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Em entrevista tensa, Trump questiona Kamala por se declarar negra; Casa Branca repudia
O ex-presidente repetiu alegações falsas sobre imigrantes e o direito ao aborto em um evento na Associação Nacional de Jornalistas Negros, em Chicago


O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, candidato a retornar à Casa Branca, alegou sem qualquer evidência que a vice-presidente Kamala Harris, sua provável adversária em novembro, “virou negra” há poucos anos.
A declaração ocorreu nesta quarta-feira 30, durante uma entrevista a jornalistas negros em Chicago. Na ocasião, uma repórter perguntou a Trump por que eleitores negros deveriam apoiar sua candidatura, considerando seu histórico de ataques racistas contra rivais. Trump preferiu responder mirando Kamala.
A democrata nasceu em uma família de acadêmicos imigrantes em Oakland, na Califórnia. A mãe dela, Shyamala Gopalan, era uma pesquisadora do câncer de mama nascida na Índia. Já o pai de Kamala era o professor de economia Donald Harris, da Jamaica.
Kamala Harris foi aprovada no exame da Ordem dos Advogados em 1990 e iniciou sua carreira como promotora públic, até se tornar procuradora-geral da Califórnia, em 2011. Ela foi a primeira mulher, negra e sul-asiática americana a ocupar o cargo.
“Ela sempre foi de ascendência indiana, e estava apenas promovendo a ascendência indiana. Eu não sabia que ela era negra até alguns anos atrás, quando ela por acaso se tornou negra, e agora ela quer ser conhecida como negra. Então eu não sei, ela é indiana ou negra?”, perguntou o magnata.
“Eu respeito qualquer uma, mas ela obviamente não, porque era indiana o tempo todo e então, de repente, fez uma reviravolta e foi… Ela se tornou uma pessoa negra”, emendou.
Logo depois, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, uma mulher negra, repudiou os comentários do ex-presidente. Segundo ela, as afirmações geram “repulsa”.
“Ninguém tem o direito de dizer às pessoas quem elas são”, reagiu. “Só ela pode falar de sua experiência. É insultante para qualquer pessoa. Ela é a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris. Tenhamos respeito com o seu nome.”
A passagem de Trump pela Associação Nacional de Jornalistas Negros foi tensa desde o início. No decorrer da entrevista, repetiu alegações falsas sobre imigrantes e tentou lançar eleitores negros contra eles. Também tornou a mentir ao afirmar que os defensores do direito ao aborto desejam realizar o procedimento inclusive após o nascimento da criança.
O evento chegou ao fim de forma abrupta enquanto Trump era questionado sobre o “Projeto 2025”, um plano de 887 páginas elaborado pela Heritage Foundation, um think tank conservador bastante influente em Washington.
Participaram do projeto diversas personalidades do círculo de Trump, como Russell Vought, ex-chefe do Escritório de Gestão e Orçamento dos EUA.
As recomendações do “Project 2025” focam em “quatro frentes que decidirão o futuro da América”: a restauração da família, a abolição do Estado administrativo, a defesa da soberania nacional e a garantia “das nossas liberdades individuais dadas por Deus”.
Entre os principais pontos estão a ampliação de poderes presidenciais, com a facilitação da substituição de funcionários federais por colaboradores leais a Trump, além da eliminação ou da reestruturação de diversos órgãos públicos, como o Departamento de Justiça.
Diante de uma pergunta sobre o projeto nesta quarta, Trump posou para uma foto e deixou o palco em Chicago.
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