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Espanha vai às urnas sob o risco de ascensão da extrema-direita

Pesquisas mostram prevalência do conservador PP sobre o progressista PSOE, mas indicam necessidade de coalizão com o extremista Vox

Foto: JAVIER SORIANO / AFP
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Neste domingo 23, a Espanha irá as urnas. Em jogo, está não apenas a reeleição do atual primeiro-ministro Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol, o PSOE, como também se a extrema-direita dará ou não mais um passo à frente na Europa.

As pesquisas mostram que o centro da disputa está entre o PSOE e o Partido Popular, liderado pelo conservador Alberto Nuñez Feijóo. A Espanha, entretanto, adota o sistema parlamentarista – no qual a população não define, diretamente, o primeiro-ministro. Os eleitores escolherão um novo parlamento, cabendo a este a escolha do novo líder. É nesse ponto que ganha protagonismo um terceiro ator político: o partido de extrema-direita Vox.

Até a última segunda-feira 17 (vale destacar que os institutos só puderam divulgar pesquisas até a data), a média das pesquisas divulgadas pelos institutos GAD3, 40db, IMOP, Sigma 2 e Simple Logica mostrava que o PP poderá obter entre 131 e 151 assentos na Câmara dos Deputados, que é composta por 350 membros. Já o PSOE poderia obter entre 98 e 115 assentos.

Caso confirmado, o número de cadeiras do PP é suficiente para superar o PSOE, mas não para formar maioria absoluta. Se esse for o cenário a sair das urnas, o PP terá que compor uma coalizão com o Vox, partido que foi criado há cerca de dez anos por dissidentes radicais do próprio Partido Popular. 

Nas últimas semanas, Feijóo vem evitando confirmar se incentiva ou não a coalizão, embora membros da ala conservadora sejam simpáticos à ideia. Há casos, porém, em que a hipotética parceria é rejeitada: María Guardiola, líder do PP na região de Extremadura, no sudoeste espanhol, fez, no final do mês passado, um discurso atacando o Vox por sua negação a temas como violência de gênero, por exemplo.

Caso a aliança se torne concreta, será a primeira vez que a extrema-direita espanhola irá compor o governo, desde a promulgação da Constituição de 1978, elaborada ao fim da ditadura de Francisco Franco.

Inicialmente, as eleições gerais seriam realizadas apenas no dia 10 de novembro. Entretanto, o pleito foi antecipado por Sánchez depois que o seu partido foi derrotado nas disputas regionais realizadas no final de maio.

Incerteza econômica e desinformação 

Pedro Sánchez está no poder desde 2018. Após o período agudo da pandemia de Covid-19, a Espanha se recuperou de modo aparentemente satisfatório das consequências econômicas da crise sanitária. No último mês de junho, por exemplo, o país chegou a 20,87 milhões de empregados, segundo dados do Ministério da Segurança Social, que também mostrou que o país europeu vive a mais baixa taxa de desemprego dos últimos 15 anos.

Além disso, também em junho, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, o Produto Interno Bruto (PIB) espanhol cresceu 0,6% no trimestre e, na comparação anual, a expansão foi de 4,2%. Ainda assim, uma pesquisa realizada pelo Centro de Investigação Sociológica (CIS) da Espanha mostrou, no mesmo mês, que 43,1% dos espanhóis consideram a situação econômica como ruim. Outros 13,8% definiram como “muito ruim” a situação econômica do país.

O principal problema é a inflação, de modo que, apesar dos bons números gerais, o custo de vida das pessoas acaba sendo o que importa. No mês passado, o aumento de preços no país ficou em 1,9% e a inflação nos alimentos vem se mantendo firme acima dos 10%.

A dubiedade não passa batido pelos dois principais líderes nas pesquisas. Recentemente, Sánchez afirmou que a economia espanhola anda “como se fosse uma moto”. Feijóo, por outro lado tem dito que o país “está estagnado”.

A disputa pelo controle do discurso político movimenta a extrema-direita, por meio de ferramentas que, nos últimos anos, passaram a ser típicas do espectro (valendo lembrar os casos do Brasil e dos Estados Unidos). Uma pesquisa recente feita pela organização sem fins lucrativos Reset, que estuda como as mídias sociais afetam os sistemas democráticos, identificou 88 perfis em redes que vem espalhando “conteúdo falso ou extremista na Espanha” para 14 milhões de seguidores.

Além da economia, o foco da desinformação está no sistema eleitoral. São vários os casos identificados pela pesquisa de postagens que apresentam vídeos falsos em que supostos funcionários eleitorais enchem urnas com cédulas de votos. 

O Vox, por exemplo, vem divulgando anúncios eleitorais exaltando uma teoria conhecida como “Grande Substituição”, segundo a qual líderes políticos (na Espanha, inclusive) possuem um plano para substituir residentes brancos por imigrantes não-brancos. Um dos anúncios diz que “em 2070, não haverá famílias espanholas”. 

Olhando a questão do ponto de vista da centro-esquerda, parte da perda do capital político de Pedro Sánchez nos últimos se deve ao apoio recebido por ele de separatistas da região da Catalunha, o que desagradou os seus eleitores. Essa é uma crítica, aliás, já feita pelo PP, que, certa vez, definiu o “Sánchismo” como um movimento capaz de fazer “qualquer aliança” para permanecer no poder.

Somadas questões internas e externas, as eleições de domingo irão medir como os espanhóis pretendem lidar com as companhias dos dois principais partidos.

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