parceria na tecnologia de reatores nucleares”, diz o texto do NYT.

Ao jornal, uma fonte identificada apenas como ‘alto funcionário do governo do Brasil’, ao ser questionado sobre uma possível negociação dos reatores, classificou a busca por tecnologia militar russa como ‘uma aposta ruim para qualquer país’.

O Brasil pretende ter seu próprio submarino nuclear em 2029 e trabalha em outros quatro modelos em parceria com a França. A tecnologia própria, no entanto, ainda esbarra em dificuldades para ser concretizada.

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