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Além da AfD: onde mais a ultradireita avança na Europa?

Vitória regional de ultradireitistas no leste da Alemanha segue tendência observada em outros países do continente. Ilustração mais recente é a derrota da esquerda na Espanha

Robert Sesselmann, do AfD, de extrema-direita, que venceu eleição distrital em junho de 2023 em Sonneberg. Foto: Ferdinand Merzbach/News5/AFP
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No último domingo 25, o resultado das eleições regionais na Alemanha chacoalharam as redes sociais e soaram os alarmes em Berlim: Robert Stuhlmann, da AfD (Alternativa para a Alemanha), venceu a eleição no distrito de Sonneberg, no estado da Turíngia, tornando-se o primeiro político da sigla de ultradireita a ser eleito chefe de uma autoridade distrital no país.

O pleito de domingo é o mais recente sucesso da legenda, que atingiu níveis recordes de popularidade em sondagens nacionais recentes: com 19% a 20% de apoio nas pesquisas, logo atrás dos conservadores, a AfD tem explorado os temores dos eleitores sobre recessão, migração e transição verde, afirmam analistas. O partido planeja inclusive lançar um candidato a chanceler federal nas eleições de 2025.

Mas a Alemanha não é o único país europeu que parece se inclinar cada vez mais para um dos extremos. A seguir, um apanhado de onde a direita avança na Europa.

Espanha: Isabel Díaz Ayuso nos passos da AfD

O último bastião da esquerda na Europa caiu há exatamente um mês com a derrota da aliança governista nas eleições regionais e municipais na Espanha. O resultado levou o primeiro-ministro Pedro Sánchez a dissolver o parlamento e convocar novas eleições para 23 de julho.

Quem saiu vitorioso foi o conservador Partido Popular, com as promessas de esperança depositadas em Isabel Díaz Ayuso, de Madri. Ao estilo da AfD, a política tem como bandeiras a ridicularização do feminismo, da igualdade, da proteção das minorias, dos direitos das pessoas trans e da proteção do clima.

Acima de tudo, porém, ganhou destaque o partido extremista de direita Vox, que no futuro provavelmente irá participar do governo em muitos municípios e regiões autônomas espanholas. Não por acaso, entre os primeiros a parabenizarem o Vox pela vitória estava o premiê húngaro Viktor Orbán, que se regozijou com o progresso da “reconquista de direita” na Espanha.

Hungria: Orbán como “modelo”

O primeiro-ministro húngaro forneceu o caminho para a guinada da Europa para a direita, provocando uma espécie de efeito dominó. Em abril do ano passado, Orbán garantiu seu quarto mandato consecutivo, apesar de uma oposição unida e que contava com uma chance de mudança de governo.

Em 2014, Orbán e seu partido nacionalista de direita Fidesz proclamaram a “democracia iliberal” baseada no modelo russo. Os tons xenófobos são parte integrante de seu programa de governo há anos. Sua recusa em receber refugiados foi justificada pelo fato de os húngaros “não quererem se tornar uma raça mestiça” e que os países multiculturais da Europa Ocidental “não são mais nações”.

França: a relativa discrição de Le Pen

Após a vitória eleitoral de Orbán, há um ano, Marine Le Pen não teve pressa em enviar parabéns a Budapeste. Nas eleições parlamentares de 2022, seu partido, o Reagrupamento Naciola, de ultradireita, conseguiu multiplicar em catorze vezes o número de deputados que possui. Le Pen segue com seu projeto de longo prazo de se mudar para o Palácio do Eliseu.

Neste sentido, o próximo passo de Le Pen deverá mirar uma vitória nas eleições europeias em 2024. Nada impossível hoje em dia, já que, nos últimos dez anos, cada vez mais franceses têm votado na ultradireita.

Itália: Meloni e Mussolini

Giorgia Meloni nem precisou ir muito longe: seu partido extremista de direita Irmãos da Itália, enraizado no fascismo, surgiu praticamente do nada. Apesar disso, a sigla venceu as eleições parlamentares em setembro 2022, fazendo de Meloni a primeira mulher a ocupar o cargo de premiê da Itália.

No brasão do partido, nada menos que a chama verde, branca e vermelha, que para a direita italiana simboliza a chama eterna no túmulo de Mussolini.

E falando em Mussolini: trata-se de “uma personalidade complexa que tem que ser vista dentro do contexto”, diz Meloni, que começou sua carreira política em uma organização juvenil neofascista.

Suécia: populistas como a segunda maior força política

Jimmie Åkesson, líder do populista de direita Democratas Suecos, por outro lado, teve de percorrer um longo caminho rumo ao extremo. Em sua juventude, ele ainda era considerado moderado.

Hoje, ao estilo de Donald Trump, ele quer “tornar a Suécia grande novamente”. Nas eleições parlamentares do ano passado, o partido, fundado em 1988 por membros da cena de extrema-direita, cresceu até se tornar a segunda maior força política do país.

Desde então, os Democratas Suecos têm conduzido o governo de centro-direita com um discurso antiimigração e islamofóbico. Os muçulmanos, para Åkesson, são a “maior ameaça à Suécia desde a Segunda Guerra Mundial”.

Finlândia: “Os finlandeses primeiro”

Os velhos populistas bem-sucedidos na Escandinávia há muito encontraram solo fértil em outras paragens — como na Finlândia. Lá, os “verdadeiros finlandeses” chegaram ao governo em uma aliança de quatro partidos. O partido populista de direita, cuja líder Riikka Purra tem chances até de ser promovida a ministra das Finanças, garantiu sete cargos no gabinete.

Purra, que anteriormente apoiava os Verdes, quer agora colocar a Finlândia de volta no “caminho certo”. E isso através de uma “mudança de paradigma” na migração, que deve reduzir a cota de refugiados para 500.

Eslováquia: neonazistas no Parlamento

Mas em comparação com Marian Kotleba, Purra até que é bastante compassiva. O líder do partido neofascista L’SNS gosta de ser chamado de “líder” por seus partidários e figura entre os neonazistas mais radicais da Eslováquia. Tendo como alvo frequente ciganos, judeus e homossexuais, o político foi condenado em 2022 por “promover uma ideologia que põe em risco a democracia” e, embora tenha tido a pena suspensa, acabou tendo de abrir mão de seu cargo no parlamento nacional.

No entanto, isso não afetou o sucesso de seu partido no passado: nas eleições parlamentares de 2020, a sigla obteve 17 assentos (8%) no Conselho Nacional da Eslováquia. Para as eleições antecipadas de 30 de setembro próximo, o partido neonazista espera conquistar ainda mais.

Grécia: guinada radical para a direita

Para resumir a atual conjuntura política do continente, basta um olhar para a Grécia, onde o primeiro-ministro conservador Kyriakios Mitsotakis venceu as eleições no último domingo. A manchete da eleição, porém, também podia ser: “Grécia observa guinada maciça à direita”. Lá, o populista de direita Elliniki Lysi (Solução Grega), o ultranacionalista e ultra-religioso Niki (Vitória) e os Espartanos (sucessores do partido neonazista Chrysi Avgi, ou “Aurora Dourada”, banido em 2020), conquistaram juntos quase 13% do Parlamento grego.

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