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Entenda o que está em jogo nas eleições italianas, que podem levar extrema direita ao poder

As pesquisas de intenções de voto apontam que a favorita a vencer é a candidata de extrema direita Giorgia Meloni

Giorgia Meloni, a candidata de extrema-direita na Itália. Foto: Andreas Solaro/AFP
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Por Gina Marques

Os italianos comparecem às urnas neste domingo 25 para votar nas eleições legislativas no país, que resultarão na escolha do próximo chefe de Governo. As pesquisas de intenções de voto apontam que a favorita a vencer é a candidata do partido de extrema direita Irmãos da Itália, Giorgia Meloni.

Os mais de 50 milhões italianos votam sob o olhar atento da União Europeia. São grandes as expetativas sobre o caminho que a terceira maior economia do bloco vai escolher.

As últimas pesquisas, há duas semanas, apontam como vitoriosa a coalizão de direita e extrema-direita. Esta aliança é formada principalmente por três partidos: Forza Itália, liderada por Silvio Berlusconi, Liga, de Matteo Salvini, e Irmãos da Itália, cuja líder Giorgia Meloni estaria em vantagem em relação aos aliados. Portanto, ela poderá ser a primeira mulher a governar a Itália.

Na complexa lei eleitoral italiana, os vencedores precisam de grandes alianças de campanha com outros partidos para obterem maioria no Parlamento. O embargo das sondagens teve início duas semanas antes do dia das eleições. Uma média das informações de vários institutos de pesquisa indica que a coalizão de direita e extrema-direita contaria com cerca de 46% da preferência popular.

Por outro lado, a aliança de centro-esquerda formada pelo Partido Democrático (que conta com cerca de 23%), Verdes, Esquerda Italiana, Empenho Cívico + Europa não superaria 30% das intenções de voto.

O Movimento 5 Estrelas não se aliou a nenhum grupo. O partido antissistema, liderado pelo ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, alcançaria entre 10% e 13% – distantes dos 30% obtidos na última eleição, em 2018. Por último, a aliança de centro formada pelos partidos Ação e Itália Viva estaria com cerca de 8%.

Em novembro de 2020 os italianos aprovaram, por referendo, a redução do número de parlamentares, que passou de 945 para 600. Neste pleito, serão eleitos 400 representantes na Câmara dos Deputados e 200 no Senado. A diminuição da bancada tornou a competição ainda mais acirrada.

Incógnita da abstenção

Quase 51 milhões de italianos estão aptos a comparecer às urnas para as eleições deste domingo. Destes, 4,7 milhões votaram no exterior.

Os analistas esperam uma participação sempre baixa – estima-se que cerca de 40% dos eleitores estão indecisos ou não vão votar. Esse dado reflete a desilusão dos italianos com a política.

Nos últimos 76 anos, a Itália já teve 67 governos, o que significa que a duração média é cerca de 13 meses para cada Executivo.

Mas, neste momento, a preocupação da maioria dos italianos não é com a turbulência política e sim com a economia do país. O aumento dos preços dos combustíveis e da eletricidade voltou a despertar o crescimento da inflação, estimada atualmente entre 8 e 9% ao ano.

Até o fim de 2022, a Itália deve apresentar um programa econômico para poder obter o Plano de Recuperação Europeu, um financiamento da União Europeia de cerca de E 20 bilhões, atribuídos ao país no âmbito da pós-pandemia da Covid-19.

Preocupação da UE

A União Europeia está preocupada com as promessas populistas da extrema-direita italiana. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse na última quinta-feira que se as eleições gerais em Itália derem início a uma mudança autocrática, nacionalista e eurocética, existem no bloco “instrumentos a serem aplicados, tal como ocorreu nos casos da Polônia e da Hungria”.

No entanto, Von der Leyen acrescentou que os europeus estão “prontos para trabalhar com qualquer governo democrático” que esteja, por sua vez, disposto a trabalhar com a Comissão.

Bruxelas censurou o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e o partido Lei e Justiça, no poder na Polônia, devido a questões relacionadas ao estado de direito e aos direitos humanos, exigindo que estes países estivessem de acordo com os valores democráticos da União Europeia.

Na Itália, a Liga e o Irmãos da Itália apoiam a política do primeiro-ministro húngaro. Na semana passada, estes partidos se abstiveram da votação no Parlamento Europeu que declarava que a Hungria sob Orban já não é uma democracia em pleno funcionamento, mas uma autocracia. No Parlamento Europeu, o polonês Lei e Justiça faz parte da bancada conservadora presidida pela líder Giorgia Meloni, junto com o partido de extrema-direita espanhol Vox.

Admiradora de Mussolini?

O líder da Liga, Matteo Salvini, anunciou na última sexta-feira que vai apresentar uma moção de censura contra Ursula von der Leyen. Ele disse que a presidente da Comissão Europeia fez “uma ameaça esquálida, uma invasão de campo que não foi solicitada”.

“No domingo, os italianos vão votar, não os burocratas de Bruxelas. Se eu fosse a presidente da Comissão Europeia, estaria mais preocupada com as contas de energia”, afirmou Salvini.

Giorgia Meloni garantiu aos parceiros internacionais da Itália que, sob sua liderança, o país vai respeitar as posições da UE e da Otan e continuará a apoiar a Ucrânia na sua defesa contra a invasão russa. No entanto, ela é definida como uma líder como pós-fascista.

Meloni tentou tranquilizar os aliados internacionais, mas o partido Irmãos da Itália manteve o emblema da chama tricolor verde, branca e vermelha, recuperado ao antigo Movimento Social Italiano. O partido neofascista foi criado após a Segunda Guerra Mundial e seus membros se assumiam abertamente como admiradores do governo de Benito Mussolini, ditador fascista que liderou o país nas décadas que precederam Segunda Guerra Mundial e durante o conflito.

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