Mundo

Cantor R. Kelly é condenado a 30 anos de prisão

Ex-astro do R&B foi condenado por chefiar durante décadas uma rede de exploração sexual de mulheres e adolescentes

R. Kelly (foto de arquivo) Foto: Antonio PEREZ / POOL / AFP
Apoie Siga-nos no

O ex-astro do R&B, R. Kelly, foi condenado nesta quarta-feira (29) a 30 anos de prisão pela justiça americana por chefiar durante décadas uma rede de exploração sexual de mulheres e adolescentes.

Quase um ano depois de ter sido declarado culpado das seis acusações que pesavam sobre ele, o autor de “I Believe I Can Fly” ouviu a sentença de cabeça baixa, a mesma atitude que manteve praticamente ao longo das quatro horas de audiência.

“Estou agradecida de que Robert Sylvester Kelly esteja longe e ficará longe e não poderá ferir mais ninguém”, disse uma das vítimas do condenado, de 55 anos, Lizzette Martínez, à imprensa que aguardava do lado de fora da corte federal de Brooklyn.

A sentença é superior à pena de 25 anos de prisão pedidos pela promotoria, que alegava que o ganhador de três Grammys, com mais de 75 milhões de discos vendidos, ainda “representa um sério perigo público”.

“A população deve ser protegida de comportamentos como este”, disse a juíza Ann Donnelly, que considerou a sentença “dissuasiva tanto para Robert Kelly quanto para outros”.

“Esperemos que a sentença de hoje aporte certo nível de conforto e reparação às vítimas, entre elas as que corajosamente testemunharam no julgamento e sirva como um reconhecimento de que suas vozes merecem ser ouvidas e suas vidas importam”, disse o promotor do tribunal federal do Broolkyn, Breon Peace, ao comentar a sentença.

Além da condenação, que o fará passar praticamente o resto de seus dias atrás das grades, a juíza também ordenou que o cantor seja submetido a um tratamento para distúrbios sexuais e psicológicos.

Donnelly convocou outra audiência em 28 de setembro para definir a multa que terá que pagar às vítimas em vista do estado de suas finanças.

Após anos de rumores de abusos sexuais contra mulheres e menores, em 27 de setembro passado, um júri de Nova York o declarou culpado de onze acusações, entre elas a de crime organizado.

Sua advogada, Jennifer Bonjean, disse à juíza que seu cliente era “produto de uma infância caótica”, vítima de abusos sexuais, com problemas de aprendizagem e assédio.

“O senhor Kelly nega ser o monstro” que as vítimas e a mídia fizeram dele, disse Bonjean, ao pedir uma pena mais branda tendo este contexto em mente.

“Predador sexual”

Para a promotoria, Kelly “era um predador sexual”.

“Criou um círculo próximo que fez as vítimas acreditarem que eram sua propriedade” e “controlava todos os seus movimentos” ou “com quem tinham que falar”, disse a promotora Elisabeth Geddes.

“As fez ter sexo com outras mulheres e outros homens” e se tentassem abandoná-lo, adotava “represálias” ou as “assediava nas redes sociais”, acrescentou a promotora, lamentando que o acusado “não tenha reconhecido nenhuma responsabilidade e continue propagando que não fez nada de errado”.

Vestindo roupa de presidiário e acompanhado de duas advogadas, o condenado teve que escutar mais uma vez as experiências de várias vítimas, algumas aos prantos e com a voz embargada, que o descreveram como um “manipulador”, “controlador” e “abusador”, que destruiu suas vidas.

As histórias das acusadoras demonstraram um padrão de conduta: muitas disseram ter conhecido o cantor em shows ou apresentações em centros comerciais, e que sua equipe entregou a elas papeizinhos com o contato de Kelly.

Em troca, recebiam a promessa de que ele as ajudaria em sua carreira musical.

O marco do #MeToo

A prova principal da acusação é o relacionamento que Kelly manteve com a cantora Aaliyah.

Kelly compôs e produziu seu primeiro álbum – “Age Ain’t Nothin’ But A Number” – antes de se casar ilegalmente com a artista quando ela tinha apenas 15 anos, temendo tê-la engravidado.

Um ex-representante admitiu em juízo que subornou um funcionário para obter documentos falsos que permitissem à moça se casar – um casamento que depois foi anulado.

Muitos acham que a condenação de Kelly em Nova York não pode ser entendida sem o movimento #MeToo. Foi o primeiro julgamento sobre abusos sexuais no qual a maioria das denunciantes foram mulheres negras.

A condenação desta quarta-feira não porá fim aos problemas do cantor com a justiça. Está previsto para 15 de agosto o início de outro julgamento em um tribunal de Chicago, onde Kelly e dois colaboradores são acusados de manipular um julgamento de 2008 por pornografia e ocultar anos de abusos de menores.

O cantor também tem contas pendentes com a justiça em outros dois estados.

 

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.