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Em vídeo dos 48 anos de golpe na Argentina, Milei vai apelar ao negacionismo sobre a ditadura
Presidente, indicam fontes do governo argentino, vai alegar que o país não viveu um regime ditatorial, mas sim passou por um período de guerra
O governo de Javier Milei, na Argentina, se prepara para negar a existência de uma ditadura militar na Argentina após o golpe de 1976. O pronunciamento deve ser feito em vídeo em que o governo do ultradireitista vai dizer que o regime não era ditatorial, mas sim um período de guerra.
O pronunciamento será feito neste domingo 24, no dia do aniversário do golpe militar no país. A ação foi confirmada por fontes do governo argentino a diferentes veículos de imprensa local. No Brasil, o jornal O Globo também confirmou a informação com aliados de Milei.
A ditadura na Argentina ocorreu de 1976 a 1983, iniciada com o golpe militar que depôs a presidenta María Estela Martínez de Perón. Estima-se que mais de 30 mil pessoas tenham sido mortas durante essa ditadura.
Na campanha, Milei já deu os primeiros sinais de que negaria a existência do período sombrio no país. Naquele momento, também apontou a visão de que os anos foram apenas um cenário de guerra. Sua vice, Victoria Villarruel, aliás, é outra negacionista do regime. Ela chegou a dizer que o número de mortos pelos militares não era real, contrariando registros oficiais. Ela é advogada e defendeu militares que participaram da ditadura.
No vídeo que ainda irá ao ar, Milei vai dizer que a alegada guerra era de militares argentinos contra guerrilheiros. Ele sustentará que a violência dos grupos que lutavam contra o golpe de Estado justificava as ações de repressão. Novamente, Milei irá ecoar o que tem chamado de ‘duas verdade’ sobre o tema – a oficial e a versão dos militares.
Conforme registra o jornal O Globo, há em circulação neste momento na Argentina a suspeita de que o governo Milei se prepara para conceder indulto a militares condenados por crimes na ditadura. As fontes que confirmam o vídeo, porém, negam a iniciativa.
“[A ideia é apenas] deixar bem clara a posição de rejeição aos relatos que predominaram no país nos últimos 40 anos”, disse uma das fontes do governo argentino ao jornal.
No mesmo dia em que Milei deve divulgar a nova posição do governo, argentino defensores dos direitos humanos devem marchar pelas ruas da capital do país em repúdio ao golpe de 1976. O ato, como ocorre todos os anos, terminará na Praça de Maio, símbolo da resistência local. Há o temor de que a polícia tente reprimir parte das ações dos manifestantes.
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