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Delegação de Israel chega à França para negociar trégua em Gaza

Após quatro meses de guerra e com centenas de milhares de pessoas deslocadas, a situação humanitária continua se degradando

Fumaça e estragos causados por ação de Israel na Faixa de Gaza. Foto: SAID KHATIB / AFP
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Israel enviou nesta sexta-feira 23 uma delegação a Paris para negociar uma trégua na Faixa de Gaza, com o olhar voltado também para o pós-guerra, durante o qual pretende manter o controle do território palestino, devastado por combates contra o movimento islamita Hamas.

O diretor da agência israelense de inteligência externa (Mossad), David Barnea, chegou à capital da França com Ronen Bar, chefe do serviço de segurança (Shin Bet), para destravar as negociações.

Na véspera, o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, propôs um plano para o pós-guerra em Gaza que sugere que o território seja governado “por funcionários locais sem vínculos com países ou entidades que apoiam o terrorismo”. Também propõe que o exército de Israel possa operar em Gaza e na Cisjordânia “para evitar qualquer ressurgimento da atividade terrorista”.

“Os planos de Netanyahu buscam perpetuar a ocupação israelense dos territórios palestinos e impedir a criação de um Estado palestino”, declarou o porta-voz de Abbas, Nabil Abu Rudeineh.

“Se o mundo deseja segurança e estabilidade na região, deve pôr fim à ocupação israelense dos territórios palestinos e reconhecer um Estado palestino independente com Jerusalém como capital.”

“Netanyahu apresenta ideias que sabemos perfeitamente que nunca terão êxito”, declarou Osama Hamdan, autoridade do Hamas em Beirute.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, reagiu ressaltando que seu país se opõe “à reocupação” de Gaza. Já o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Steve Kirby, disse que “o povo palestino deve ter voz e voto por meio de uma Autoridade Palestina relançada”.

Bombardeios

Os bombardeios israelenses continuaram nas cidades de Khan Yunis e Rafah, no extremo sul do território palestino. Já em Deir al-Balah, no centro, 23 pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas em um ataque contra a casa do comediante palestino Mahmud Zuaiter, que também ficou ferido, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

Após quatro meses de guerra e com centenas de milhares de pessoas deslocadas, a situação humanitária continua se degradando. Segundo a ONU, 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza estão à beira da fome.

Segundo o Cogat, órgão do Ministério da Defesa de Israel responsável por assuntos civis palestinos, 13 mil caminhões, transportando 250 mil toneladas de ajuda, entraram em Gaza desde o início do conflito, em 7 de outubro. Mas essa ajuda, que depende da autorização de Israel – que impõe um cerco total a Gaza desde outubro – é insuficiente.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou o que chamou de “violações graves” dos direitos cometidas “por todas as partes” em Israel, Gaza e na Cisjordânia.

A guerra começou após o ataque do movimento islamista palestino no sul de Israel em 7 de outubro, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados israelenses.

Em resposta, o Exército israelense iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que deixou 29.514 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Hamas, considerado um grupo “terrorista” por Estados Unidos, União Europeia e Israel.

Os bombardeios pararam apenas durante uma trégua no fim de novembro, que permitiu a libertação de mais de 100 reféns sequestrados pelo Hamas durante o ataque ao território israelense, em troca da liberação de 240 palestinos presos em Israel.

Desde então, os mediadores internacionais tentam obter um novo cessar-fogo para libertar os outros reféns e autorizar a entrada de ajuda humanitária. Segundo Israel, 130 reféns continuam em Gaza e 30 deles teriam falecido em cativeiro.

Türk ressaltou que “o bloqueio e assédio impostos a Gaza constituem um castigo coletivo e também poderiam representar o uso da inanição como método de guerra, ambos crimes de guerra”.

Uma fonte do Hamas afirmou que, no fim de janeiro, as partes em conflito discutiram em Paris um plano para uma trégua de seis semanas e a libertação de entre 200 e 300 presos palestinos em troca de entre 35 e 40 reféns israelenses. Também houve negociações no Egito, com a participação do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh.

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