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Cristina denuncia ‘Partido Judicial’ na Argentina e vê semelhanças em lawfare contra Lula

O uso do aparato da Justiça para perseguir adversários políticos é um fenômeno da região, avalia a vice-presidenta em entrevista à Folha de S.Paulo

Ato de Cristina Kirchner em La Plata em 17 de novembro de 2022. Foto. Luís Robayo/AFP
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A vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, denunciou o uso político do sistema judicial do país a fim de condená-la por corrupção no caso de suposta fraude em contratos de obras públicas. O veredito deve ser conhecido nesta terça-feira 6.

O Ministério Público argentino pediu 12 anos de prisão para a líder peronista, além de sua inabilitação política permanente.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Cristina afirmou que o lawfare, a fim de perseguir adversários políticos por meios judiciais, é “um fenômeno de toda a região”, em referência à América Latina.

É o que a vice-presidenta chama de “Partido Judicial”, um movimento contra “os governos que foram além do que o establishment lhes permitia na inclusão social e na defesa do patrimônio nacional”.

Além de si própria, classifica como vítimas do “Partido Judicial” o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente do Equador Rafael Correa.

No caso de Lula, Cristina vê a diferença de que “as mesmas pessoas que o meteram preso depois foram buscá-lo e reverteram o que tinham feito”, porque “chegou Bolsonaro, um personagem que fez muito mal ao país e a muitos atores da vida brasileira”.

“Portanto, aqueles que insultaram Lula e permitiram que Dilma sofresse o impeachment finalmente deram toda la vueltita e terminaram admitindo que o juiz Moro tinha sido absolutamente parcial.”

O “Partido Militar”, prosseguiu CFK, substituiu na região o “Partido Militar”, após a redemocratização nos anos 1980. Foi uma reação à onda de “governos populares, nacionais e democráticos” que se seguiram ao período de gestões neoliberais, as quais “aprofundaram a desigualdade, a miséria e a exclusão”.

Na semana passada, em suas considerações finais no processo em que pode ser condenada nesta terça, classificou o tribunal como “um verdadeiro pelotão de fuzilamento”.

No julgamento, no qual há outros 12 réus, Cristina é acusada de favorecimento ao empresário Lázaro Báez, considerado próximo de sua família, na concessão de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, no sul do país.

À Folha, ela demonstrou não ter dúvidas sobre o desfecho do julgamento.

“Preste atenção em uma coisa: no dia 6 de dezembro, vão ditar a sentença contra mim. No dia 7, vai sair nos jornais: ‘Cristina condenada’. Sabe o que é o 7 de dezembro? É um dia muito emblemático na República Argentina [em que passaria a valer uma Lei de Meios]. A lei que estabelecia que os empresários da mídia que tinham muitos canais de televisão, canais abertos, cabo e jornais, deveriam desinvestir para não ter uma posição dominante ou monopolista.”

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