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Conselho de Segurança da ONU está dividido sobre envio de força de segurança ao Haiti

O Conselho de Segurança não programou uma votação sobre as medidas propostas, e a questão de quem dirigiria qualquer grupo de intervenção de segurança continua sendo uma incógnita

Um policial tenta conter protestos contra o primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry. Foto: Richard Pierrin / AFP
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O Conselho de Segurança da ONU se dividiu nesta segunda-feira (17) sobre o envio de uma força internacional ao Haiti para ajudar com a situação de deterioração da segurança e o aumento da cólera depois que poderosos grupos criminosos tomaram o principal porto e bloquearam o fornecimento de combustível.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que os haitianos enfrentam uma emergência “dramática” e que é necessária uma intervenção “armada” para ajudar a polícia local a abrir o porto e criar um corredor humanitário para a entrega de ajuda.

“A situação é absolutamente dramática. O porto está bloqueado por gangues que impedem a saída de combustível […] Como não há combustível, não há água. E há um surto de cólera”, cujo tratamento requer uma boa hidratação, disse Guterres aos jornalistas.

“Então, é uma situação de absoluto pesadelo para a população do Haiti, especialmente em Porto Príncipe”, a capital, acrescentou.

Recentemente, Guterres pediu, em uma carta ao Conselho de Segurança, “examinar urgentemente a solicitação do governo haitiano de enviar, sem demora, uma força armada internacional especializada para enfrentar a crise humanitária”.

‘Os haitianos não vivem, eles sobrevivem’

O terminal petrolífero de Varreux, o mais importante do Haiti, permanece bloqueado por gangues de criminosos armados desde meados de setembro, o que paralisou todo o país. Na semana passada, o Haiti pediu ajuda à ONU para reabri-lo.

“Tenho a delicada missão de levar ao Conselho de Segurança o grito de angústia de todo um povo que sofre e dizer em voz alta e inteligível que os haitianos não vivem, eles sobrevivem”, disse nesta segunda ao Conselho o ministro de Relações Exteriores do Haiti, Jean Victor Geneus.

Estados Unidos e México estavam preparando duas resoluções para que o Conselho abordasse o pedido do Haiti.

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que uma das resoluções autorizaria uma missão internacional de assistência, fora da ONU, para melhorar a segurança e permitir o fluxo de ajuda humanitária para o Haiti.

A proposta seria para “uma missão limitada, de alcance cuidadoso, não pertencente à ONU”, que seria dirigida por “um país associado” com experiência nesse tipo de operação, acrescentou.

Lembranças ruins

Uma vez decidida, Washington “considerará os meios mais eficazes para apoiar, habilitar e dotar de recursos diretamente” a missão, explicou Thomas-Greenfield.

A proposta contou com certo apoio no Conselho de Segurança, mas alguns países expressaram suas reservas, citando os protestos recentes no Haiti contra a intervenção estrangeira e também os grandes problemas da força de paz anterior da ONU no país.

A Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH, na sigla em inglês) esteve no país de 2004 até 2017 e, em particular, foi identificada como a origem de um surto de cólera em 2010 que acabou matando cerca de 10 mil pessoas.

A doença desapareceu em 2019, mas ressurgiu nas últimas semanas, causando centenas de supostos contágios e 36 mortes estimadas.

Geng Shuang, representante permanente adjunto da China na ONU, disse que a organização deveria ser cautelosa na hora de apoiar uma nova força para o Haiti.

“No momento em que o governo haitiano carece de legitimidade e é incapaz de governar, o envio de uma força de ação rápida deste tipo ao Haiti receberá o apoio compreensivo e a cooperação das partes no Haiti? Ou enfrentará a resistência e, inclusive, desencadeará um confronto violento com a população?”, questionou.

Sanções

A China, no entanto, se mostrou favorável a um segundo projeto de resolução que estabeleceria uma série de sanções para as gangues e seus líderes.

Um projeto de resolução do qual a AFP teve acesso menciona especificamente Jimmy Cherizier, apelidado de “Barbecue”, o poderoso líder do grupo “Família G9 e Aliados” que bloqueou o terminal de Varreux.

Cherizier e seu grupo “contribuíram diretamente para a paralisia econômica e a crise humanitária no Haiti”, diz o texto do projeto.

Por sua vez, a Rússia rejeitou a proposta de sanções, alegando que as mesmas foram redigidas precipitadamente.

Seria “inaceitável” apoiar “a ingerência externa nos processos políticos do Haiti” que supeditaria os interesses do Haiti “aos interesses de atores regionais de renome mundial que veem o continente americano como seu quintal”, disse o enviado russo nas Nações Unidas, Dmitry Polianski.

O Conselho de Segurança não programou uma votação sobre as medidas propostas, e a questão de quem dirigiria qualquer grupo de intervenção de segurança continua sendo uma incógnita.

Não obstante, “tudo indica que os Estados Unidos vão liderar a operação”, indicou Richard Gowan, analista do International Crisis Group.

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