Economia
Em evento do ‘banco dos Brics’, Lula volta a defender alternativa ao dólar
O petista criticou o modelo de austeridade; Dilma Rousseff, que preside a instituição, alertou sobre o cenário comercial no mundo


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta sexta-feira 4, a criação de uma moeda alternativa ao dólar para transações comerciais internacionais.
A declaração, alinhada a posicionamentos já manifestados por outras lideranças dos Brics, foi feita durante a abertura da 10ª Conferência Anual do Banco Nacional de Desenvolvimento. O evento, realizado no Rio de Janeiro, integrou a programação da cúpula do bloco e marcou a primeira participação de Lula em uma atividade ligada ao encontro.
“É por isso que a discussão de vocês sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio é extremamente importante. É complicado? Eu sei. Tem problemas políticos. Mas se a gente não encontrar uma nova fórmula, a gente vai terminar o século XXI igual a gente começou o século XX. E isso não será benéfico para a humanidade”, afirmou.
Nas décadas recentes, diversos países têm buscado caminhos para diminuir sua vulnerabilidade ao sistema financeiro norte-americano. É justamente essa busca por autonomia que ajuda a explicar o crescimento de iniciativas como o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).
Crítica à austeridade fiscal
No discurso, Lula fez críticas às políticas de austeridade impostas por instituições financeiras multilaterais. Para ele, essas medidas têm resultado em maior empobrecimento dos países em desenvolvimento.
“Acho que vocês podem e devem mostrar ao mundo que é possível criar um novo modelo de financiamento sem condicionalidades. O modelo de austeridade não deu certo em nenhum país do mundo. Toda vez que se fala em austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico fica mais rico”, declarou Lula.
A fala tem a ver com estratégia adotada pelo Planalto na disputa fiscal doméstica. O governo tem defendido que suas propostas tributárias visam onerar as classes mais altas para beneficiar as camadas populares, enquanto a oposição e parte do Congresso resistem a essas mudanças.
O papel do NBD
No evento, como era esperado, Lula falou das iniciativas do NBD, dizendo que a instituição financeira seria alternativa viável ao modelo tradicional de financiamento internacional. O banco, segundo o presidente, opera com base na igualdade de participação entre seus membros, sem impor condicionalidades aos países beneficiários.
“Em vez de aprofundar disparidades, o Novo Banco de Desenvolvimento assenta a sua governança na igualdade de voz e voto. No lugar de oferecer programas que impõem condicionalidades, o NBD financia projetos alinhados a prioridades nacionais. O fortalecimento do uso de moedas locais tornou-se sua característica marcante”, afirmou.
Quem também discursou no evento na capital carioca foi a ex-presidenta Dilma Rousseff, que presidente o Novo Banco de Desenvolvimento. Ela alertou para o uso de tarifas e sanções como instrumentos de pressão política.
Para ela, o mundo “está mais fragmentado, mais desigual e mais exposto a crises sobrepostas, crises climática, econômica, geopolítica”. “O multilateralismo está sob pressão”, complementou.
“Testemunhamos um recuo na cooperação e o ressurgimento do unilateralismo. Tarifas, sanções e restrições financeiras estão sendo usadas como ferramentas de subordinação política – destacou ela”, afirmou Dilma, fazendo menção indireta à radical política comercial do presidente norte-americano Donald Trump.
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