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Civis fogem do leste da Ucrânia, que se prepara para ‘grandes batalhas’

‘A Ucrânia está pronta para grandes batalhas, a Ucrânia pode vencê-las, inclusive no Donbass. Quando isto ocorrer, a Ucrânia terá uma posição negociadora forte’, declarou o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak

Zelensky, em Bucha, cercado de soldados ucranianos. Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP
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A Ucrânia se prepara para travar “grandes batalhas” contra as forças russas no leste do país, de onde milhares de civis tentavam fugir neste domingo (10), diante do temor de uma ofensiva iminente dos russos.

O papa Francisco pediu neste domingo uma trégua pascal “para alcançar a paz através de uma negociação verdadeira” e denunciou “massacres ferozes e crueldades atrozes cometidos contra civis indefesos”.

Enquanto isso, no leste da Ucrânia foram retomadas no sábado as evacuações de Kramatorsk, onde um bombardeio contra uma estação ferroviária lotada de pessoas que tentavam fugir do conflito deixou 52 mortos na sexta-feira.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que no domingo conversou com o chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou que seu país se prepara para uma ofensiva russa.

“Tristemente, vemos os preparativos para batalhas importantes, alguns dizem que serão decisivas, no leste”, afirmou Zelensky no sábado em Kiev, durante coletiva de imprensa conjunta com o chanceler austríaco, Karl Nehammer.

“Estamos prontos para combater e, paralelamente, tentar acabar com esta guerra mediante a diplomacia”, acrescentou, em alusão às negociações depaz com Moscou.

Com Scholz “acordamos que todos os autores de crimes de guerra devem ser identificados e punidos”, escreveu  Zelensky em um tuíte.

“A Ucrânia está pronta para grandes batalhas, a Ucrânia pode vencê-las, inclusive no Donbass. Quando isto ocorrer, a Ucrânia terá uma posição negociadora forte, que lhe permitirá determinar certas condições”, declarou, por sua vez, o negociador ucraniano, Mikhailo Podoliak, citado pela agência Interfax.

No sábado, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson visitou Kiev, onde exaltou a resposta ucraniana à invasão russa e ofereceu enviar armas à Ucrânia, inclusive mísseis Starstreak antiaéreos e 800 mísseis antitanques.

O líder britânico assegurou que a descoberta de numerosos corpos de civis em cidades ucranianas que estiveram ocupadas por tropas russas “manchou permanentemente” a reputação do presidente russo, Vladimir Putin.

Ao menos dois corpos foram encontrados na entrada da tubulação de esgoto de um posto de gasolina nos arredores de Kiev neste domingo, constatou um jornalista da AFP. Os corpos vestiam um misto de roupas civis e militares.

Uma mulher se aproximou, olhou para o interior antes de cair para trás após reconhecer o corpo do filho pelos sapatos. “Meu filho, meu filho!”, exclamou.

Seis semanas após o início da invasão russa, Moscou se concentra agora no leste e no sudeste da Ucrânia, depois que uma dura resistência frustrou seus planos de tomar a capital, Kiev.

Agora, as tropas russas tentam criar uma ligação por terra entre a península da Crimeia – anexada pela Rússia em 2014 – e os territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk, no Donbass.

Com milhares de mortos em combates e mais de 11 milhões que deixaram suas casas ou o país, o presidente ucraniano pediu ao Ocidente para seguir o exemplo britânico com ajuda militar.

“Precisamos de mais sanções” contra a Rússia, declarou Zelensky em uma mensagem de vídeo transmitida na noite de sábado. “Precisamos de mais armas”.

Uma “guerra contra os civis”

Ao menos duas pessoas morreram em um bombardeio na cidade de Kharkiv, informou neste domingo o governador Oleg Sinegubov no Facebook, reportando que em 24 horas sofreram 66 bombardeios.

“O exército russo segue em uma guerra contra os civis na falta de vitórias no front”, disse.

Após o bombardeio contra Kramatorsk, o presidente americano, Joe Biden, acusou a Rússia de estar por trás da “atrocidade horrorosa” e a França condenou como um “crime contra a humanidade”.

Moscou negou a autoria do ataque com mísseis que deixou 109 feridos.

Yevgeny, um voluntário de uma igreja protestante que acolheu entre 300 e 400 pessoas após o ataque contou que os sobreviventes estavam “traumatizados”.

“A metade se refugiou no porão, outros queriam sair o quanto antes e alguns foram evacuados de ônibus”, explicou.

A estação de Kramatorsk servia como principal ponto de evacuação de refugiados das partes da região leste do Donbass ainda sob controle ucraniano.

Jornalistas da AFP viram na estação os restos de um míssil com uma mensagem escrita em russo: “por nossos filhos”, uma expressão usada pelos separatistas pró-russos para invocar as baixas nos combates iniciadas em 2014 no Donbass.

O governador ucraniano de Donetsk assegurou que foram usadas bombas de fragmentação no ataque, proibidas pelo direito internacional, segundo declarações publicadas pela Interfax.

Enquanto isso, o prefeito da cidade de Lysychansk (leste), Oleksandr Zaika, pediu no sábado que os moradores deixem a cidade.

“Tornou-se muito difícil (permanecer) na cidade, os projéteis já estão rasgando o céu”, declarou Zaika por vídeo. Embora a cidade disponha de ajuda humanitária, “isso não significa que poderá salvar sua vida se chegar um projétil inimigo”, acrescentou.

Uma nova força da Otan

Em outro sinal do apoio dos ocidentais à Ucrânia, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, informou que a aliança militar está preparando um plano para ter uma força permanente em suas fronteiras para evitar qualquer agressão russa.

“O que estamos vendo agora é um nova realidade, há uma nova normalidade para a segurança europeia”, afirmou em entrevista ao jornal britânico Daily Telegraph.

“Consequentemente, pedimos a nossos comandos militares que nos deem opções para que possamos fazer uma mudança, uma adaptação de longo prazo”, acrescentou.

Para Stoltenberg, esta nova força será uma das “consequências de longo prazo” da invasão lançada por Putin.

Em outra demonstração de apoio ocidental, o chanceler austríaco visitou Kiev no sábado e também se deslocou para a cidade vizinha de Bucha.

Bucha, subúrbio onde houve centenas de mortos, segundo as autoridades, se tornou um símbolo das atrocidades supostamente cometidas durante a ocupação russa, o que o Kremlin nega.

Enquanto isso, a Ucrânia informou ter concluído a terceira troca de prisioneiros com a Rússia, libertando 12 soldados e 134 civis.

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