Mundo
Crise humanitária na Venezuela acende alerta para surto de doenças
Infecções como malária, doença de Chagas, dengue, zika e outros males ameaçam se espalhar para países vizinhos
A crise humanitária na Venezuela poderá resultar num aumento das infecções de malária, doença de Chagas, dengue, zika e outros males que ameaçam 20 anos de avanços obtidos na saúde pública do país.
O alerta surgiu em um estudo publicado no portal da revista científica The Lancet para doenças infecciosas na quinta-feira 21, em que os autores afirmam que algumas epidemias poderão avançar para além das fronteiras venezuelanas, podendo, potencialmente, causar uma emergência de saúde pública na região.
“Assim como o ressurgimento do sarampo e outras doenças infecciosas que podem ser prevenidas através de vacinas, o aumento contínuo dos casos de malária poderá se tornar incontrolável”, afirmou Martin Llewellyn, acadêmico da Universidade de Glasgow que liderou o estudo junto a pesquisadores da Venezuela, Brasil, Colômbia e Equador.
➤ Leia também: "Ajuda humanitária" do Brasil alimenta barril de pólvora na Venezuela
Ele afirma que com o colapso do sistema de saúde venezuelano e uma dramática redução nos programas de saúde pública e de controle de doenças, as chamadas doenças vetoriais – transmitidas por insetos como mosquitos e carrapatos – aumentam e se espalham em novas partes da Venezuela.
O país foi declarado livre de malária em 1961 pela Organização Mundial de saúde (OMS). Mas os pesquisadores revelaram que as infecções da doença aumentaram 359% entre 2010 (29.736 casos registrados) e 2015 (136.402 casos). Apenas entre 2016 e 2017, o crescimento foi de 71%, aumentando de 240.613 para 411.586 casos em razão da redução do controle dos mosquitos e da escassez de medicamentos.
➤ Leia também: As catástrofes humanitárias esquecidas do planeta
“A dura realidade é que, como consequência da ausência de vigilância, diagnóstico e medidas preventivas, essas cifras provavelmente subestimam a situação verdadeira”, alertou Llewellyn.
Segundo o estudo, a transmissão da doença de Chagas – que mais causa insuficiências cardíacas na América Latina – é a mais alta em 20 anos na Venezuela. As infecções da doença em menores de 10 anos entre 2008 e 2018 tiveram percentual de 12,5% em algumas comunidades, em contraste com o índice de 0,5 em 2018, o mais baixo já registrado no país.
➤ Leia também: Brumadinho: Depois da lama, as doenças
Casos de dengue se multiplicam
As infecções por dengue se multiplicaram entre 2010 e 2016, com 211 casos para cada 100 mil habitantes. Os especialistas detectaram seis epidemias nacionais da doença que aumentaram progressivamente de proporção entre 2007 e 2016.
➤ Leia também: Maduro ataca Trump e rompe com a Colômbia
Os casos de chikungunya e zika com possibilidade de provocar epidemias também aumentaram. Estima-se que até dois milhões de pessoas estivessem contagiadas com o vírus do chikungunya, número doze vezes maior do que as estimativas oficiais.
Os pesquisadores alertam ainda para os efeitos da migração em massa de venezuelanos para os países vizinhos, como o Brasil e a Colômbia. Com a média diária de 5,5 mil pessoas que atravessaram a fronteira em 2018, esses países também podem sofrer, potencialmente, surtos de doenças infecciosas.
➤ Leia também: “Nossa ação é pacífica, mas firme”, diz Juan Guaidó
Nesse contexto, algumas regiões brasileiras fronteiriças também teriam detectado um aumento dos “casos importados de malária”, como em Roraima, onde passaram de 1.538 em 2014 a 3.129 em 2017. Em outros países, dizem os cientistas, a situação “não está clara” – motivo pelo qual recomendam reforço da cooperação bilateral no âmbito do combate a doenças.
O controle eficaz da “crescente crise sanitária” também precisará de políticas de “coordenação regional” e um “compromisso sólido” da comunidade nacional e internacional, dizem os estudiosos. “Pedimos aos membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e outros organismos políticos internacionais que exerçam mais pressão sobre o governo venezuelano para que aceite a ajuda humanitária oferecida pela comunidade internacional para reforçar o sistema de saúde”, afirma Llewellyn.
Leia também
“Ajuda humanitária” do Brasil alimenta barril de pólvora na Venezuela
Por André BarrocalAs catástrofes humanitárias esquecidas do planeta
Por Deutsche WelleBrumadinho: Depois da lama, as doenças
Por Deutsche WelleMaduro ataca Trump e rompe com a Colômbia
Por CartaCapital“Nossa ação é pacífica, mas firme”, diz Juan Guaidó
Por CartaCapitalUm minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.