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Deputados rejeitam vetos de Milei e manifestantes celebram em Buenos Aires

O novo revés para o ultraliberal ainda precisa ser ratificado pelo Senado

Deputados rejeitam vetos de Milei e manifestantes celebram em Buenos Aires
Deputados rejeitam vetos de Milei e manifestantes celebram em Buenos Aires
Protesto em Buenos Aires contra Javier Milei, em 17 de setembro de 2025. Foto: Luis Robayo/AFP
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Milhares de manifestantes celebraram, nesta quarta-feira 17, a rejeição da Câmara de Deputados aos vetos de Javier Milei a leis de financiamento para universidades públicas e o principal hospital pediátrico da Argentina, em um novo revés para o presidente ultraliberal que ainda precisa ser ratificado pelo Senado.

As leis vetadas por Milei no início do mês preveem atualizar o orçamento universitário conforme a inflação desde 2023 e melhorar os salários de docentes e funcionários auxiliares. Também declaram uma emergência sanitária que implica a destinação de fundos sobretudo ao hospital de referência Garrahan.

Em um Congresso onde Milei não tem maioria, os deputados rejeitaram ambos os vetos. Para que as leis entrem em vigor, a oposição agora precisa que o Senado também as rejeite por uma maioria de dois terços.

“Devemos defender os estudantes, os trabalhadores docentes e os não docentes que perderam mais de 30% do poder aquisitivo de seus rendimentos devido à aplicação desta motosserra absolutamente selvagem com a qual governaram neste ano e oito meses”, disse o líder do bloco peronista, Germán Martínez.

Após saberem da votação na praça do Congresso, onde ocorria uma das maiores concentrações dos últimos meses, os manifestantes pularam e se abraçaram cantando com euforia “a pátria não se vende”.

Os setores de saúde e educação estão entre os mais atingidos pela “motosserra” do presidente, que justifica os vetos alegando que essas leis colocam em risco o equilíbrio fiscal, pedra angular de seu governo.

“Vamos entender que agora estamos propondo um remédio que será pior que a doença”, declarou o deputado governista Santiago Santurio. “O dinheiro que entra por um bolso vai sair pelo outro com mais gastos, quebrando impostos, gerando dívidas”, acrescentou.

“O pior já passou”

Com cartazes como “não ao veto” e “salvemos o Garrahan”, milhares de estudantes, professores, médicos e membros de sindicatos acompanharam o debate dos deputados.

“A educação e a saúde estão em risco, é fundamental que tenhamos acesso à educação de qualidade que a Argentina nos proporciona. Não podemos permitir que nos roubem o que conquistamos com tanta luta ao longo da história”, disse à AFP Zoe Gómez, de 23 anos e recém-formada em Psicopedagogia pela universidade estatal de San Martín.

Milei apresentou nesta segunda-feira um projeto de orçamento para 2026 que inclui maiores alocações para saúde e educação.

Os reitores universitários consideraram em um comunicado conjunto que este programa “ratifica e agrava o ajuste” porque não prevê compensar os rendimentos perdidos.

O presidente, que em sua mensagem assegurou que “o pior já passou”, governa aplicando o orçamento de 2023 apesar da erosão da inflação, que naquele ano foi de 211%; em 2024, de 118%; e até agosto deste ano, de quase 20%.

Milei atravessa seu pior momento político desde que assumiu o poder em dezembro de 2023, após o revés eleitoral nas legislativas da província de Buenos Aires, onde o governo perdeu por 14 pontos frente ao peronismo de centro-esquerda.

O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, que após a eleição provincial emerge para alguns como possível figura central da oposição em substituição à ex-presidenta Cristina Kirchner, que cumpre pena em prisão domiciliar, comemorou o resultado.

“O povo está de pé e de maneira multitudinária voltou a dizer a Milei que as universidades não se vendem, os hospitais não se desfinanciam e os direitos não se negociam”, escreveu no X após a votação.

A Argentina celebrará eleições legislativas nacionais em 26 de outubro.

Além disso, no início de setembro, o Congresso reverteu pela primeira vez um veto presidencial e manteve firme uma lei que concede mais fundos para pessoas com deficiência, uma área sob suspeitas de corrupção que envolvem a irmã do presidente, Karina Milei.

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