Mundo

Cúpula do Brics começa na África do Sul com Brasil pressionado a ceder sobre expansão do grupo

Uma saída alternativa, aos olhos de Brasília, poderia ser aceitar a criação de um grupo de países associados ao Brics, mas não novos membros plenos

Foto: Gianluigi Guercia / AFP
Apoie Siga-nos no

A 15ª Cúpula do Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se inicia nesta terça-feira (22) em Joanesburgo com o Brasil pressionado a concordar com a abertura do bloco para novos sócios. Uma decisão deverá ser tomada no encontro dos líderes esta noite.

A China, que representa de longe o maior peso econômico dentro do bloco de emergentes, vê a expansão do Brics como uma forma de consolidar uma aliança antagônica às organizações lideradas pelos ocidentais, em especial o G7. Pelo menos 22 países são oficialmente candidatos a ingressar no grupo – desde potências emergentes como a Turquia e a Indonésia, até países em grave crise econômica, como a Argentina, ou regimes não-democráticos, a exemplo do Irã, Arábia Saudita e Cuba.

Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sinalizado ser favorável à entrada de alguns destes candidatos, a diplomacia brasileira avalia que a abertura fragilizaria o poder do próprio país dentro do bloco – em que a influência chinesa é preponderante. O Itamaraty também resiste ao Brasil se colocar em uma posição de claro antagonismo aos Estados Unidos e à União Europeia, preferindo circular com maior neutralidade por ambas as esferas.

Uma saída alternativa, aos olhos de Brasília, poderia ser aceitar a criação de um grupo de países associados ao Brics, mas não novos membros plenos. Essa solução fortaleceria o bloco, mas sem se tornar uma espécie de clube dos antiocidente.

Tapete vermelho para Xi Jinping

O anfitrião da cúpula, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, deixou claro no domingo (20) que seu país apoia a proposta encabeçada pela China. “Uma versão ampliada [do Brics] poderá representar um grupo mais diverso de nações, que têm diferentes sistemas políticos e compartilham um desejo comum de estabelecer uma ordem mundial mais equilibrada”, argumentou, em discurso em cadeia nacional de televisão.

O alinhamento ficou evidente depois que Ramaphosa convidou o presidente chinês, Xi Jinping, para realizar uma visita oficial de três dias ao país nos mesmos dias em que acontece o encontro do Brics. Assim, Xi foi recebido pelo próprio Ramaphosa já na descida do avião em Joanesburgo, um privilégio que os demais líderes não tiveram. Pequim é a principal parceira comercial de Pretória e, nos últimos anos, a África do Sul tem sido um dos mais importantes destinos de investimentos chineses no continente africano.

A Rússia, isolada no mundo desde o início da guerra contra a Ucrânia e alvo de sanções ocidentais, também é favorável ao projeto de abertura do Brics. O grupo tem mais de dez anos de história: foi criado em 2009 e em seguida passou a ter uma atuação ativa na crise financeira iniciada em 2008.

Moeda de troca: Conselho de Segurança da ONU

Ao lado do Brasil, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, resiste ao plano de expansão liderado pela China, vista como uma rival regional. Mas depois de dias de intensas negociações prévias sobre o tema, Nova Délhi pode estar disposta a ceder mediante definições claras dos critérios para o ingresso de novos membros no Brics – um aspecto que o presidente Lula também ressaltou em uma entrevista concedida para o jornal sul-africano Sunday Times, no domingo.

Nestas mesmas negociações, Brasília tem insistido para que, em troca de um acordo, Pequim aceite apoiar a proposta brasileira de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, em que Lula tem pleiteado um assento permanente. A demanda é antiga do presidente brasileiro e encontra eco junto à África do Sul e à Índia, que defendem maior representatividade das instituições internacionais multilaterais.

Esta noite, os líderes se debruçarão sobre o tema em uma reunião seguida de um jantar nos arredores de Joanesburgo. O presidente russo, Vladimir Putin, será o único a não poder comparecer presencialmente na cúpula e participará por videoconferência. Alvo de uma ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional, de que Pretória é signatária, ele poderia ser detido se fizesse a viagem.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo