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Documentos nazistas são encontrados em arquivos da Suprema Corte argentina
O material tem ligação com um caso aberto em 1941


A Justiça argentina encontrou centenas de documentos e fichas de filiação em organizações nazistas dentro de caixas guardadas no arquivo da Suprema Corte, referentes a um caso aberto em 1941, revelou o jornal Clarín neste domingo 11.
As caixas, sete no total, foram abertas na última sexta-feira e seu conteúdo foi resguardado para ser classificado, documentado e preservado por ordem do Supremo para investigar se podem trazer informação relevante sobre eventos relacionados com o Holocausto ou a fuga de nazistas para a Argentina.
Segundo a investigação jornalística, uma primeira inspeção do conteúdo revelou a existência de elementos de propaganda nazista, fotografias e centenas de cadernetas de filiação à chamada União Alemã de Sindicatos, com a suástica na frente, rodeada por uma engrenagem, segundo mostram fotos publicadas pelo Clarín.
Alguns documentos estão muito deteriorados e outros, em muito bom estado de preservação, como mostram as imagens.
As caixas foram encontradas no subsolo do Palácio dos Tribunais, na capital argentina, onde são arquivados documentos não digitalizados de casos antigos. A Suprema Corte não divulgou informações a respeito.
O Museu do Holocausto participa dos trabalhos de inventário e preservação e seus representantes estiveram presentes na abertura das caixas, na sexta-feira, juntamente com o presidente da Suprema Corte, Horacio Rosatti, informou a fonte.
Origem dos documentos
Segundo a imprensa local, os documentos pertencem a um caso iniciado em 1941, quando a Alfândega reteve uma carga enviada à embaixada alemã, em Buenos Aires, da delegação germânica em Tóquio.
A então Comissão Especial Investigadora das Atividades Anti-Argentina do Congresso, logo dissolvida, pediu a intervenção da justiça para investigar se as caixas continham elementos que pudessem comprometer a política de neutralidade argentina na Segunda Guerra Mundial.
Nesse contexto, as caixas com a documentação foram abertas e ficaram sob resguardo judicial durante décadas.
Nazistas na Argentina
Depois da guerra, criminosos nazistas como Josef Mengele e Adolf Eichmann fugiram para a Argentina, além de centenas de colaboracionistas alemães.
No último 1º de abril, a Argentina enviou arquivos sigilosos aos Estados Unidos para colaborar com investigações do Centro Simon Wiesenthal sobre o Holocausto, informou na ocasião o ministro da Defesa, Luis Petri.
Estima-se que milhares de nazistas tenham passado por ou se refugiado na Argentina no pós-guerra.
Os casos de maior repercussão foram os de Eichman, capturado em 1960 em Buenos Aires, e julgado e executado em Israel; Mengele, médico conhecido por suas experiências com prisioneiros, que se escondeu na Argentina e depois fugiu para o Paraguai e o Brasil, onde morreu; e Erich Priebke, responsável pelo massacre das Fossas Ardeatinas em 1944, durante a ocupação alemã da Itália.
Priebke foi preso na Argentina e extraditado em 1995 para a Itália, onde morreu em 2013 na prisão. Ele cumpria pena de prisão perpétua.
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